Fernando, ahora nos volviste a ilusionar

Matilde PinholMarço 12, 20234min0

Fernando, ahora nos volviste a ilusionar

Matilde PinholMarço 12, 20234min0
Um 3º lugar, uma corrida de sonho, e um início promissor: Fernando Alonso entra a abrir em 2023 e Matilde Pinhol explica o peso deste pódio do espanhol

(Recomenda-se a leitura deste artigo ao som de El Nano de Melendi)

Corria o verão de 2022. Sebastian Vettel, tetracampeão do campeonato de F1 pela RedBull, anunciava a sua retirada do paddock, deixando uma vaga no monolugar da equipa da Aston Martin. O que poucos conseguiriam prever é que a mesma seria ocupada por Fernando Alonso. Num primeiro momento, esta parecia mais uma jogada pouco certeira do piloto espanhol, já que a equipa de Lawrence Stroll nunca tinha ido para além do 7º lugar no campeonato de construtores.

Depois de anos a lutar por títulos na Ferrari, o regresso à McLaren em 2015 viria a ser um choque para Alonso, indo para uma equipa com um carro que não lhe permitia sonhar por lugares no pódio. A ida para a Alpine (ex-Renault) em 2020 não seria muito diferente, apesar de ter conseguido um 3.º lugar no Grande Prémio (GP) do Qatar em 2021. Contudo, aquilo que pudemos assistir na primeira corrida de 2023 parece dizer-nos algo diferente. A Aston Martin foi capaz de competir com as equipas de topo durante todo o fim-de-semana, conseguindo um 3.º (Fernando Alonso) e 6.º (Lance Stroll) lugar no domingo, bem como um 2º lugar nos construtores, imediatamente atrás da atual campeã, a RedBull.

Alonso não esconde que é necessário correr algum risco quando se tomam decisões na F1. No seu caso em concreto, foram as perspetivas competitivas para o futuro, a elevada capacidade para investir no aprimoramento do carro e o know-how que o aliciariam a juntar-se ao projeto, confiando que valeria a pena a mudança arrojada. Talvez numa nova equipa pudesse ter uma melhor relação com o chefe de equipa, contrariamente à que aparentava ter com Otmar Szafnauer na Alpine, não se sentindo acolhido, nem que depositavam confiança no seu trabalho. A sua saída foi um tanto controversa, deixando expectantes milhares de fãs em Espanha e em todo o Mundo sobre o que o futuro d’el Nano (alcunha dada a Fernando Alonso) reservava para 2023.

Chegados os testes da pré-temporada, o carro da Aston Martin surpreendeu uma larga maioria pela positiva, dando a esperança de que os alonsistas necessitavam para passar por uma época especialmente longa e que inicialmente se limitava a acreditar que estaria a lutar por posições na zona média da grelha.

Apesar disso, o espanhol quis manter os pés na terra e não tomar como absolutos os resultados obtidos, dando o exemplo da pré-temporada de 2022 com a anterior equipa, a qual marcou o início da implementação das novas regulamentações, onde tanto ficaram em 4.º como o 10.º lugar. Mike Krack posicionou-se do lado do bicampeão mundial, acrescentando que o próprio circuito de Bahrain favorecia o AMR23. Mesmo com o excelente início de campeonato de Alonso, o qual permite-nos sonhar com uma possível 33ª vitória sua, há que apelar ao lado mais racional e saber gerir expectativas, isto porque existem ainda inúmeros corridas pela frente e, com cada equipa a ter de agilizar o tempo limitado que tem para desenvolver o carro, o qual varia consoante o posicionamento no campeonato de construtores do ano anterior, poderemos vir a ser (des)agradavelmente surpreendidos num futuro próximo.

Ainda poderemos acrescentar fatores como o facto de a pista favorecer ou não o carro, o próprio talento do piloto, as condições meteorológicas ou até mesmo a existência de uma estratégia bem delineada. Apesar disto, é impossível não achar emocionante a maneira como o asturiano deu luta a Lewis Hamilton e a Carlos Sainz, sendo um gosto imenso poder vê-lo novamente a competir num carro capaz de extrair as suas maiores qualidades. Ao contrário de outros desportos, na F1 não basta ter nascido com um talento nato, é preciso que o monolugar esteja à altura.

Assim, Fernando Alonso é capaz de provar-nos que não há idade para estar na F1, muito menos para regressar. Por mais que a idade tenha a sua inevitável influência (mesmo que atingindo as pessoas de maneira distinta), considero que nesta situação se trata apenas de dois dígitos num bilhete de identidade.

Além de continuar a treinar sem limitações, consegue manter vivo o entusiasmo pela modalidade que o deu a conhecer ao Mundo, bem como a vontade de estudar afincadamente cada pormenor para garantir que será o melhor ou, pelo menos, um dos melhores. Provavelmente nada disto fará parte do El Plan, mas entro para esta temporada com a ilusão de que poderei assistir ao Alonso dos tempos da Renault e da Ferrari, os quais, por ser tão nova e faltar-me interesse, não dei o devido valor na época.


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