Um investimento ao centro: o caso do Académico de Viseu

Ricardo LopesJaneiro 19, 20237min0

Um investimento ao centro: o caso do Académico de Viseu

Ricardo LopesJaneiro 19, 20237min0
Depois de anos tremidos, o Académico de Viseu recomeça a acreditar em algo mais e Ricardo Lopes explica o que se passa pelo emblema do centro de Portugal

A Região Centro tem assistido à queda de seus representantes da Primeira Liga. Cidades como Aveiro, Leiria ou Coimbra foram desaparecendo do mapa do topo do futebol profissional. A Liga Bwin 2022/23 exibe-nos um mapa muito desequilibrado, com várias equipas do Norte e poucas do Centro e Alentejo (vamos excluir a zona de Lisboa, embora faça parte do Centro, tem outro tipo de importância, visto que é a capital). Apenas o FC Arouca faz parte do quadro de clubes, sendo o único representante da Zona Centro. Na Segunda Liga já verificamos mais elementos como o CD Tondela ou o Sporting Clube da Covilhã. No entanto, este artigo serve para abordarmos o Académico de Viseu Futebol Clube, umas das boas surpresas do futebol português e a prova que existem investimentos estrangeiros que podem produzir frutos a curto, médio e longo prazo, se o plano for bem traçado.

Em Setembro de 2021, Mariano Maroto López, empresário com ligações intimas ao futebol alemão, nomeadamente ao TSG Hoffenheim, assumiu a liderança da SAD do clube beirão, que não vivia o seu melhor momento. António Albino manteve-se como presidente do clube, porém as decisões do futebol deixaram de lhe dizer tanto respeito. A verdade é que antes da chegada do alemão, o clube somente esteve perto de subir à Primeira Liga por uma vez, desde a sua “refundação”, em 2017/18, com Francisco Chaló e Manuel Cajuda.

Os restantes resultados foram pobres ou de meio de tabela. Podemos afirmar que existiu algum receio inicial com a venda de 51% da SAD a mãos que na época eram desconhecidas, adensado pela prestação pouco positiva de 2021/22. Não nos podemos esquecer que o investidor somente entrou em Setembro, levando a que o mercado do Verão de 2021 estivesse ainda nas mãos, do saudoso ex-presidente António Albino. Uma outra justificação da prestação facilmente esquecível da temporada transata advém da condição de visitado.

O Académico de Viseu passou a época completa a atuar fora do Estádio do Fontelo, devido a obras de manutenção do recinto, como a mudança do relvado e a colocação de novos postes de iluminação (trabalho medíocre liderado pela Câmara Municipal de Viseu, que soma polémicas com clubes da cidade e que somente se lembra deles quando ganham). Apesar de tudo não foi uma temporada péssima em todos os aspetos, houve melhoras em certos pontos, como na comunicação, por exemplo.

2022/23 era esperado pela maioria dos adeptos com algumas expectativas. Apesar da manutenção de Pedro Ribeiro no cargo de treinador, houve reforços surpreendentes para a nova temporada. Nomes como André Clovis, André Almeida, Roberto Massimo ou Christophe Nduwarugira eram conhecidos do público geral e a sua qualidade reconhecida por todos. Gautier Ott e Soufiane Messeguem eram incógnitos para a maioria, mas os especialistas reconheciam-lhes qualidade que sobra para a Segunda Liga.

Foram 16 entradas no plantel viseense, onde se inclui Arthur Chaves, que custou 2,4 milhões de euros, um valor que antes de Setembro de 2021 jamais se teria imaginado a sair dos cofres da SAD. A presença de contratos de longa duração, como o de Domen Gril, representou também uma novidade pelos lados de Viseu.

É inegável que já no inicio da época se sabia que o plantel tinha subido alguns patamares, mas os resultados teimavam em não aparecer. Pedro Ribeiro cedo foi demitido e chegou Jorge Costa. Não sendo um treinador de topo nacional, era visto como um upgrade. Podia também causar efeitos positivos na moral e psicológico do balneário, pois fora um líder dentro das 4 linhas. Acredito que este fator tenha sido fundamental para a escolha do “Bicho”.

Na verdade, não é necessário ser um treinador prodígio para entender que o plantel do Académico poderia produzir muito mais, em comparação com as primeiras jornadas. Jorge Costa conseguiu ter a capacidade de montar a tática ideal, que conjuga as boas caraterísticas de todos os jogadores. Ao longo das últimas semanas apercebemo-nos que certos jogadores são fundamentais:

Gril, que tem sido dos melhores guarda redes da Segunda Liga, mostrando segurança e qualidade, sendo já um líder, apesar de só contar com 21 anos;
Arthur Chaves, não só pelo preço que custou, mas pela qualidade defensiva que traz à equipa;
Nduwarugira por ser um 6 clássico, um autêntico tampão, com boa capacidade de passe;
Messeguem, um autêntico 8, com inteligência a construir e muita chegada à área, mas também presente quando se trata de defender;
Ott, um autêntico velocista pela ala esquerda do ataque, com qualidade no cruzamento e remate;
Clovis, por ser um finalizador nato, sendo o melhor marcador da Segunda Liga (recentemente adquirido em definitivo, por 1,25 milhões de euros).

O 4x3x3 que se transforma num 4x2x3x1 é a tática que encaixa melhor, sendo o resto do esqueleto preenchido por elementos importantes como Famana Quizera, Jonathan Toro, André Almeida ou Rafael Bandeira. O que é certo é que a maioria dos jogadores do XI do Académico de Viseu teria lugar na Primeira Liga, sendo que alguns poderiam até pensar em equipas de maior relevância do nosso futebol. Possivelmente o grande “calcanhar de Aquiles” é a posição de lateral esquerdo, algo que pode mudar ainda neste mês.

O mercado de Janeiro tem trazido novidades para o clube, com o reforço Jovani Welch, além de outros rumores. Fora das 4 linhas, as melhoras na Loja e no Site colocam o Académico em outro patamar. O único ponto negativo é a temporada de Roberto Massimo, que se esperava ser a estrela da equipa (muitos minutos na Bundesliga), contudo está a ser massacrado pelas lesões.

Porém, quais são os objetivos da equipa? Oficialmente nunca se falou na subida de divisão, todavia os 19 jogos consecutivos sem perder fazem os adeptos sonhar alto. As prestações nas Taças (presença na Final Four da Taça da Liga e nos quartos de final da Taça de Portugal, ambas contra o FC Porto) causam ainda mais furor no seio da equipa.

Assistimos a uma união entre clube e adeptos que já não acontecia há muitos anos em Viseu. A SAD organiza uma série de eventos que aproxima os jogadores dos apoiantes e a equipa joga um futebol de qualidade, o que leva ainda mais aficionados ao estádio.

Há confiança em Mariano Maroto López e na sua equipa. Ao investirem um bom montante de capital (fala-se em mais projetos, como um centro de treinos, mas nada confirmado), exibem uma preocupação em querer ter bons resultados e que não irão abandonar o projeto. A política de contratações tem sido a correta. É verdade que chegaram elementos com certa experiência e que não darão retorno financeiro (caso de Ícaro), mas os mesmos são necessários para a liderança de balneário. Já os mais jovens podem dar esse mesmo retorno a curto prazo. Assistimos a uma eximia montagem de plantel, que em caso algum pode ser feito só de titulares. A presença de Tomás Silva no plantel, mostra que a formação conta para Jorge Costa, basta haver qualidade.

Podemos concluir que bons projetos podem chegar dos 4 cantos do nosso país. O Académico é possivelmente o grande exemplo de 2022/23. Em caso de bons jogos contra o FC Porto, poderá sonhar com algo mais, quer na vertente desportiva, quer na económica, já que os olheiros estão atentos.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS