3 Destaques da 6ª ronda do Super Rugby Aotearoa 2021
O líder “caiu”, pelo menos momentaneamente, pois os Highlanders foram capazes de derrotar os Crusaders, relançando a luta pelo 1º lugar do Super Rugby Aotearoa, isto devido à vitória (sem ponto de bónus ofensivo) dos Blues frente aos Hurricanes. Como é que os landers desmontaram os super campeões de Scott Robertson?
O DESTAQUE: HIGHLANDERS
A explicação para a pergunta anterior não é inteiramente fácil, requerendo uma explicação detalhada dos processos e sinergias não só nos termos das dinâmicas defensivas como na reacção ao jogo ao pé dos Crusaders, para além da atitude mental do colectivo de Dunedin. Comecemos pelo primeiro ponto, que talvez foi o mais importante: limitar as acções quer de Richie Mo’unga, Jack Goodhue e Will Jordan.
O abertura dos saders entra em declínio sempre que se vê confrontado com uma defesa que consiga efectuar a primeira placagem a si ou que pelo menos feche o espaço interior, impedindo assim o bater do pé e a mudança de direcção, ou que suba de forma ordeira e lógica no exterior, com um dos elementos defensivos a subir um pouco mais rápido para limitar as ideias criativas de Mo’unga. Ao acontecer este passo, para os Crusaders conseguirem ter eficácia no uso da bola (ter muitos metros não significa ensaios), necessitam do surgimento do 2º centro como manobrador ou manipulador das investidas de ataque de penetração, algo que também raramente aconteceu por virtude da imposição física e defensiva de Shannon Frizell e Michael Collins.
Não existindo quer o 1º movimentador de bola ou o 2º, era urgente uma aparição de gala de Will Jordan para abanar com a flexibilidade e inteligência defensiva dos Highlanders, de maneira a que a expressão de conquista de metros dos Crusaders se transfigurasse em pontos… infelizmente para Scott Robertson, esse detalhe não entrou em jogo. A ineficácia dos Crusaders de manter a posse de bola em zonas mais adiantadas, a falta de capacidade em dar confiança ao seu jogo quando apostam em transmitir a oval para o canal 3 e a inutilização (ou desaparecimento) de Richie Mo’unga, tornou toda a operação dos campeões em título do Super Rugby Aotearoa ineficaz e isenta de genialidade. E isto só foi possível por causa do trabalho minucioso dos Highlanders na defesa, na saída do ruck ou no ataque aos up and unders ou pontapés mais compridos, irrompendo numa agressividade mental que lançou dúvidas nos Cursaders durante todo o encontro, somando ainda a fisicalidade imponente que foi destrutiva e fundamental para oferecer o domínio de jogo à equipa treinada por Tony Brown.
O ataque dos landers também apresentou aspectos de excelência, uma vez que o aproveitamento do avanço territorial foi eficaz (480 metros significaram 3 ensaios e 4 penalidades) e a fluidez das combinações entre as linhas atrasadas foi ao mesmo tempo dilacerante e apaixonante, mas a estratégia defensiva, quer seja na limitação dos pontos de acesso de Richie Mo’unga ou Will Jordan ou na subida e colocação de pressão nos pontapés, forçou 22 erros próprios dos Crusaders, um registo incomum para quem detém o domínio do rugby neozelandês.
MATCH HIGHLIGHTS | Relive all the best bits of the @Highlanders huge upset over the @crusadersrugby.
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— Super Rugby (@SuperRugbyNZ) April 2, 2021
O “DIAMANTE”: MITCH HUNT (HIGHLANDERS)
No segunda vez em que retornou a “casa” como visitante, Mitch Hunt voltou a ser feliz, sendo uma das chaves do sucesso dos Highlanders nesta vitória inesperada em Christchurch. Para quem se lembra, Hunt fez parte dos Crusaders entre 2016 e 2019, tendo feito parte de dois dos quatro títulos conquistados desde que Scott Robertson assumiu esta franquia, e até foi uma peça algo importante quando em 2018 atirou aquele drop quase do meio-de-campo para derrotar os Highlanders no último minuto do jogo, valendo esse pontapé o 1º lugar da conferência neozelandesa.
Volvidos dois anos, Mitch Hunt pôde sorrir finalmente em Christchurch, agora com outra camisola vestida, registando uma exibição praticamente imaculada – falhou duas penalidades aos postes – que valeu 18 pontos, sem esquecer os 110 metros de conquista, 3 quebras-de-linha (duas delas deram início aos ensaios de Billy Harmon e Michael Collins), 4 defesas batidos e outros dados significativos. Veja-se que no 1º ensaio dos Highlanders, o pormenor técnico final de Mitch Hunt tirou dois adversários da zona defensiva, o que deu espaço a Bryn Evans e Billy Harmon para terem outra manobrabilidade com a oval e assim assaltar a área de ensaio, com este a ser um dos momentos decisivos da intervenção do médio-de-abertura neste encontro.
Na ausência de Josh Ioane, e com diversas lesões a assolarem os Highlanders, Mitch Hunt voltou a tomar as rédeas e assumir o protagonismo tanto nas acções com e sem bola, notando-se um impacto profundo no desenvolvimento da estratégia ofensiva e de reacção ao jogo ao pé dos Crusaders, como se mostra pelos números, dados e momentos do jogo da 6ª jornada do Super Rugby Aotearoa.
Billy Harmon you beauty! ??
The @Highlanders lead @crusadersrugby in Chch.
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— Super Rugby (@SuperRugbyNZ) April 2, 2021
O “DIABRETE”: MO’UNGA É A IMPERFEIÇÃO DENTRO DA EXCELÊNCIA
33-12 é um resultado que, para quem não assistiu ao jogo, dá ideia de uma equipa ter dominado quase na totalidade ou, pelo menos, mostrou-se mais confiante e competente nos processos defensivos ou ofensivos. Não há dúvidas de que os Highlanders atingiram um nível de excelência na maneira como atacaram os campeões em título do Super Rugby Aotearoa, colocando uma pressão asfixiante na defesa, especificamente na ligação entre Richie Mo’unga e as unidades mais exteriores ou na combinação com Jack Goodhue e Will Jordan.
Contudo, e não tirando um pingo de mérito à categoria de exibição dos homens de Tony Brown, é impossível não criticar a passividade do abertura dos All Blacks, que quando submetido a este blitz defensivo foi engolido com uma certa facilidade, caindo em constantes erros de transmissão de bola ou nas suas acções individuais (George Bridge e Will Jordan também estiveram bem longe do seu melhor), acabando por não ter qualquer expressão ou impacto num encontro que se adivinhava difícil.
Scott Robertson já tinha aludido que apesar do brilhantismo de Richie Mo’unga nestes Crusaders, a verdade é que quando se de para com uma equipa fisicamente do mesmo nível e com apetência para aplicar um modelo defensivo de pressão alta, placagem eficaz logo no 1º momento de limitação do jogo de offloads ou de passes antes do contacto, o abertura tende a desvanecer das zonas de influência e a passar para um patamar secundário de importância nas dinâmicas da sua equipa.
Sem David Havili, Jack Goodhue ou Will Jordan com capacidade para liderar a equipa nas competências de manobrador da estratégia de ataque, os Crusaders viram-se algo perdidos nos momentos em que necessitavam de uma unidade que os guiasse e ajudasse a finalizar as acções com bola dentro do território do adversário. Os campeões do Super Rugby Aotearoa perderam pela primeira-vez, mas não será problema de longa duração.
OS STATS DA JORNADA
Melhor marcador de pontos (jogador): Mitch Hunt (Highlanders) – 18 pontos
Melhor marcador de pontos (equipa): Highlanders – 33 pontos
Melhor marcador de ensaios (jogador): Vários – 1
Melhor placador: Scott Barrett (Crusaders) – 20 (mais 2 falhadas)
Maior diferencial no ataque (jogador): Mitch Hunt (Highlanders) – 110 metros, 3 quebras-de-linha, 4 defesas batidos, 2 assistências para quebra-de-linha