A movimentada offseason da WNBA e o draft de expansão

Lucas PachecoDezembro 21, 20246min0

A movimentada offseason da WNBA e o draft de expansão

Lucas PachecoDezembro 21, 20246min0
Lucas Pacheco olha para as movimentações offseason da WNBA com várias novidades a merecerem destaque neste artigo

Um mantra que repetimos à exaustão, do crescimento visto no basquete feminino, materializou-se com o anúncio de três novas franquias, as quais se somam às doze equipes atuais. Não é mera figura de linguagem: a WNBA encontrava-se estagnada, em termos de participantes, desde 2008; em uma nova leva, a adição das três franquias representa um acréscimo de 25% em relação à temporada mais recente.

Portland, Toronto e San Francisco são as novatas, com datas diferentes para estrear. A primeira franquia de fora dos Estados Unidos na história da liga será do Canadá, com previsão para jogar a temporada de 2026. Recentemente, a equipe lançou seu nome, Toronto Tempo, e sua identidade visual, mas há muito a se caminhar até que o time estreie na liga. Em Portland, a franquia está ainda mais longe de retornar à atividade, sem sequer um nome definido; importante lembrar que a cidade do noroeste do país já participou da WNBA, pelo breve período de três temporadas (entre 2000 e 2002), nos primórdios da competição.

Em 2025, quem estreará na melhor liga de basquete feminino do mundo será o Golden State Valkyries. Sediada em San Francisco (Califórnia), a equipe está em fase avançada de montagem, afinal, faltam apenas quatro meses até sua primeira partida da temporada. Os proprietários anunciaram logo a GM (general manager) Ohemaa Nyanin e, na sequência, contrataram a então assistente técnica de Becky Hammon no Las Vegas Aces, Natalie Nakase. Um dos principais alvos da movimentada offseason (metade da liga demitiu seus técnicos), Nakase chega com pedigree e currículo invejáveis, incensada como uma das grandes responsáveis em montar um time bi-campeão.

Os desafios serão maiores e mais instigantes: imagine começar um time de basquete do zero, é esse o tamanho da tarefa de Nakase e Nyanin. O primeiro passo foi dado no dia 06 de dezembro, quando a liga realizou o ‘draft de expansão’. Cada uma das doze franquias escolheu 6 jogadoras de seus elencos, disponibilizando as demais para que o Golden State escolhesse 1. Ao escolher 1 de cada franquia da WNBA, a nova equipe totalizaria 12 jogadoras para seu elenco. A liga cedeu, ademais, as quintas escolhas em cada uma das três rodadas do draft ordinário.

Obviamente as melhores jogadoras não estavam disponíveis para o Valkyries, o que torna o processo ainda mais estimulante. Na história da liga, embora a amostragem seja pequena e a última expansão tenha ocorrido a mais de uma década, novas franquias começam sua trajetória com campanhas ruins. Com isso, no segundo ano, talvez terceiro, terão escolhas altas em draft e aí sim podem selecionar estrelas, as chamadas franchise players. As escolhas do draft de expansão são a etapa inicial de um projeto longo.

A liga não divulgou as jogadoras indisponibilizadas por cada franquia, trazendo um elemento de surpresa. Todas as análises apostavam que a pivô Temi Fagbenle seria protegida pelo Indiana Fever, por exemplo, causando espanto quando o Valkyries anunciou sua escolha. Ela encerrou a temporada como titular, porém as mudanças de direção em Indiana podem ter influenciado. Fagbenle foi um dos principais nomes escolhidos por Golden State, cujo garrafão ainda terá Monique Billings (selecionada junto ao Phoenix Mercury) e Iliana Rupert (Atlanta Dream). Nakase treinou a francesa em Las Vegas e seu estilo de espaçamento de chutes de três casam bem com a proposta ofensiva de Nakase.

Na posição 3, onde as wings se encaixam, foram selecionadas a australiana Stephanie Talbot (Los Angeles Sparks) e a polivalente Kayla Thornton (New York Liberty). A lista de Nova Iorque obrigatoriamente não protegeria todos os seus múltiplos talentos e o Golden State poderia seguir muitas direções diferentes – a fluidez ofensiva de Marine Johannes, o potencial ofensivo da pivô chinesa Han Xu, a defesa de Rebekah Gardner. Acabou optando por Thornton, fundamental no título da WNBA do Liberty.

Cecilia Zandalasini (Minnesota Lynx), Maria Conde (Chicago Sky) e Katie Martin (Las Vegas Aces) trazem playmaking ao perímetro, com a ressalva da disponibilidade da italiana Zandalasini e da espanhola Conde em atravessar o oceano e aparecer para a WNBA. Ceci participou do título de Minnesota em 2017 e só voltou aos EUA neste ano; Conde sequer estreou. Em oposição, Martin será figurinha carimbada, outra que conhece bem Nakase e que trará holofotes, fandom e popularidade à nova franquia.

As escolhas privilegiaram jogadoras estrangeiras, sendo 7 de um total de 11. Na armação, aposta na jovem francesa Carla Leite (Dallas Wings), ainda que não saibamos seus desejos de WNBA; a belga Julie Vanloo acrescenta experiência e volume de três, atributos complementares aos de Veronica Burton (Connecticut Sun), cujo carro chefe reside na defesa.

O Valkyries pode efetuar trocas e contratações, como as demais franquias, além das três escolhas no próximo draft ordinário. Como a classe oriunda da universidade tem profundidade, ao menos uma escolha deverá ser bem aproveitada, formando a base para voos futuros maiores.

A única equipe sem nenhuma escolha foi o Seattle Storm, que passa por um verdadeiro rebuliço. Denúncias levaram a investigação de assédio e abuso por parte da técnica Noelle Quinn, não confirmadas; mesmo assim, a última remanescente do trio bi-campeão, a ala Jewell Loyd, solicitou troca. De um time com poucos ativos futuros, Golden State preferiu não escolher ninguém de Seattle – ou será que uma troca, quiçá envolvendo Loyd, está no radar? Ela vem de uma temporada fraca, mas a média de 20 pontos por jogo faz qualquer técnico brilhar os olhos, quando mais para um elenco formado a partir do zero.

Enquanto aguardamos as cenas dos próximos capítulos, ao menos temos um vislumbre do Valkyries, com um elenco equilibrado e mediano, sem grandes estrelas (e sabemos a importância delas no esporte estadunidense). Muita coisa ainda vai mudar: lembremos que nos dois próximos anos teremos mais dois drafts de expansão, sem contar a negociação do acordo entre jogadoras e liga (com aporte significativo de investimento).

Outra tendência importante desta offseason, encabeçada por Nakase, foram as novas escolhas de técnicos. O Sparks demitiu o laureado e cadenciado Curt Miller, apostando em mudança radical de direção ao contratar a técnica da universidade de Utah, Lynne Roberts. O Atlanta Dream demitiu Tanisha Wright e trouxe outro técnico do universitário, da pequena porém vitoriosa Florida Gulf Coast, Karl Smesko. O perene candidato a título Connecticut Sun trocou Stephanie White (mudou-se para Indiana Fever) pela belga Rachid Meziane, vice campeão europeu de clubes e campeão pela seleção de seu país.

Em comum, a ênfase dos ataques fluidos, espaçados e velozes de todos eles, reforçando a tendência inaugurada por Becky Hammon, técnica que tomou a liga de assalto implantando um esquema mais moderno, forjado na NBA. Algumas vagas permanecem abertas e as escolhas dirão bastante sobre os próximos anos de uma liga que cresce vertiginosamente.


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