O longo caminho do basquete feminino brasileiro rumo às Olimpíadas pt.2
Após o árduo caminho para chegar às Olimpíadas, era hora de se estabelecer e consolidar. As dificuldades para se classificar prepararam o espírito da geração, calejada para alçar voos grandiosos nas competições mundiais.
1992
A estreia em Olimpíadas não foi como o esperado. Embora contasse com um grupo bem rodado e entrosado, a seleção era novata no palco das Olimpíadas. O formato com apenas 8 equipes transformava a competição num torneio de tiro curto e cada jogo, uma final antecipada. No grupo do Brasil, vitória tranquila sobre a Itália e derrotas para as duas seleções classificadas às semifinais: para as herdeiras da URSS (em dissolução do bloco soviético, foi montada uma seleção das várias repúblicas, a qual se sagraria campeã) e para Cuba, arquirrival continental.
1996
A ampliação para 16 participantes possibilitou a adoção do formato que vigorou até edição de 2016 (Rio). Com a vaga garantida devido ao título mundial de 94, sem preocupação com qualificatório, os jogos de Atlanta coroaram a geração liderada por Paula e Hortência, culminando na medalha de prata após o único revés do Brasil na competição, perante as anfitriãs (87 x 111). Os EUA nutriam um sentimento de revanche pelo Mundial de 94 e se prepararam por 1 ano inteiro, com objetivo de reconquistar o topo. Deu certo e ouro abriu as portas para a implantação da WNBA, capítulo crucial na história da modalidade.
FOTO – 96
2000
Para os Jogos de Sidney, o Brasil voltou às qualificatórias olímpicas, com um sistema diferente de classificação, a qual se deu por continentes, com reserva de 3 vagas para a América (sem contar os EUA, então campeã mundial). Assim, em 1999, em Cuba, o Brasil precisou alcançar a final, quando ficou com o vice da Americup após derrota para as anfitriãs na final (87 x 90). Passaporte carimbado para dali a 1 ano e meio, data daquela edição. A facilidade no classificatório não se traduziu para as Olimpíadas, a seleção brasileira fez uma fase de grupos periclitante e flertou com a eliminação precoce; a campanha de 2v e 3d deixou o Brasil na terceira posição do grupo, graças aos critérios de desempate, reservando um duro confronto nas quartas.
Ninguém menos que a Rússia, com uma geração nova que buscava retomar a hegemonia no basquete feminino após a dissolução da URSS – partida eletrizante, decidida na posse final, com direito a erro de arbitragem e muita emoção: 68 x 67, graças a uma cesta da pivô Alessandra.
A busca pelo pódio seguiu na semifinal, onde sofremos uma esperada derrota para as favoritas australianas (o fenômeno Lauren Jackson disputava sua primeira Olimpíada, aos 19 anos). Na disputa do bronze, outro teste para cardíacos: vitória por 84 x 73 na prorrogação contra a Coréia do Sul. Medalha de bronze no peito (a segunda em três participações nos Jogos), mesmo sem as estrelas das décadas anteriores, devidamente substituídas por Janeth (cestinha do torneio, 20,5 ppj) e Alessandra. Menos brilho, suficiente porém para a manutenção do Brasil no pódio.
2004
Como formato semelhante, a classificação à edição de Atenas deu-se por continentes, com reserva de apenas 1 vaga para a América (além dos EUA, então campeã mundial). Assim, em 2003, no México, o Brasil sagrou-se campeão da Americup após revanche sobre as cubanas na final (90 x 81) e carimbou o passaporte para Atenas. Pouco menos de 1 ano depois, já na Grécia, desta vez passamos sem sustos pela fase de grupos, fechando na terceira posição com 3v e 2d. Outro duelo difícil nos esperava nas quartas – a Espanha, derrotada somente pelos EUA na fase de grupos. Prevaleceu a experiência em jogos decisivos e as brasileiras avançaram à semi-final com vitória por 67 x 63. Dessa vez, entretanto, perdemos novamente para a Austrália na semi e, na disputa do bronze, saímos derrotados para a Rússia. A colocação final, a honrosa quarta posição, não deixou de suscitar um gosto amargo. Os ares começavam a mudar e voltávamos a navegar em mares tormentosos – nessa toada, os torneios qualificatórios voltariam a marcar imensas dificuldades.
2008
Para chegar a Pequim, precisaríamos passar por outro formato nas qualificatórias: foram mantidas as vagas automáticas para o país sede e para as atuais campeãs mundiais, além dos cinco campeões continentais. Para as cinco vagas restantes, um torneio pré-olímpico mundial. Como os EUA perderam o ouro no Mundial de 2006, buscaram a vaga com o título da Copa América de 2007 e empurraram o Brasil para o pré mundial. Prova de que o basquete nacional regredira aos tempos pré-Barcelona/92, o torneio foi marcado por resultados dentro do previsto e muita confusão. Na primeira chance de carimbar a vaga, derrota dolorida para Belarus, na prorrogação, por 79 x 86, em uma partida em que nossa principal jogadora (a ala Iziane) se recusou a retornar à quadra. Ao negar a ordem do técnico Paulo Bassul, acabou gerando seu corte do elenco e a necessidade de mais dois jogos para avançar aos Jogos.
Felizmente, tivemos pelo caminho a fraca Angola, vencida com facilidade, e, na partida do tudo ou nada, vencemos a decadente Cuba por 72 x 67. Ficamos com a vaga, mesmo sem grandes referências técnicas (Janeth e Alessandra não mais faziam parte da seleção), mantendo a sequência de participações nas Olimpíadas para a modalidade. Infelizmente, o sarrafo subira e a obtenção da vaga olímpica passou a ser o maior mérito de uma seleção até então com lugar cativo no pódio olímpico. Desde que entrou na fase descendente, marcada pela penúltima posição na edição de Pequim, com apenas 1v e 4d, a seleção brasileira de basquete feminino vive o ostracismo dos capítulos mais infelizes da história – a ausência de resultados contrasta com um passado recente glorioso. Mas aí são outras histórias, para o próximo texto, com tom mais pessimista e triste.