Os play-ins da Euroliga, com 4 equipes definidas no Final Six

Lucas PachecoFevereiro 2, 20256min0

Os play-ins da Euroliga, com 4 equipes definidas no Final Six

Lucas PachecoFevereiro 2, 20256min0
Lucas Pacheco olha para os play-ins da Euroliga 2025 e quem está no mix para esta fase da competição do basquetebol feminino europeu

Chegamos à fase mais atrativa da Euroliga, quando a competição afunila e definem-se os duelos eliminatórios. Este ano, a mudança no formato impactou os duelos: se antes tínhamos as quartas-de-final no modelo clássico, com cruzamento dos grupos entre 1ª x 4ª e 2ª x 3ª e classificação das quatro vencedoras ao Final Four, em 2025 dois dos duelos não serão eliminatórios, assegurando vaga direta na semi-final às duas vencedoras e uma partida adicional para as duas perdedoras. Afinal, o torneio foi alterado para contemplar seis equipes na reta final.

O novo formato da Euroliga alterou, ainda, os cruzamentos, com 1ª x 2ª do outro grupo, valendo vaga antecipada na semi-final. Como antecipamos (Euroliga se aproxima da etapa decisiva), Mersin x Valencia jogarão duas vezes, assim como Fenerbahçe x Schio. A equipe italiana disputava a segunda posição, na última rodada do grupo E, contra o Bourges, em confronto direto. As expectativas foram correspondidas e testemunhamos uma grande partida.

O Schio oscilou ao longo da Euroliga, com adições importantes no transcorrer da competição. Mas o time soube manter a compostura e recuperar o padrão tático característico, mesmo após algumas derrotas acachapantes. Na armação, Constanza Verona reveza com Ivana Dojkic, ambas exímias condutoras de pick-and-roll e apreciadoras de atacar linhas de infiltração; a parceria com as pivôs Jasmine Keys, Olbis Andre e Dorka Juhasz abre espaço para cortes à cesta ou para abrir na linha de três e chutar de longe.

Dojkic e Juhasz viraram as titulares, sem deturpar o padrão tático do time. O ajuste exigido por essas mudanças reflete-se na defesa, num sistema de peso e contrapeso a cargo do técnico Georgios Dikaioulakos. Num primeiro momento, a defesa descompensou; nas rodadas finais do grupo, porém, Juhasz mostrou-se capaz de combater no perímetro e, ao mesmo tempo, fechar o garrafão. Não à toa, na vitória por 12 pontos sobre o Bourges (72 x 84), ela saiu com o maior plus minus, +18.

A preocupação com a defesa decorre, também, do desequilíbrio entre suas duas alas. Se Janele Salaun é uma das melhores defensoras da competição, Kitija Laksa é uma vulnerabilidade que precisa ser escondida na defesa. Daí a importância do acerto fino nas rotações – com Dojkic e Laksa juntas, as demais precisam compensar na defesa e Juhasz tem feito com maestria essa tarefa.

Sem dúvida, Dikaioulakos foi feliz no planejamento da equipe e no ajuste durante a competição. Uma equipe com menos estrelas que em edições anteriores, montada com mescla de experiência das jogadoras nacionais e aposta em novas protagonistas, tornou-se candidata a surpresas e assegurou vaga no Final Six com antecedência. Difícil imaginar vitória sobre o Fenerbahçe, duelo que poderá se repetir na final – em uma partida isolada, tudo pode acontecer.

Ninguém exemplifica mais a temporada do Schio que a ala letã Kitija Laksa. Arremessadora de elite, ela surgiu na base e atraiu olhares curiosos, mas a sequência no adulto não correspondeu às expectativas iniciais. Ela rodou por diversos clubes, sem se consolidar, ocupando espaço marginal na rotação devido às lacunas do jogo – sem pontuar aos montes de três, sua minutagem era comprometida. No Schio, Dikaioulakos implantou um sistema de movimentação sem a bola privilegiando as alas; Laksa despontou e tornou-se a bússola do time. Quando ela vai bem, o time cresce; quando ela é atacada na defesa, a equipe despenca diversos degraus.

Contra o Bourges, foi quem mais arremessou para o Schio. Mesmo com aproveitamento baixo, sua gravidade abre linhas para as companheiras. Nos dois duelos contra as francesas, o time soube sair de situações ruins e sequências negativas e fechar as partidas (duas vitórias essenciais para a vaga no Final Six) de forma primorosa. Na Itália, a parcial do 4Q foi 27 x 9 (vitória por 5 pontos); na França, parcial de 26 x 10.

As doídas derrotas jogaram o Bourges para a terceira posição do grupo E e para o play in das quartas-de-final, em duelo eliminatório contra o perigosíssimo Zaragoza, quarto colocado no grupo F. Deverá ser o principal confronto dessa fase e eliminará uma boa equipe (qualquer que seja) da competição. Bourges foi outra a construir uma identidade tática sem grandes estrelas no elenco. A pivô Kariata Diaby explora o jogo de costas pra cesta, com força e usando contato; como wings que espaçam a quadra, a grega Artemis Spanou e a nigeriana Amy Okonkwo, aquela mais comprometida na defesa, esta com responsabilidade de atacar a cesta e pontuar em profusão.

Na armação, Morgan Green compartilha a função com a maestra do time, a armadora Pauline Astier. Em sua primeira Euroliga com minutagem expressiva, Astier aos 23 anos tornou-se protagonista e a principal peça da engrenagem do técnico Olivier Lafargue.

De certa forma, a estrutura de Bourges assemelha-se à de seu próximo rival; o Zaragoza de Carlos Cantero também isola uma pivozona no garrafão, para jogar no poste baixo ou atacando o aro a partir do pick and roll (Markeisha Gaitling). A seu lado, duas wings móveis que espaçam a quadra (Ellen Nystrom e Stephanie Mawuli, esta com mais liberdade para atacar a partir do drible) e uma armadora cerebral, a comandante do time em quadra. Mariona Ortiz é a constante entre a surpreendente temporada passada e a atual; tudo passa por ela, cujo estilo cadenciado dita o ritmo.

Zaragoza fez o outro grande jogo da última rodada do grupo F. Em confronto direto pela segunda posição do grupo, as espanholas viajaram a Praga; a conta era simples: as mandantes precisavam vencer para igualar a campanha. Para superar no critério desempate desta Euroliga, a vitória precisava ser por 6 pontos (na ida, Zaragoza venceu por 5 pontos, 73 x 68).

Após os 5 minutos iniciais de equilíbrio, as tchecas abriram vantagem e dominaram o jogo até o 4Q, chegando a abrir 20 pontos de diferença. O desfalque de Maria Conde foi compensado pelo retorno de Teja Oblak (16 pontos e 55%). Parecia que estava definido, até que Zarazoga encaixou os arremessos no 4Q e encostou, reduzindo a diferença para 4 pontos a poucos segundos do fim. A equipe espanhola teve chance de reduzir ainda mais, mas Mawuli errou um arremesso não contestado da linha do lance livre; na sequência, Praga atacou a formação sem pivô de Zaragoza e Emese Hof ampliou para 6 pontos a diferença, graças a um belo giro de costas pra cesta.

Mawuli teve novamente a chance de pontuar, o que deixaria o desempate do lado espanhol. Novamente ela errou, desta vez uma bandeija, selando a quarta posição no grupo. Isso jogou Zaragoza para um confronto bem mais difícil no play in das quartas-de-final.

Praga ficou na terceira posição no grupo e duelará contra o Landes, equipe bem cadenciada e de poucas fagulhas capazes de mudar o rumo de um jogo. As tchecas contam com a tradição, o peso da camisa e um time bem mais talentoso que suas adversárias. A presença no Final Six parece destinada à equipe tcheca. Os play-ins ocorrem nos dias 19 e 26 de fevereiro.


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