Desejos para o basquete feminino em 2024
Final de ano é momento de balanço, quando avaliamos o que passou e projetamos expectativas e desejos para o vindouro. Nada melhor do que montar uma lista de desejos para 2024, referente ao basquete feminino, tema desta coluna. 2023 trouxe muito basquete, como sói acontecer, de qualidade alta e alguns títulos bem ansiados por este que vos escreve; os êxitos não deixam de criar ainda mais expectativas e o ano, já recheado dos torneios de clubes e universidades, terá ainda as Olimpíadas de Paris. Partamos, sem mais delongas, à lista, despedindo-nos de 2023 com muito agradecimento pelas colunas semanais aqui publicadas (Fair Play nunca decepciona, ano após ano com ótimos textos esportivos).
Basquete brasileiro
Quem me acompanha, sabe as agruras que passo e o cenário cada vez menor do basquete feminino brasileiro. Cada sopro de sucesso carrega consigo um vendaval de derrotas e desânimos: logo após comemorarmos o título sulamericano sub-17, com um conjunto bem melhor treinado, e mais uma edição do Campeonato Brasileiro sub-23, testemunhamos o encerramento do projeto mais consolidado da base. O banco Bradesco decidiu retirar o patrocínio do projeto em Osasco, nos estertores do ano, acabando com o projeto que desenvolveu grande parte do elenco campeão sulamericano.
Após a edição da LBF em 2022 contar com 10 equipes, vimos nova redução para 8 times; técnicos envelhecidos, sem renovação, com elencos desmotivados e mal montados. Imediatamente depois da final, com o título do organizado Sesi Araraquara, caímos ainda mais de nível com um campeonato paulista deplorável, com o único mérito de manter as atletas em atividade.
No basquete brasileiro, principalmente o feminino, para onde se olha os problemas abundam e o investimento escasseia. Anos de péssima gestão, apatia das atletas, competição sobrepondo-se à solidariedade em prol da modalidade, ausência de renovação tática… quase como se a modalidade precisasse ser refundada aqui. Como isso não é possível, todos os atores deveriam de juntar e estruturar um plano de salvação; novamente esbarramos nas brigas intestinas, na luta pelos parcos recursos, no péssimo planejamento das entidades responsáveis, na alienação da força de trabalho.
O basquete feminino corre atrás do próprio rabo há uma boa década e a brincadeira não parece estar perto do fim.
Seriam muitos os desejos para 2024 e em poucas áreas a renovação é tão premente quanto no basquete feminino. Como o esporte no Brasil depende de apoio estatal e a visibilidade puxa apoio privado, o maior desejo para 2024 é a conquista da vaga olímpica. Por certo, os problemas estruturais permaneceriam, porém o mínimo é a presença nos principais torneios. O Brasil é um dos quatro países campeões mundiais na modalidade (dominada pelos EUA) e ostenta medalhas de prata e bronze em Olimpíadas; nossa seleção PRECISA voltar a esse cenário.
A confederação fez sua parte e trouxe o quadrangular classificatório para Belém. O elenco e a comissão técnica conquistaram a Copa América (esvaziada, é verdade, mas ainda assim um título). Em fevereiro, três jogos difíceis definirão se o desejo se cumprirá, ou se passaremos mais quatro anos no ostracismo internacional. Que a classificação olímpica sinalize a chegada de novos tempos (e novos atores) ao basquete feminino brasileiro.
Euroliga
A competição mais longeva do mundo segue em alta, coroando na última edição o Fenerbahçe. Após bater na trave diversas vezes, enfim a equipe turca viu seu investimento produzir conquista e na edição atual (no returno da fase de grupos) o Fenerbahçe é novamente favorito. Mesmo sem a profundidade dos elencos passados, o trio Yvonne Anderson-Kayla McBride-Emma Meesseman parece inigualável no continente.
Um desejo para 2024, a partir de uma experiência muito fugaz vista em 2023, é o retorno de Napheesa Collier à Euroliga. O mercado chinês voltou a abocanhar os principais talentos estadunidenses e o boicote às equipes russas fez o investimento na Euroliga despencar (aliás, que a Fiba reveja a suspensão às equipes russas). Se por um lado vimos o êxodo de jogadoras, por outro pudemos nos surpreender com campanhas inimagináveis, como do time húngaro DVTK Miskolc, vice líder de seu grupo, ou mesmo o estreante Zaragoza.
Equipes bem montadas, estruturadas taticamente, que independem de valores individuais acima da média: talvez este seja o mote da edição atual da Euroliga. Que essas equipes com menos poder aquisitivo consigam atingir o Final Four e, quiçá, nos deixar boquiabertos com uma conquista.
Sob o prisma técnico, uma geração de novos valores deve dominar a Euroliga dentro em breve; processo natural do esporte, de passagem de bastão – Marine Johannes, outrora uma promessa, estabeleceu-se e vê suas sucessoras chegando com todo o ânimo.
Estados Unidos
A WNBA segue em crescimento e torcemos pela continuidade e incremento dos investimentos na liga. Uma nova franquia foi definida, em San Francisco, e há expectativa de novas adições. É peremptório ampliar a quantidade de jogadoras em atividade, possível ou pela inclusão de times ou pelo aumento de vagas em cada elenco.
A cada ano, muitos valores são dispensados devido à exiguidade de vagas e teto salarial. Hoje, ou a jogadora chega pronta e performa imediatamente, ou ela terá que galgar caminhos alternativos e arriscados para retornar à liga. Por falar em novas jogadoras, a classe deste ano do draft promete demais; Caitlin Clark, Paige Bueckers, Cameron Brinck poderiam ser facilmente escolhas número 1 e são apontadas como iminentes franchise players. Que elas façam a transição para o adulto (WNBA) sem mais delongas, fator que elevaria a visibilidade da liga e atrairia ainda mais público.
De um ponto de vista pessoal, não posso deixar de desejar o tricampeonato consecutivo do Las Vegas Aces; após o bi, fato que não acontecia desde 2002, a rivalidade com o New York Liberty deve esquentar e o tri aproximaria o Aces da maior franquia da história da liga, o Houston Comets, que detem 4 títulos consecutivos. Para (re)marcar os nomes de Chelsea Gray, Kelsey Plum, Jackie Young e (a estrela da companhia) A’ja Wilson na história.
E, por falar na A’ja, que tal se a universidade de South Carolina conquistasse seu terceiro título? Em 2017, Wilson conduziu seu time à glória inédita; em 2022, outra pivô estelar, Aliyah Boston, foi a protagonista do bi; em 2024, o elenco (mais coeso e profundo que nesses anos) é capitaneado por outra pivô dominante, a brasileira Kamilla Cardoso. Por que não sonhar com outra título?
O basquete universitário costuma trazer surpresas e neste ano a disputa parece mais equilibrada que nunca. Uconn, Stanford, Iowa, UCLA, LSU, todas com perspectivas reais de título, mas o tri de South Carolina marcaria o fechamento de alguns desejos manifestados acima – com mais um tri-campeonato (tal qual o Aces), e liderado por Kamilla (tal qual no pré-olímpico).
A lista findou mais extensa que planejado, porém a repetição de algumas figuras nos desejos acaba por facilitar sua realização. Que 2024 nos reserve ótimo basquete e pelo menos algumas das concretizações dos desejos!