Os portugueses são conhecidos pela sua facilidade em se adaptarem a novos cenários e ambientes, não virando a cara a cada novo desafio que se apresente à sua frente. No futebol existe o mesmo espírito e a presença de 154 jogadores portugueses nas diferentes ligas europeias é uma prova viva desse facto!

Mas antes de olharmos para a listagem e falar um pouco dos principais representantes há que tomar em atenção a dois pontos:

1. Só foram consideradas as primeiras divisões de cada país, apesar de existirem vários jogadores a actuar na Championship inglesa, na La Liga 2 ou mesmo na Serie B;

2. Foram analisados os clubes que participam nas competições supervisionadas da UEFA. Ou seja, divisões de Israel ou Turquia constam na listagem;

3. Foram contabilizados como “Portugueses” todos os atletas que tanto nasceram em Portugal, como aqueles que cresceram e/ou jogaram pelas seleções jovens nacionais. Notarão casos de jogadores que são internacionais por outros países, mas que entram no critério acima especificado;

Posto estes três alertas, lembrar que visitámos as principais ligas de cada um dos 52 países, tendo descoberto algumas curiosidades, números e dados de interesse.

A EXPANSÃO PORTUGUESA NA EUROPA

Observando a listagem, verificamos que, dos 52 campeonatos europeus, os atletas lusos estão presentes em 28 (29 com a Liga NOS), com 154 jogadores diferentes.

Desta centena e meia, verificamos que nove jogadores nasceram em Portugal e atuaram durante largos anos nos campeonatos juvenis e profissionais portugueses, mas internacionalizaram-se por outras nações. Falamos, por exemplo, de Zeca, que aos 23 anos mudou-se para a Grécia, depois de ter jogado no Casa Pia e Vitória de Setúbal, para jogar ao serviço do Panathinaikos. Depois de várias épocas ao serviço do Pana, naturalizou-se grego e foi convocado para a selecção helénica em nove ocasiões. Hoje em dia joga pelo Copenhaga, na Dinamarca.

Depois, há alguns atletas que nasceram fora de Portugal mas dentro dos PALOP, o que lhes permitiu o salto direto para as Quinas. Aí foram crescendo e acabaram por mesmo jogar ao serviço das seleções jovens nacionais, como é caso de Buta (alinha pelo Royal Antwerp da Bélgica), que nasceu em Angola, mas que até há bem pouco tempo alinhou pelos sub-20 de Rui Jorge.

Por falar em sub-20, dos 156 atletas “descobertos” 119 já jogaram pelas selecções nacionais, seja as de formação (contabilizámos só aqueles que jogaram pelo menos 2 jogos em dois escalões diferentes) ou a principal, com Cristiano Ronaldo a dominar a lista como o atleta mais internacional de sempre (só as de nível sénior já o colocavam lá, mas somando as de formação catapultam-no quase para as 200 internacionalizações).

E quais são as ligas que têm maior pegada portuguesa? A La Liga assume o primeiro lugar (ainda que partilhado), apesar da perda do seu ET Luso, com 14 atletas nacionais; também com 14 jogadores está a Premier League (o Wolves de Nuno Espírito Santo ajudou a esse crescimento exponencial); e a Super Lïg da Turquia fecha o pódio com 13 (o Akhisarspor é quem ajuda mais, clube onde actuam Miguel Lopes, Josué e Hélder Barbosa).

Em 4.º e 5.º lugar vêm dois campeonatos que sempre atraíram muito as hostes portuguesas. Falamos da Roménia e Chipre que contribuem com 12 cada.

Em termos de ligas mais exóticas, há vários portugueses a atuar nesses locais como na Lig Há’al (Israel), Premier Liga (Cazaquistão) ou Virsliga (Letónia). Hugo Seco é o mais recente explorador, que partiu em direção ao Cazaquistão para alinhar pelo Irtysh FC. Em Israel há um ex-SL Benfica a liderar a defesa do Hapoel Beer Sheva, Miguel Vítor. E por fim, na Letónia é o extremo Pedro Mendes, que passou pelas escolas do Sporting CP e Vitória de Setúbal, embarcando na sua 3.ª aventura fora de portas (já esteve em Angola e na Roménia).

Destes 154 nomes, quem são os principais nas suas ligas? Aqui fica uma breve apresentação e recordação das estrelas internacionais (ou locais).

SERIE A

Cristiano Ronaldo (FC Juventus)

Passou única e exclusivamente por um clube português a nível sénior, o Sporting CP, tendo feito toda a sua carreira fora de portas. Depois de reinar em Manchester e de se assumir como Imperador Galáctico do Real Madrid chega agora a uma Juventus imersa no sonho de conquistar a Liga dos Campeões.

É, aos 33 anos, um jogador lendário para o futebol Mundial (quase mítico) com números recorde, para além dos vários anéis de campeão da prova máxima de clubes da UEFA, o que alimenta ainda mais a ambição da Vecchia Signora de ir atrás de tudo o que é título e troféu.

(Foto: SAPO 24)

A super luz do avançado português até está a atrair mais jogadores para a Juventus que já contratou outro português: João Cancelo. O lateral abandonou o Valência a título definitivo, depois de uma época média no Inter de Milão.

Para além destes dois nomes, subsistem ainda João Mário (deve estar de saída para outro campeonato), André Silva, Mário Rui, Pedro Pereira, Pedro Neto, Bruno Alves (é o 2º central português a defender as cores do Parma), Iuri Medeiros e Bruno Jordão.

PREMIER LEAGUE

Bernardo Silva (Manchester City)

Difícil não escolher o pequeno mágico do City como o jogador português em destaque da melhor liga de futebol do Mundo. Até Pep Guardiola está rendido à forma como o ex-SL Benfica agarra no esférico e desenha movimentações ou jogadas que mais ninguém vê.

Esta é a segunda época de Bernardo Silva no futebol inglês e devemos estar preparados para mais jogos de brilhantismo imenso, de uma qualidade ofensiva sensacional e de um criar de lenda entre os adeptos do City (será que ficará ao nível de Ronaldo no United?).

(Foto: SAPO 24)

O outro destaque tem de ir para a armada lusa comandada por Nuno Espírito Santo, um treinador que não deixou grandes saudades em Portugal (especialmente na Invicta) mas que soube reconstruir-se no futebol inglês. Ruben Neves, Ruben Vinagre, Rui Patrício (um dos grandes reforços da cidade do centro de Inglaterra), João Moutinho, Diogo Jota, Ivan Cavaleiro e Hélder Costa são os lusos do campeão da Championship.

A somar a estes todos há ainda o jovem Diogo Dalot, Ricardo Pereira, Adrien Silva, Domingos Quina (Europeu de sub-19 de elevadíssima categoria do atleta do West Ham), Cédric Soares e Rui Fonte.

LIGUE 1

Rony Lopes (AS Monaco)

Com a iminente saída de Gonçalo Guedes do PSG (nunca agarrou o lugar nos parisienses e deverá abandonar o PSG nas próximas semanas), não há dúvida alguma de que é Rony Lopes o grande representante luso em terras gaulesas. Com um toque de bola genial, uma propensão para o futebol de ataque e um claro desígnio para atingir outro patamar, o avançado dos monegascos de Leonardo Jardim está apostado em fazer nova época de sonho.

Em 51 jogos, completou 17 golos e 12 assistências, evidenciando-se como um dos melhores jogadores dos vice-campeões franceses. Aos 22 anos é uma das coqueluches nacionais a jogar fora do território nacional.

(Foto: SAPO 24)

Para além de Guedes e do jovem avançado, há ainda Anthony Lopes, Rolando, Edgar Ié, José Fonte, Xeka, Pedro Mendes, Pedro Rebocho e Pelé.

LA LIGA

Nélson Semedo (FC Barcelona)

Após o “adeus” de Cristiano Ronaldo ao Real Madrid, Espanha fica entregue a Messi a nível de Reis. Contudo, há ainda Nélson Semedo, um lateral-direito que demorou alguns meses a adaptar-se ao futebol espanhol, mas que ganhou o lugar até ao final da época passada. A sua velocidade ímpar é acompanhada de um controlo de bola excepcional e uma visão de jogo bem trabalhada encantaram Ernesto Valverde.

Falta-lhe ganhar o lugar na selecção Nacional, estando neste momento à sua frente Cédric Soares, Ricardo Pereira, e, eventualmente, João Cancelo. Muitos nomes para a direita, mas apenas dois lugares na convocatória de Fernando Santos.

(Foto: SAPO 24)

Para além de Semedo, a chegada de William Carvalho e Gelson Martins são as grandes notícias, fazendo companhia na La Liga a Paulo Oliveira, Ruben Semedo, Antunes, André Moreira, Fábio Coentrão (possível retorno ao Sporting CP está a ser equacionado), Luisinho, Ruben Vezo, Kevin Rodrigues, Daniel Carriço e André Gomes.

BUNDESLIGA

Bruma (RB Leipzig)

Podíamos falar de Raphael Guerreiro ou Renato Sanches, pois jogam nos dois principais emblemas da liga alemã, mas Bruma merece toda a atenção pelo virtuosismo e qualidade atacante que o extremo demonstra cada vez que se agarra ao esférico.

É uma das novas coqueluches do contingente português e no futuro pode substituir perfeitamente Ricardo Quaresma e/ou Nani na seleção Nacional, pois apresenta o mesmo arsenal de ideias e jogadas que ambos os geniais extremos ainda possuem.

(Foto: SAPO 24)

Ralf Rangnick confia plenamente nas capacidades do extremo, que esta temporada deverá voltar a ser titular na maioria dos jogos dos Touros.

Na Bundesliga só subsistem mais três atletas lusos: Raphael Guerreiro, Renato Sanches e o recém-chegado Gonçalo Paciência (que pode ter, em breve, a companhia de Chico Geraldes em Frankfurt).

EREDIVISIE

André Vidigal (Fortuna Sittard)

Os recém-promovidos à primeira divisão holandesa Fortuna Sittard têm no seu plantel três jogadores das cores nacionais, com André Vidigal a receber o nosso destaque.

O jovem extremo de 19 anos pertence à longa lista de jogadores que a família Vidigal produziu nos últimos 30 anos e começou bem a sua carreira como sénior, com uma participação direta na subida à Eredivisie (três golos e oito assistências). A sua agilidade genial e a forma como se projecta na ala para depois tentar mudar a rota de corrida são só dois pormenores numa lista que vai aumentando a cada ano que passa.

Contudo, não vai ser uma época fácil para o Sittard na Eredivisie, e André Vidigal tem de agarrar a oportunidade para conseguir atingir um patamar superior, algo que o seu futebol merece.

Outros portugueses na primeira divisão holandesa: Mica, Lisandro Semedo e o guardião internacional português, Eduardo.

SUPER LÏG

Castro (Göztepe)

Facilmente colocávamos aqui Ricardo Quaresma (fala-se que os milhões da China podem forçar a saída do português do Besiktas) e Pepe, mas desta feita apostamos num jogador que tem construído o seu legado de forma consistente no futebol turco. De quem falamos? Castro.

Formado no FC Porto, o jovem trinco arriscou numa mudança para Turquia em 2013 e nunca se arrependeu da mesma. Em cinco épocas na Super Lïg, assumiu-se como um dos melhores trincos do campeonato, um jogador que não só destrói o que os seus adversários tentam edificar, como inicia boas movimentações a partir da sua posição. Prova? 20 golos em 128 jogos, algo só alcance de trincos que gostam de apresentar um futebol multidimensional, de bons passes em profundidade e movimentações que criam roturas nos seus adversários.

Como dissemos já, a primeira divisão turca é uma das que tem mais portugueses na sua corte: Ricardo Quaresma, Pepe, Josué, Manuel da Costa (nascido em França, foi às seleções nacionais jovens, atuou em Portugal mas acabou por se internacionalizar por Marrocos), João Pereira, Djalma, Beto, Tiago Lopes, Silvestre Varela, Miguel Lopes, Hélder Barbosa e Tiago Pinto.

OUTROS DESTAQUES

Vale a pena recordar outros nomes que ainda habitam na nossa memória. Desde logo, Carlitos, extremo-esquerdo que chegou a jogar pelo SL Benfica e que continua a atuar na Suíça, ao serviço do Sion, aos 35 anos.

O Ekstraklasa, principal divisão do futebol polaco, já não tem um dos irmãos Paixão (Marco rumou a outras paragens, Flávio ainda se mantém na Polónia), mas recebeu João Amaral e Hildeberto, atletas dos quadros do SL Benfica.

Na Roménia subsiste a presença lusa, onde Camora ainda serve o Cluj há 7 anos, sendo considerado uma das lendas do clube campeão em título.

Agostinho Cá, que já foi um dos nomes fortes das seleções jovens de Portugal, joga ao serviço do Stumbras Kaunas a par de mais três portugueses.

A lista está inacabada, uma vez que faltam vários portugueses que jogam em divisões secundárias como Bruno Gama (Alcorcón), o já referido Marco Paixão (foi para a Turquia, como reforço do Altay) ou ainda aqueles que alinham em campeonatos das Américas (André Horta transferiu-se para Los Angeles há um mês), África, Ásia e Oceânia. Ainda assim fica uma amostra da armada portuguesa por essa Europa fora.

A elaboração da lista contou com a colaboração de Rui Mesquita, autor do Fair Play.