Arranque Atribulado para o judo nacional em 2024

João CamachoMarço 19, 20246min0

Arranque Atribulado para o judo nacional em 2024

João CamachoMarço 19, 20246min0
João Camacho analisa o que aconteceu nos últimos meses com o judo nacional, que teve um arranque pouco positivo entre Janeiro e Fevereiro

Estamos a entrar na reta final da qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris para o judo. No entanto, só em março tivemos atletas portugueses a subir ao pódio de uma etapa do circuito mundial, e registam-se sinais preocupantes de que a participação em Paris ficará aquém das expectativas, em resultados e em número de atletas qualificados, comparada com a memorável prestação nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Grand Prix Odivelas 2024

Pelo terceiro ano consecutivo o circuito mundial arrancou em Portugal. Desta vez foi o multiusos de Odivelas que recebeu, no último fim-de-semana de janeiro, a etapa inaugural do circuito mundial de 2024. A opção de trocar o pavilhão municipal de Almada por esta infraestrutura, deveu-se à falta de condições, evocadas pela federação internacional de judo, para uma prova deste calibre, e a necessidade de uma profunda intervenção para melhorar a infraestrutura de Almada que já conta com mais de 30 anos. Fica a mensagem para quem estiver interessado…

No que respeita ao judo, tivemos oportunidade de assistir a uma etapa muito concorrida, mais de 620 atletas, e claramente a mais forte e competitiva a que assistimos in loco, nestes três anos em que o circuito nos visitou. Para isso, a participação da equipa principal russa, relembro que os atletas estão autorizados a participar pela federação internacional de judo como atletas individuais e neutrais, foi decisiva, ao incluir os principais judocas russos da atualidade, entre eles dois campeões do mundo, Inal Tasoev (+100Kg) e Arman Adamian (-100Kg).

No que respeita à participação portuguesa, alguns dos principais nomes apostaram na prova de Paris, que decorreria uma semana mais tarde, outros recuperavam de lesão, sendo inquestionável a constatação, em jeito de balanço, de que foi uma participação muito apagada. Nenhum judoca português chegou ao pódio, longe dos brilhantes resultados conquistados nas duas primeiras edições.

Circuito Mundial 2024

O Circuito Mundial de 2024 está ao rubro, sim, é a expressão correta, ao rubro, mas só no Grand Prix de Upper, 5.ª etapa de 2024 que decorreu na cidade Austríaca de Linz, pudemos contar com portugueses no pódio. Destaque para o regresso de Jorge Fonseca, que terminou na segunda posição da categoria dos 100Kg, e para Maria Siderot e João Fernando que terminaram de bronze ao peito respetivamente nas categorias dos 52Kg femininos e 81Kg masculinos.

Estamos em ano de qualificação olímpica, e os principais judocas lutam por, atempadamente, garantir a presença nos Jogos Olímpicos de Paris, o que acabou por impactar as primeiras etapas do ano, onde participaram os principais judocas de cada categoria de peso elevando o nível e tornando muito complicado, ou mesmo impossível, chegar longe no quadro da competição.

Para além da importância de garantir a qualificação, para os judocas que aspiram chegar longe na prova olímpica, torna-se importante garantir uma vaga no top 8 da respetiva categoria de peso e assim evitar os mais fortes candidatos antes dos quartos-de-final, pois os judocas do top 8 só se cruzam a partir dos quartos-de-final. Neste momento, temos dentro da qualificação olímpica: Rochele Nunes (6.ª posição dos +78Kg), Catarina Costa (7.ª posição dos 48Kg), Bárbara Timo (14.ª posição dos 63Kg), Patricia Sampaio (14.ª posição dos 78Kg), Jorge Fonseca (15.ª posição dos 100Kg), João Fernando (23.ª posição dos 81Kg) e Telma Monteiro, que apesar de estar lesionada e a recuperar de lesão desde novembro, ainda com a incerteza se recuperará a tempo de voltar ao circuito e confirmar a sua 6.ª presença em Jogos Olímpicos (23.ª posição dos 57Kg).

Neste momento está tudo em aberto e temos no final de maio Campeonatos do Mundo, que este ano decorrerão em Abu Dhabi, e que tal como em 2021, antecederão os Jogos Olímpicos. Estes campeonatos serão decisivos para muitos judocas, pois sendo a competição que contribui com mais pontos para o ranking, poderá ter um impacto significativo no posicionamento final dos rankings e nas posições que os judocas terão no final da janela de qualificação olímpica, que fecha no final de junho.

Foto: IJF

Judo no “Portugalinho”…

Tenho, reiteradamente, criticado quem recorre à “contratação” de judocas estrangeiros para representarem clubes nacionais em competições de equipas nos escalões de formação. Temos assistido a este fenómeno, que em nada promove o judo, bem pelo contrário, por parte de diversos clubes, lamentavelmente os suspeitos do costume. 2024 não fugiu à regra…

Estes atletas, que são originários, na sua maioria, de Espanha, são incluídos nas equipas dos clubes que disputam os campeonatos nacionais de equipas, sem terem qualquer tipo de afinidade com os colegas de equipa, nunca terem treinado com eles, o que para além de constrangedor, acaba por prejudicar os atletas do clube, não premiando o seu esforço e sacrifícios diários. Estes acabam relegados para suplentes, ou mesmo colocados fora da equipa porque o importante é ganhar, a qualquer preço, ter material e conteúdos para inundar as redes sociais, conseguir receber subsídios do poder local, ou de potenciais patrocinadores, passando uma imagem, que poderá ser enganadora, de um trabalho de excelência e diferenciador a decorrer nestes clubes.

Sei que é um tópico incómodo, mas creio que está na altura de repensar o modelo de organização destes campeonatos, por exemplo, obrigando a que estes atletas participem em pelo menos duas competições em Portugal, por exemplo opens, para poderem ser elegíveis a participar em campeonatos nacionais de equipas, representando um clube português. Assim, o nível competitivo aumenta, com mais atletas de qualidade, alguns deles estrangeiros, a participarem em competições pelo país fora…

A prioridade principal da Federação Portuguesa de Judo é promover o judo português e os atletas portugueses, isto não é uma questão de patriotismo, é uma questão de assegurar a continuidade de resultados de excelência para o judo português. Há claramente um problema, grave, de falta de talentos, e o período dourado do judo português, que culminou em Tóquio, com a melhor prestação da de sempre nuns jogos olímpicos, poderá nunca mais se repetir. E as evidências são preocupantes… muito preocupantes…


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS