Silly Season vs Smart Season: quem comprou melhor/pior até agora?

Francisco IsaacJulho 31, 201914min1

Silly Season vs Smart Season: quem comprou melhor/pior até agora?

Francisco IsaacJulho 31, 201914min1
O Mercado de Transferências está em alta mas é um período de coisas estranhas e negócios ainda mais misteriosos. Bem-vindos à Silly Seeason para a maioria e a Smart para alguns!

O Mercado de Transferências contemporâneo é cada vez mais um local quase inspirado na história de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, em que passamos da normalidade dos 30/40M€ por atletas que valem o preço, para uns números estratosféricos que podem ir dos 90 aos 150M€, dando este carácter esquizofrénico ao futebol. Nos últimos 15 anos, passámos de um mercado em que só clubes da dimensão do Real Madrid conseguiam dispensar 50M€ por um jogador para uma nova realidade em que emblemas como o Leicester, Newcastle, Valencia, Atlético Madrid, Sampdoria e Wolves, têm jogo de cintura para dispensar várias mãos cheias de milhões em busca de reforços.

Perante a loucura extemporânea em que se tornou esta fase do ano, os adeptos rapidamente a adjetivaram de Silly Season um termo que se adequa perfeitamente e que até já ganhou definição no Dicionário de Cambridge, como podemos aqui ver,

Silly Season: the time of year, usually in the summer, when newspapers are full of stories that are not important because there is no important political, sports news (…)

Silly Season: o tempo do ano, normalmente no verão, que os quando os jornais publicam um excesso de notícias que não têm qualquer importância porque não há informações importantes políticas, desportivas (…)

Mas será que todos os clubes caem no frenesim desta Silly Season, ou há alguns que fazem um bom trabalho durante este período de transferências? Para aqueles que fizeram um excelente trabalho no Mercado de Transferências então concebemos o conceito de Smart Season, como uma espécie de antídoto para o veneno Silly Season.

Neste artigo escolhemos 20 negócios realizados até dia 31 de Julho de 2019, divididos em duas categorias: Silly SeasonSmart Season. Destas 20 transacções escolhemos 6 alvos para uma análise mais profunda, explicando o porquê de se encaixarem numa das duas categorias. Contemplámos os empréstimos e atletas que assinaram a custo-zero, observando assim todo e qualquer negócio realizado até à data já anunciada! Vamos então dar um primeiro olhar às listas!

Alguns pormenores desde logo interessantes, a começar pela forma inteligente como a Juventus resgatou dois jogadores de classe mundial para o plantel a custo-zero (Adrien Rabiot e Aaron Ramsey). Os campeões italianos têm se mostrado muito activos nesta temporada, uma vez que contrataram Demiral (o central passou pelo Sporting CP mas surpreendentemente nunca recebeu a atenção merecida pela equipa principal), De Ligt (o valor pode parecer silly, mas já vamos explicar o porquê de estar nos smart), Gianluigi Buffon (voltou-se a juntar o útil ao agradável de um jogador que nunca devia ter saído), Luca Pellegrini, a somarem-se os regressos de Higuain e Marko Pjaca.

Outra curiosidade vai para o facto de vários negócios feitos com clubes portugueses surgirem em ambas as listas, percebendo desde logo que possam surgir dúvidas perante o facto de João Félix surgir na categoria da Silly Season, mas já vamos atacar a questão.

Dentro da tabela da Silly Season notar a presença de Carlos Vinicius e Iván Marcano, reforços do SL Benfica e FC Porto respecitavamente. O avançado brasileiro entrou numa autêntica montanha-russa em 2018/2019, tendo sido contratado pelo Nápoles para depois ser cedido prontamente ao Rio Ave e depois AS Mónaco, para finalmente ser transferido para o clube das águias. Destas experiências todas, Vinicius só realmente despontou em Vila do Conde com 12 golos marcados, escorregando na experiência pelo AS Mónaco (2 golos mas diversas exibições de um nível medíocre) e por isso os quase 20M€ desembolsados pela SAD do SL Benfica (quase tanto como se pagou por De Tomás) são de um alto exagero.

E Iván Marcano? Bem, por um lado Sérgio Conceição conta com o regresso de um central de qualidade que conhece bem o Dragão e assume um papel de líder (veremos como combina com Pepe), mas há que relembrar que saiu do clube a troco de nada e volta com um custo de 2M€, para além de despesas elevadas no salário. Um negócio típico da Silly Season ou dos tempos actuais do FC Porto?

Outros “maus negócios” observados passou por Felipe (20M€ por um central que teve uma época cinzenta no FC Porto), Joelinton (jogador com qualidade mas o Newcastle pagou uma quantia inimaginável de 44M€, sinais de mudança de direcção do clube), Manolas (mau negócio para a AS Roma que se vê privado de um jogador importante e para o Nápoles porque não só já tinha jogadores mais que suficientes para o eixo-defensivo como poderia ter optado por soluções “baratas”) ou Rodrygo (40M€ por um craque que tem 18 anos mas que pouco mostrou ainda a nível sénior).

A grande dúvida recai em Aaron Wan-Bissaka, um lateral talentoso, detentor de uma velocidade galopante e apoio de qualidade nas alas ao ataque… todavia, o Manchester United precisava era de reforçar outras posições e não a de lateral-direita onde tem Matteo Darbmian, Diogo Dalot ou Fosu-Mensah. 55M€ para mais um lateral quando era preciso um central (por menos 5M€ Militão foi para o Real Madrid)?

Antes de passarmos à análise comparativa entre alguns negócios mais “gordos” é necessário parabenizar as boas acções de mercado dos emblemas sevilhanos. Se o Bétis conquistou o concurso do internacional francês Nabil Fekir (terminava o contrato com o Lyon na próxima época) por um valor irrisório de 18M€, já o Sevilha foi até ao Dragão recrutar um médio que encaixa que nem uma “luva” no futebol (demasiado) pensado de Julen Lopetegui, com Óliver Torres a custar apenas 12M€… quantos jogadores da qualidade futebolística do médio espanhol têm este preço de custo?

Não constam os negócios que envolveram Eden Hazard ou Antoine Griezmann, pois ambos têm apontamentos positivos e negativos, resultando numa neutralidade em termos de categoria (isto apesar dos valores de mercado serem excessivamente altos, mas este “vírus” já contaminou todas as ligas). Mesmo assim, se nos sentirmos algo incomodados pelo valor da aquisição de ambos, lembrar que o internacional belga conquistou recentemente uma Liga Europa, para além de duas Premier Leagues isto pelo Chelsea, sendo o grande (mas não o único) nome da selecção da Bélgica que conquistou o 3º lugar no Mundial.

Do lado de Griezmann estão “só” 133 golos pelo Atlético Madrid em cinco temporadas, em que ajudou a conquistar uma Liga Europa (2018), Supertaça Europeia (2018) e Supertaça Espanhola (2015), contando-se ainda o troféu mais importante do historial do avançado, o Mundial de Futebol em 2018 (considerado como um dos melhores jogadores da competição). Por isso, e apesar de terem custado 150M€ e 120M€ respectivamente, o historial, a dimensão futebolística e a experiência acumulada são argumentos a favor mais que suficiente para estarem pelo menos na neutralidade.

Bem vamos pegar agora em seis negócios e tentar perceber o porquê de estarem etiquetados como silly ou smart.

JOÃO FÉLIX VERSUS MATTHIJS DE LIGT

Porquê etiquetar a ida do avançado ex-SL Benfica como negócio à la Silly Season mas já o que envolveu a chegada de de Ligt à Juventus é considerado inteligente? Começa tudo pelo historial, que acaba por lançar uma sombra de dúvida em relação ao valor exagerado alocado pelos colchorenos na contratação do avançado português. João Félix surgiu na equipa principal dos encarnados entre Fevereiro e Maio e teve uma evolução meteórica, terminando como um dos melhores marcadores dos agora campeões nacionais, mostrando pormenores extraordinários a nível da velocidade de reacção, capacidade de finalização e os detalhes técnicos.

Contudo, João Félix só tem 5 meses de sénior para mostrar, e por melhores que tenham sido, ainda há várias questões a responder, desde a resistência para sobreviver a uma temporada inteira ou de ter “guelra” para aguentar com defesas mais difíceis… se no jogo em casa com o Frankfurt foi o herói, já na Alemanha desapontou e passou completamente ao lado de todo o encontro.

Já o holandês Matthijs de Ligt tem mais “direito” a receber uma transferência por números avultados, pois conquistou a titularidade no Ajax com 17 anos e foi um dos grandes responsáveis por ajudar a famosa equipa holandesa a chegar longe nas competições europeias (final da Liga Europa em 2017 e meias-finais da Liga dos Campeões em 2019), evidenciando uma cultura táctica extraordinária para a idade que tem, para além de ter conseguido sonegar Dybala ou Karim Benzema. E não esquecer que ao contrário de Félix, de Ligt é titular intocável da Holanda de Ronald Koeman, com já 17 jogos realizados e 2 golos marcados.

João Félix promete e tem valor, já somou tanto exibições geniais como medíocres, não sendo um produto acabado e falta perceber se tem qualidade para se manter em alto nível durante uma temporada completa. 120M€ desembolsados pelo Atlético Madrid (o mesmo valor desembolsado pelo FC Barcelona por Antoine Griezmann, um jogador que ganhou já diversos títulos, arrebatou prémios de Melhor Jogador da época e foi decisivo na manobra ofensiva de Diego Simeone) é um exagero total, mas parece ser uma atitude normal para o atleti actual que já gastou neste mercado de transferências cerca de 250M€ divididos por 9 jogadores.

Dados de De Ligt (Foto: Football Whispers)

DORTMUND DE OURO VS BAYERN MUNIQUE DE LATÃO?

Tem sido peculiar observar o mercado de transferências na Alemanha, em especial quando se olha só para o Borussia Dortmund e o Bayern Munique, equipas que estão a lidar com este período de forma diferente. Enquanto que os vice-campeões da Alemanha foram buscar reforços que vão conferir uma união estratégica à equipa fulcral, os campeões nacional têm tremido e muito na hora de procurar soluções para as saídas de Arjen Robben, Franck Ribéry, James Rodriguez, Rafinha e Mats Hummels.

O central saiu precisamente para o Dortmund numa incisão de mercado rápida que foi facilitada pelos bávaros de Munique, fechando o negócio em 30M€, o que confere não só uma unidade defensiva inabalável como devolve um dos maiores líderes do Borussia dos últimos 10 anos.

A saída foi facilitada por aquele que foi até agora o bom negócio da equipa treinada por Niko Kovac, falamos claro está de Benjamin Pavard. O francês foi um dos jogadores em grande destaque no Mundial de Futebol de 2018, onde realizou jogos de alta qualidade, conferindo não só uma segurança total ao elenco de Didier Deschamps, como conseguia envolver-se facilmente nas manobras de ataque dos Les Bleus munido de um remate poderoso e um passe sempre bem calibrado.

E fica por aqui as boas decisões por parte do Bayern de Munique, já que o maior negócio da época recaiu em Lucas Hernandez que custou cerca de 80M€ pagos ao Atlético de Madrid. Hernandez tem qualidade como defesa, mas ainda apresenta lacunas que limitam a sua margem de progressão e que foram notadas na temporada passada, tendo sido titular em 22 dos 38 jogos dos colchorenos. Ao contrário de Pavard que custou somente 35M€, Hernandez chega a Munique a troco de quase 100M€ sem se perceber como teve este peso nos cofres do histórico emblema bávaro.

Voltando ao Borussia Dortmund, a forma de actuar no mercado tem sido completamente díspar do seu grande rival já que a troco de 127M€ contratou seis novas caras, todas elas de elevada categoria: Mats Hummels, Nico Shulz, Thorgan Hazard, Julian Brandt, Paco Alcácer (foi accionada a cláusula de compra) e Mateu Morey. Hummels e Brandt merecem a distinção de surgir na nossa lista de Smart Season, porque pelo valor que foram transacionados podemos quase considerar uma pechincha. O central tem pelo menos mais cinco anos pela frente de alto nível e o regresso a uma “casa” em que conhece todos os cantos vai reforçar o seu papel como um dos melhores centrais da Alemanha da última década. Já Julian Brandt foi um dos “cérebros” do Bayer Leverkusen na temporada transacta, evidenciando pormenores espectaculares a partir da faixa esquerda, desembocando bem na grande área… foi contratado por 25M€ quando o seu valor de mercado era de 50M€, e isto evidencia um comportamento inteligente por parte da direcção do Dortmund.

Quem parte na frente na Bundesliga? E conseguirá o Bayern de Munique operar ainda alguma reacção no mercado minimamente interessante ou Niko Kovac vai manter uma discussão complicada com Karl-Heinz Rummenigge (tudo devido a Leroy Sané)?

OVERHYPED JOVIC VS UNDERRATED SARABIA

Luka Jovic passou de emprestado do SL Benfica ao Frankfurt para super-reforço do Real Madrid, com um custo de 60M€, algo que os alemães agradeceram prontamente para voltar a investir em mais algumas contratações de qualidade (atenção à forma como este Frankfurt se mexe no mercado, sem grandes alaridos nem manifestações exageradas).

Jovic, que era um perfeito desconhecido para uma boa parte dos adeptos, ganhou um destaque sensacional nos últimos 9 meses, tudo devido à sua versatilidade dentro da área e a capacidade de finalização que fizeram dele um dos melhores avançados da Bundesliga 2018/2019 (17 golos na liga alemã, com uma média 1 golo por cada 132 minutos, mais 10 na Liga Europa). Contudo, Jovic está muito longe de ser uma certeza em termos de bomber para uma equipa como o Real Madrid que tem procurado reforçar-se com jovens de modo a garantir um elenco excepcional dentro de 2/3 anos… um plano ambicioso mas que já correu mal em outras alturas.

Terão os merengues caído no overhype de Luka Jovic, assegurando-o por um valor excessivamente alto e que pode criar uma pressão extra no avançado sérvio? Por falar em contratações feitas à pressa, o Paris-Saint Germain parece ter alterado a sua forma de estar no mercado e assegurou a contratação de um dos melhores jogadores da La Liga: Pablo Sarabia.

O médio-ofensivo fez uma época extraordinária pelo Sevilha com 13 golos marcados e 13 assistências, impondo medo e “tremor” nos adversários, mostrando-se um autêntico maestro no comandar o jogo, exultando um futebol enigmático e ritmado que deu outra dimensão a um Sevilha “adoentado”, em comparação com outras épocas.

O clube parisiense viu qualidade no espanhol e avançou com 40M€, valor suficiente para convencer a direcção do emblema sevilhano a libertar o médio-ofensivo (que, entretanto, já gastou cerca de 130M€ neste mercado, correspondendo a todos os desejos de Julen Lopetegui). Sarabia foi sempre “esquecido” por uma boa parte dos observadores e comentadores, conseguindo agora em 2019 obter a sua primeira grande experiência fora de portas, restando perceber se conseguirá ser o novo “feiticeiro” da equipa de Thomas Tuchel.

Para perceber… Jovic realizou uma excelente temporada pelo Frankfurt, mas novamente e a exemplo do que aconteceu com João Félix, foi só uma e faltou perceber se tem dimensão para ultrapassar centrais de categoria mundial ou não (entre Dortmund, Bayern ou Leverkusen, o avançado só conseguiu 1 golo em 6 jogos). Saravia pelo seu lado realizou uma série de boas temporadas pelo Sevilha, conferiu sempre uma dimensão “bonita” ao jogo do clube espanhol e deliciou constantemente as bancadas da La Liga.

Estes são algumas considerações e observações do que tem sido até aqui o mercado de transferências 2019, restando algumas semanas até que se dê o fecho das transacções… vamos ter mais Silly ou Smart Season?


One comment

  • Joaocilia

    Agosto 3, 2019 at 8:33 am

    E o militao é seally season tb? Só fez uma epoca e metade dela a lateral direito! Não é 50 M€ im valor super exagerado

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