A definição da fase final da Euroliga 2024/2025
A jornada da Euroliga de basquete feminino, iniciada em outubro, enfim chegará à última parada. Com a definição dos play-ins, o Final Six está montado; nos dias 09, 11 e 13 de abril a fase final e decisiva ocorrerá em Zaragoza. Duas equipes, as vencedoras dos play-ins das semi-finais, avançaram direto e folgam na primeira rodada; elas aguardam suas adversárias, as vencedoras das duas partidas do dia 09/04.
O invicto Fenerbahçe não ficaria de fora desse seleto grupo. A potência turca ruma em direção ao tri-campeonato e, a cada nova fase, repõe a pergunta inaugural da edição: alguém será capaz de destroná-la? Ainda que tenha vencido os dois confrontos do play-in (80 x 86 na Itália e 64 x 60 em Istambul), o Schio foi a maior ameaça até o momento – por incrível que pareça, foi o duelo com menor diferença de pontos (+10). Os roteiros assemelharam-se, com o Fenerbahçe abrindo boa vantagem no intervalo e o Schio correndo para recuperar no segundo tempo. Nas duas oportunidades, faltou pouco.
Outra constante do duelo foi o domínio da pivô Emma Meesseman. O Schio simplesmente não teve resposta para a inteligência e talento da belga; o técnico Georgios Dikaioulakos mexeu na dupla de pivôs, tentou formações diferentes, mas a verdade é que Meesseman sobra na Euroliga. Nem mesmo uma das melhores jovens pivôs europeias, a húngara Dorka Juhasz, foi páreo. Em um confronto equilibrado, Meesseman saiu-se com 29 pontos (62%), 7 rebotes, 5 assistências e eficiência de 31 no jogo 1; na volta, 19 pontos, 10 rebotes, 4 assistência e 29 de eficiência. Números impressionantes!
O Schio tentou de todas as formas, com boas atuações de Giorgia Sottana (jogo 1) e Kitija Laksa (2), além dos ajustes nos intervalos. Não foi suficiente, apesar da disputa e competitividade acima dos prognósticos. Assim, a equipe italiana disputará a vaga na semi-final contra o USK Praga no dia 09/04. O Fener aguarda o vencedor desse duelo e deve adicionar uma peça essencial no elenco: Kayla McBride assinou para o fim da temporada (Ariel Atkins encerrou o vínculo) e formará um trio de ouro com Meesseman e Gabby Williams.
O outro play-in da semi-final não confirmou o equilíbrio previsto; na luta pelo posto de segunda melhor equipe do torneio, o Valencia decidiu a parada já no primeiro confronto, em casa, com a larga vitória de 89 x 57 sobre o Mersin Çukurova. O abismo fez com que o segundo jogo fosse figurativo (vitória turca por 92 x 77). O Valencia credencia-se como principal candidato a bater com o Fenerbahçe na final; a chegada de Leonie Fiebich acrescentou muitas camadas de favoritismo. O técnico Ruben Burgos hesitou em suas formações durante a competição, problema resolvido com a estabilidade trazida por Fiebich, ala que pode marcar qualquer adversária e contribui com jogo coletivo e arremessos certeiros de três. Burgos enfim escolheu Letícia Romero como armadora principal e o time se encontrou.
Já o Mersin escorrega em suas próprias ambições, dinheiro e desorganização. O time está bem pior do que no começo da Euroliga: decaiu no técnico, perdeu peças importantes na profundidade do elenco e sofreu com contusões. Marine Johannes passou boa parte da fase anterior afastada, assim como Natasha Howard; no play-in, chegou a vez de Iliana Rupert ficar de fora. Vimos um time menos entrosado, com menos peças, e que chegará ao Final Six com uma grande interrogação. Ainda que reforce seu plantel, o tempo corre contra o entrosamento. Por sorte, o chaveamento colocará à sua frente, no dia 09, valendo vaga na semi-final, o francês Bourges, equipe já derrotada duas vezes pelo Mersin na competição. Dado caos reinante em Mersin, não é vitória certa, embora as turcas carreguem o favoritismo.
Bourges construiu um belo time sem grandes estrelas. O técnico Olivier Lafargue disputa com Dikaioulakos o título de técnico do ano e seu trabalho aparece na distribuição de protagonismo e funções em sua equipe, altamente coletiva. No play-in das quartas, esperava-se muito equilíbrio contra a boa e organizada Zaragoza – não foi o que aconteceu. Logo na abertura do confronto, em solo espanhol, o Bourges passou por cima e venceu com extrema facilidade, 55 x 75. Após um primeiro tempo de nível sofrível, o Bourges voltou diferente do intervalo, enquanto o Zaragoza não achou respostas ofensivas para destravar um ataque estagnado.
A ampla derrota obrigava Zaragoza a vencer, fora de casa, por diferença mínima de 20 pontos. Ou escalava o paredão e alcançava o objetivo, ou eliminação. Na hora mais importante da competição, os problemas na formação do elenco apareceram, ampliados pelo desfalque da pivô titular Markeisha Gaitling. Sem a pivô dominante no garrafão, sem uma ala capaz de atacar linhas e infiltrar, sem uma forward que espaçasse a quadra e convertesse os tiros longos, o time foi presa fácil. Carlos Cantero privilegia um estilo cadenciado, porém muito dependente da inspiração da única ala capaz de produzir por conta própria; para seu azar, Stephanie Mawuli não fez bons jogos. Na volta, Cantero arriscou uma formação com mais envergadura, mobilidade e defesa (inseriu Marie Mané em detrimento de Ellen Nystrom); mas nos duelos individuais, isso deixou as alas francesas com vantagem de tamanho.
Zaragoza venceu a segunda partida (64 x 73), placar insuficiente para avançar ao Final Six. O time estabeleceu-se na principal competição continental, com duas boas campanhas em anos seguidos, além de lotar seu ginásio e envolver a comunidade; para sonhos mais altos, entretanto, faz falta uma jogadora de quilate mais elevado.
Essa frase cabe para a outra equipe eliminada, o francês Landes, cujas derrotas para o USK Praga deixaram um gosto amargo. A despedida não chega a surpreender – o clube privilegia jovens jogadoras e elencos coesos, sem investimento pesado – mas a derrota melancólica no jogo 2 traz dúvidas quanto aos próximos passos. Assim como Emma Meesseman, a pivô Brionna Jones não encontrou resistência e bailou no garrafão francês: 31 pontos (61%) e 16 rebotes no jogo 1 (39 de eficiência), 21 pontos (58%) e 5 rebotes na volta.
O domínio de Brionna resume este confronto da Euroliga, ainda que não seja tudo. A técnica do Praga, Natalia Hejkova, percebeu cedo que o Landes pressionava o pick-and-roll com dobras altas; a estratégia cria superioridade numérica ao ataque uma vez que a dobra é superada. E Praga cansou de converter bandejas e chutes de três a partir dessa situação de jogo, explorando a superioridade e movimentando a bola em busca de um arremesso livre. O ajuste simplificou o jogo tcheco e abriu brechas para Brionna atacar a cesta; do lado francês, a técnica Julie Barennes manteve a tática ineficaz, sem contrabalançar o plano inicial.
Na França, reinou equilíbrio, com vitória pequena de Praga (68 x 72); na volta, domínio tcheco do início ao fim (69 x 43). Praga perdeu a ala Maria Conde, com ruptura no tendão, compensada pelo retorno de Teja Oblak e Ezi Magbegor. A equipe possui um núcleo experiente, entrosado e inteligente, que pode concorrer pelo título; no dia 09/04, luta por vaga na semi contra o Schio, no duelo mais esperado do dia. Já o Landes diz adeus à Euroliga sem muita razão para comemorar: Leila Lacan fez uma temporada abaixo do esperado, com sérios problemas ofensivos e aproveitamento baixo; as reservas mostraram apenas flashes, sem garantir boas sequências; a técnica com rotações estranhas, ininterruptas e pouca leitura. Por melhor que Luisa Geiselsoder seja, ela é uma jogadora de elenco, não a principal do time, fato explicitado pela dificuldade em conter Brionna Jones.
Agora, é conter a ansiedade pelo Final Six da Euroliga e pela coroação da campeã europeia da temporada.