Liga de Basquete Feminino do Brasil engata a toda velocidade

Lucas PachecoMaio 19, 20227min0

Liga de Basquete Feminino do Brasil engata a toda velocidade

Lucas PachecoMaio 19, 20227min0
Lucas Pacheco põe-nos a par do que se passa na Liga de Basquete Feminino do Brasil, com algumas surpresas nos resultados da 4ª jornada

O turno da fase regular da Liga de Basquete Feminino transcorreu sem grandes surpresas, com os resultados – e a classificação – refletindo as expectativas prévias ao campeonato. No topo, Sampaio Corrêa e Sesi Araraquara, seguidos por um segundo pelotão liderado por Blumenau e Santo André; no fundo, Pró-Esporte Sorocaba e Bax Catanduva fora dos playoffs. Entre esses blocos, bem definidos, tudo embolado e imprevisível.

Nada como o returno para borrar essas fronteiras e confundir todos os prognósticos. Parte disso deve-se ao calendário da liga, realizada em contraturno ao europeu – muitas jogadoras egressas da Europa (a maioria de Portugal) reforçaram suas equipes e mudaram a cara do torneio. Na última semana, presenciamos um tanto de surpresas e outro tanto de bons jogos. Que tal falar de quatro dessas partidas?

Vera Cruz Campinas 68 x 53 Sesi Araraquara

Um jogo de corridas, sagrando vencedora a equipe cujas reservas produziram mais. Duas das “bancárias”, inclusive, faziam sua estreia na competição, após finalizarem suas temporadas europeias: Izabella Sangalli, vindo do espanhol Jairis (onde faturou o título da divisão de acesso), e a pivô Licinara Bispo, oriunda do União Sportiva, onde foi vice-campeã portuguesa. Ambas, junto com a armadora Marquita Daniels, foram essenciais para dar novo ânimo às titulares, que não começaram bem. Os pontos a favor/contra das três ao final do confronto é auto-explicativo: + 21 para Marquita, +20 para Licinara e +12 para Iza Sangalli.

O Sesi abriu logo de cara e a resposta veio após a entrada de Marquita, trazendo o fôlego ofensivo necessário. Assumindo o ritmo da partida, as anfitriãs abriram mas deixaram as adversárias encostarem no final do 2Q. Na volta do intervalo, a dinâmica espelhou a primeira metade e novamente o Vera Cruz teve que correr atrás para recuperar a vantagem. Porém, desta vez, o Sesi Araquara não teve força e viu o déficit aumentar cada vez mais. No final, a líder do torneio viu sua invencibilidade cair, com uma produção ofensiva muito abaixo da média de 79 pontos e pífio aproveitamento das bolas de três (9%, 2/21).

Nem a chegada da ala-pivô Jeanne Morais, ainda se entrosando, foi suficiente para o Sesi, que sentiu muita falta de sua armadora reserva, Beatriz Aneas, contundida.
Licinara acabou coroada como a MVP da partida, logo em sua re-estreia, com 14 pontos, 10 rebotes e 19 de eficiência. Campinas vinga a derrota do turno (89 x 68) e passa a sonhar com vôos mais altos – a profundidade do elenco será fundamental para atingir esse objetivo, como demonstrado nesta partida.

Sodiê Doces/Mesquita/LSB 85 x 75 Sampaio Corrêa

Após a derrota da líder na noite anterior, era a chance de ouro para o Sampaio empatar na liderança. As maranhenses precisavam vencer, fora de casa, uma equipe instável, vinda de derrota em casa para o Sport. Elas não contavam com a atuação histórica da ala Thayná Silva: 34 pontos (11/17), 14 rebotes, 5 assistências, 4 roubos e 2 tocos. Os 48 de eficiência marcaram o recorde histórico da LBF.

A vitória foi assegurada de forma surpreendente: a equipe encontrava dificuldade em repetir a intensidade da temporada passada, a qual gerava muitos contra-ataques e impunha velocidade impressionante. Com menos opções no elenco, a equipe não conseguira repetir esse desempenho na atual temporada. Pelo menos, até essa partida. Foram 25 pontos de contra-ataque, contra 11 das rivais; 26 pontos do banco, contra 7 do Sampaio; 44 pontos no garrafão, contra 20 das maranhenses. Lideradas pela Thayná (MVP da temporada passada), as mesquitenses conquistaram importante vitória, capaz de recolocar a equipe no rol das favoritas.

Pelo lado do Sampaio, ficou evidente que o técnico Rodrigo Galego precisa de mais tempo para absorver as recém-chegadas Tainá Paixão (após passagem na Itália) e Alana Gonçalo (egressa do Melilla, da terceira divisão espanhola) ao padrão tático. A equipe demorou a encontrar suas características bolas longas e sentiu falta de mais opções para o garrafão. Sem tempo para treinos, a equipe voltaria à quadra dois dias depois em busca da recuperação.

Unisociesc/Blumenau 79 x 91 Sampaio Corrêa

A melhor partida do torneio até o momento, decidida na prorrogação. É difícil descrever um jogo tão bem disputado, com tanto equilíbrio e alternância no placar – mereceria um texto a parte. De um lado, o maior investimento do campeonato, cuja equipe busca ainda o melhor entrosamento; do outro, as vice-campeãs do ano passado, que mantiveram grande parte do elenco e deram oportunidade para a então assistente técnica assumir o comando. E a Bruna Rodrigues, única técnica mulher da liga, vem fazendo um trabalho magnífico, mantendo o padrão tático.
Aliás, o duelo dos técnicos mereceu menção até mesmo do técnico da seleção feminina brasileira:

Rodrigo Galego ainda tem mais peças a chegar – a dinamarquesa Sofie Tryggedsson e a estrela Érika de Souza (MVP da fase final da divisão de acesso espanhola pelo Jairis). Ainda assim, seu trabalho chama atenção pela atenção aos pequenos detalhes, à defesa e pelo estilo moderno. No duelo em Blumenau, ele conseguiu em dois dias melhorar a produção de todas as jogadoras da rotação, em especial para a ala Patty (24 pontos, 9/13, 28 de eficiência e +19) e para a armadora Jennifer O’neill (27 pontos).

Bruna também vem lidando com adversidades, com algumas jogadoras machucadas. Especialmente nesta partida, ela não contou com Mari Camargo, Karina Jacob e Kawanni Firmino e, mesmo assim, a equipe desempenhou muito bem em quadra. A chegada recente da armadora Maria Paula Albiero (após encerrar sua carreira universitária pela renomada BYU) ajuda muito – em apenas duas partidas, a armadora já chama a atenção pela inteligência, liderança e defesa. Mesmo a pontuação, área em que ela não se destacava na universidade, aflorou – ela fechou o confronto com 22 pontos.

Vitória Marcelino flertou com um triplo-duplo (18 pontos, 14 rebotes, 7 assistências) e Leila Zabani teve a maior pontuação de sua carreira na LBF (27 pontos e 32 de eficiência). Mas, no fim, o time sentiu as ausências, potencializadas pelas eliminações por falta de Sil, Luana e Tati Castro.

Santo André 68 x 67 Ituano

Se esta partida não teve a mesma qualidade do jogo anterior, não faltou emoção e reviravolta. Foi uma partida com muitos erros, baixos aproveitamentos, aceleração excessiva e pouca rotação. Santo André largou na frente e o Ituano virou contando principalmente com seu perímetro. Até a metade do último quarto, as visitantes mantinham uma distância segura, entre 8 e 10 pontos a frente.

Surpreendentemente, o técnico do Santo André (Rafael Choco) veio para o último quarto sem a cubana Ariadna, com péssima aproveitamento, substituída pela jovem Stephany Gonçalves. Ele optou por quintetos mais altos (Sassá, Glenda e Bianca Araújo) e a equipe foi se encontrando aos poucos, trabalhando mais suas posses de bola. O Ituano respondia com os chutes longos de Tati Pacheco e se segurava como podia no garrafão, desfalcado das duas titulares. Deu certo até os últimos 5 min de jogo.

Mesmo diminuindo o alto volume de jogo da Sassá (outra forte concorrente ao prêmio de MVP da temporada), o Ituano não conseguiu segurar a vantagem arduamente construída. O lance decisivo, que determinou a virada e a vitória andreense, teve dedo do Choco:

Um primor a jogada! Santo André conquista a segunda vitória sobre o Ituano, ambas com margem pequena. Não convém descartar o Ituano – os resultados não refletem a qualidade do time, ainda esperando a estreia da Rapha Monteiro (após conquistar o título português pelo Benfica e faturar o MPV das finais).

Vale lembrar que a LBF tem transmissão gratuita pela NSports, a qual disponibiliza todas as partidas, inclusive as anteriores. Basta fazer um cadastro e ter acesso a todo o torneio. O duelo das duas líderes ocorre esta semana: Sampaio x Sesi Araraquara jogam no dia 18.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS