O “modelo” Roberto Martínez: o “clube-selecção” da controvérsia

Francisco IsaacSetembro 5, 20235min0

O “modelo” Roberto Martínez: o “clube-selecção” da controvérsia

Francisco IsaacSetembro 5, 20235min0
Roberto Martínez voltou a mostrar uma convocatória fechada e com isto elevou o número de críticas em relação à selecção nacional

Findado os dias de “escândalo” pós-anúncio da convocatória de Roberto Martínez para os jogos de Portugal frente à Eslováquia e Luxemburgo, é altura de perceber o porquê do selecionador nacional ter “fechado” a equipa a novas estreantes, optando por manter atletas que somaram nenhum ou raros minutos neste início de temporada, como João Cancelo, João Félix, Toti Gomes, ou que não estão a viver um momento de fulgor nos seus clubes.

A acusação mais comum aponta para o facto desta selecção não ser coordenada por Roberto Martínez, mas sim por Jorge Mendes, uma vez que a larga maioria dos atletas é agenciada pela Gestifute ou por empresas sucursais dessa mesma. Uma acusação minimamente plausível, apesar de ter falhas na sua argumentação, até porque, normalmente, a maioria dos melhores jogadores portugueses é agenciada por este empresário, restando uns poucos representados por outros.

A explicação que talvez faça mais sentido vai para o facto de Roberto Martínez ser mais um treinador de clubes do que seleccionador, optando por prescindir de certos jogadores em melhor forma, para se cingir aos “seus”, uma decisão que vai levantar (justas) críticas.

Para quem duvida disto, basta ver que Eden Hazard foi praticamente sempre titular e capitão pela Bélgica durante o último Campeonato do Mundo, mesmo quando mal ou não jogava de todo pelo Real Madrid, enquanto atletas como Jan Vertonghen ou Toby Alderweireld mantiveram o seu estatuto apesar de não serem os melhores na sua posição na equipa. A selecção belga acabou por sair pela porta pequena nesse Mundial, e em quase dez anos de serviço, Roberto Martínez nunca conseguiu conquistar nada de assinalável, à excepção de uma série de vitórias na qualificação e o 1º lugar no ranking FIFA, nunca abdicando deste plano.

Este tipo de visão é redutora para aquilo que deve ser teoricamente uma selecção nacional, em que os melhores jogadores têm de entrar nas contas. O caso de Pedro Gonçalves, Gonçalo Inácio (está na convocatória mas bem longe do lugar de importância que merece), Diogo Leite, Beto, são alguns dos mais críticos, especialmente por estes terem atravessado/atravessarem um momento de forma constantemente positivo, e a serem perpetuamente deixados de fora por troca com jogadores que, numa maneira geral, nunca convenceram totalmente a sua chamada.

Mas antes de mergulharmos na questão de quem podia ou devia estar ao serviço das Quinas, é importante perceber que a decisão de Roberto Martínez assenta no pensamento de que há uma táctica ou forma de jogar e que não deve ser a selecção a se adaptar aos jogadores, mas o contrário.

Mas então “Pote” não é um jogador suficientemente bom para se adaptar ao que Roberto Martínez pede? Ou Diogo Leite? A questão é que o novo seleccionador montou o seu grupo e não se demove, e vê uma selecção não como um patamar para aqueles que estão melhor física ou mentalmente, mas sim como um clube de topo e que tem acesso a qualquer jogador de uma dada nacionalidade. É um pensamento simples, e aquele que melhor explica esta atitude do treinador espanhol em querer forçar praticamente os mesmos convocados

Curiosamente, Martínez já entrou no mesmo ritmo comunicativo que Fernando Santos brindava aos jornalistas e críticos, fugindo às questões e apresentando argumentos com lacunas racionais falíveis, sendo que a larga maioria dos comentadores optou por se calar… Fernando Santos saiu da selecção nacional tendo estreado mais de 50 jogadores, e Roberto Martínez parece apostado em baixar esse número significativamente, optando por uma estratégia de menos oportunidades, concentrando o seu foco quase nos mesmos 25.

A matriz do treinador espanhol não será nem justa, nem agradará à maioria do público, e até poderá criar uma barreira com vários atletas que mereceriam uma chamada. O facto é que a selecção tem conquistado vitórias, com um futebol muito idêntico ao de Fernando Santos em termos de escassa criação de oportunidades ou conclusão dessas mesmas, e Roberto Martínez não parece ter qualquer problema em suscitar polémicas desnecessárias. Jogadores como João Félix não obtêm nada desta postura de proteção, dando uma imagem de que existem filhos e afilhados dentro de um grupo de trabalho que devia ser todo igual nos direitos e oportunidades.


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