Considerações sobre a largada do basquete universitário pt.2

Lucas PachecoDezembro 15, 20246min0

Considerações sobre a largada do basquete universitário pt.2

Lucas PachecoDezembro 15, 20246min0
Lucas Pacheco continua com a análise ao que se passa na NCAA, mais concretamente com a liga de basquetebol universitário feminino

Como prometido na semana passada, voltamos a falar da primeira etapa do calendário da NCAA, a liga de basquete universitário feminino, destacando algumas equipes. Importante ressalva: essa fase, chamada de non-conference, é de livre escolha de cada universidade, cada qual escolhe suas adversárias (fora da conferência) conforme lhe apraz. Algumas impressões, e os resultados, desta fase podem não se confirmar.

LSU, por exemplo, desde que Kim Mulkey assumiu as rédeas do programa, monta calendários fracos na fase pré-conferência. A temporada marca o início da era pós-Angel Reese; pelos primeiras jogos, nada que prejudique a identidade dos times de Mulkey. No ótimo jogo contra Stanford (exceção à regra), já vimos a cara da equipe. Pode-se acusar o estilo de anacrônico, lento, cadenciado ao extremo, pesado, não os resultados.

Contra Stanford, a defesa ainda não esteve em seu melhor dia, mas sem a intensidade e a disposição típicas, LSU não conseguiria empatar no último minuto do tempo regulamentar. Sim, a vitória veio na prorrogação, graças ao talento de Mikaylah Williams: um pouco escondida no Mulkeyball, ela é mais uma da classe de segundo-anistas a mostrar lapsos de genialidade. Adicione a arisca Kailyn Gilbert e a cada vez melhor e excelente prospecto Flau’Jae Johnson – está formado um perímetro capaz de sonhar com Final Four e, quiçá, título nacional. Mulkey ainda fez um ajuste essencial para a vitória sobre Stanford, ao adotar um small ball, com liberdade para Aneesah Morrow operar no garrafão. Não duvide de Kim Mulkey.

A universidade derrotada também passa por reformulação, após a aposentadoria de Tara VanDerVeer, técnica histórica do basquete estadunidense. Stanford não deve disputar título, porém a manutenção do mesmo estilo de jogo surpreendeu, com evolução lenta e gradual, porém consistente, de jogadoras do elenco. Olho para a pivô Nunu Agara, sucessora de Kiki Iriafen, transferida para USC.

Por falar em novas eras, outra universidade a promover uma assistente técnica para o lugar de uma técnica lendária é Iowa, finalista nos dois últimos torneios. Lisa Bluder cedeu lugar a Jan Jensen – menos que em Stanford, ainda que notemos algumas permanências. A começar pelo abandono da indefectível defesa zona de Bluder em favor de uma individual mais pressionada de Jensen. Ótimo sinal! A rotação mais arejada e ampla ainda vai sofrer ajuste, mas oxigenou um estilo muito centrado no poderio ofensivo de Caitlin Clark. A transferência de Lucy Olsen cobriu partes do playmaking de Clark: se Iowa perdeu a cestinha da temporada passada, repôs com a terceira.

As pivôs pesadas permanecem lá, e seguem pontuando com excelente jogo de poste baixo e de pés. Para os brasileiros, os holofotes sobre a armadora Aaliyah Guyton, caloura armadora do banco, filha da lendária Adrianinha. Voltando de grave contusão, ela ganha confiança a cada partida, com muito potencial a ser explorado e descoberto. A campanha traz esperança, ainda que atingir o Final Four novamente pareça distante no momento.

O time sofre contra equipes atléticas e enérgicas. A envergadura e mobilidade de Tennessee foram responsáveis pela derrota solitária de Iowa até aqui. Não se engane: a universidade já se recuperou e venceu o clássico estadual contra Iowa State.

(Deixemos, por ora, a tradicionalíssima Tennessee, outra a inaugurar uma nova era em sua história. Os resultados têm animado, com pressão quadra toda, run and gun, muitos chutes de três e vitórias. A amostra é pequena e carece de adversários mais atléticos e poderosos – contra equipes mais estruturadas, a correria pode não ser suficiente, bem como para reconduzir a universidade à elite da NCAA.)

Passado o tópico das universidades reformuladas, falemos de uma boa surpresa da temporada: a nova versão de Duke. O programa tomara uma decisão alguns anos atrás de contratar alguém para muitos anos, uma figura capaz de recrutar, treinar e inspirar; Kara Lawson não traduziu seus atributos nas primeiras temporadas em Duke, ou melhor, o caminho mostrou-se mais longo que esperado. Impossível não elogiar o sistema defensivo da equipe desde o dia 1 de Lawson; espanto oposto ao produzido pelo ataque programado em excesso.

De repente, este ano, continuando a recrutar classes muito bem ranqueadas, a ficha mudou: sobre a sólida base defensiva, apareceu um ataque mais solto, que possibilita mais liberdade às potências individuais, com mais chute, mais variedade. Duke passou de um time inassistível para um imperdível. Veja esse duelo contra outra equipe de mentalidade total ofensiva, Oklahoma, outra partida com prorrogação e bola decisiva no estouro do cronômetro.

Tão impressionante quanto essa vitória, foi a derrota suada contra South Carolina. O time sofreu um soco direto no começo do jogo, foi às cordas, mas soube se recuperar, mantendo a compostura para voltar a equilibrar e se aproximar no placar. Isso contra as atuais campeãs e favoritas à final. Duke está com cara daqueles azarões que chegam no silêncio e com ímpeto para destronar favoritas.

Esse texto está ficando longo; antes que caia na tentação de planejar a parte 3 (Kentucky – outro reformulado, Louisville, Oklahoma, Iowa State – começamos a parte 1 falando de equilíbrio), precisamos falar de Uconn, a universidade mais vitoriosa da história, que possui a indubitável escolha 1 no próximo draft da WNBA, a genial Paige Bueckers. Desde a maldição de Candace Parker, Uconn sofre com lesões, afastando o troféu.

A profundidade do elenco atual tem compensado, até aqui, as contusões e afastamentos já vistos na temporada. Ayanna Patterson, Carolina Ducharme e Aubrey Griffin seguem fora; Azzi Fudd se machucou no penúltimo jogo e deve ficar fora por um mês. Por outro lado, a adição de Sarah Strong, promessa número 1 egressa do high school, uma parceria ideal para Bueckers. Claramente a equipe precisa evoluir e Geno Auriemma ainda não achou a formação ideal, mas não se engane: Uconn vai brigar por título, esteja quem estiver em quadra.

Tampouco se engane pela derrota para Notre Dame.Trata-se de um clássico, de uma das poucas equipes com camisa para disputar contra Uconn, em uma versão com cara de vitória. O perímetro de Olivia Miles, Hannah Hidalgo e Sonia Citron replica a versão campeã em 2018 (Jackie Young, Arike Ogunbowale e Marina Mabrey); para vencer um desfalcado Uconn, Hidalgo precisou repetir uma atuação exorbitante. Sarah Strong evolui a cada jogo, ganhando confiança em seus ataques para a cesta quicando bola, assim com com seu exímio jogo de pés e excelente chute de três. Paige segue sendo Paige; quando as peças acessórias encaixarem, o futuro deve brilhar para Uconn.


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