O espaço de Cristiano Ronaldo
Cristiano Ronaldo é uma figura que não deixa ninguém indiferente. É a personagem mais popular no mundo do futebol e à volta do planeta Terra, 99% da população sabe quem ele é. Mais do que isso, o avançado provoca sentimentos nas pessoas, não é ‘um qualquer’. Uns amam, outros odeiam. Certo é que ficará na história global, mais além do desporto rei.
O jogador do Al Nassr está a dar os últimos passos na carreira, na esperança de chegar ao golo 1000, algo que mais tarde ou mais cedo irá acontecer, e na tentativa de conquistar o Mundial 2026 por Portugal. Uma coisa é certa, nas próximas décadas não vamos ter um jogador como Cristiano Ronaldo originário no nosso país, por muito que as próximas gerações contem com craques (o que é mais do que certo) e continuem a lutar por títulos, algo que outrora era visto como irrealista.
Cristiano Ronaldo é história, esteve nos momentos épicos da seleção nacional, como capitão do barco (com caraterísticas para isso, já é outra conversa), levantando um Campeonato da Europa e duas Liga das Nações. Contudo, a sua figura é polémica no que diz respeito à turma lusa. Ao longo dos anos vimos jogadores a perderem lugar no onze inicial de Portugal, acabando por sair de forma tímida de convocatórias, finalizando com uma retirada. Neste caso, isto não aconteceu e é impossível que acontecesse.
Houve sempre acusações de que Cristiano Ronaldo e Jorge Mendes montavam as listas de convocados, de maneira a que o avançado pudesse brilhar, apoiado pelos atletas com quem tinha mais ligação dentro das quatro linhas. Com o passar dos anos, o desgaste da estrela fez-se notar, com total normalidade, e os adeptos começaram a ser muito mais críticos do que antes.
Cristiano Ronaldo passou para um plano secundário do futebol mundial (Arábia Saudita), mantendo o seu estatuto de intacto no onze inicial, apesar de contarmos com elementos nos principais campeonatos europeus. Havia quem ousasse dizer que o madeirense sequer merecia fazer parte das listas de convocados, tal como os restantes elementos que atuam no Médio Oriente.
A Liga da Arábia Saudita não está ao nível do topo da Europa, sendo que a Primeira Liga de Portugal aparenta ainda a estar um patamar acima. Contudo, ver Cristiano Ronaldo fora de uma convocatória de Roberto Martínez (a não ser por decisão própria) é totalmente irreal, nunca irá acontecer. O seu nome é inquestionável e ainda faz a diferença. Porém, o seu estatuto deve ser sim analisado.
Não falamos de um jogador na flor da idade, bem longe disso. A melhor forma física de Cristiano Ronaldo já passou e o próprio sabe disso. Então porque é que a sua convocatória é sempre obrigatória? Pelo seu estatuto. O jogador é um exemplo para os demais, um atleta que traz memórias dos melhores momentos de Portugal enquanto seleção. No fundo, acabou por ser o líder de todo este projeto, mesmo com nomes imponentes no balneário como Pepe ou Diogo Costa, que até tinham mais figura de capitão que o jogador de 40 anos.
Porém, isto justifica a sua titularidade? Nem por isso. Neste momento, Cristiano Ronaldo faz mais sentido como um revulsivo oriundo do banco, capaz de agitar as águas nem que seja pela sua presença. A mesma intimida certos adversários. Portugal joga melhor quando o capitão não está presente e tem que ser dado espaço a esse bom futebol, ao mesmo tempo que não se transforma Cristiano Ronaldo em carta fora do baralho.
O avançado leva na qualificação para o Mundial 2026 um total de cinco golos e estava a convencer a crítica na manutenção da sua titularidade. Os jogos frente à Irlanda ‘borraram a pintura’. Cristiano Ronaldo passou completamente ao lado do jogo em Alvalade, onde a formação de Roberto Martínez mostrou uma pobreza total no que diz respeito a encontros contra equipas em bloco baixo. Já em Dublin, foi expulso por uma agressão e ainda fez um espetáculo lamentável frente aos adeptos irlandeses. Cristiano Ronaldo parecia um jovem que se estava a estrear como sénior, não aguentando a pressão do adversário, que já estava previstas de antemão. Não foi a primeira internacionalização de Cristiano Ronaldo, mas sim a número 226.
Isto deu azo a que as críticas voltassem. Cristiano Ronaldo voltou a ser incompetente, o tal jogador que atua no Médio Oriente e que já não serve para Portugal. A Federação Portuguesa de Futebol confirmou que o mesmo tinha sido dispensado de estar presente na preparação da partida frente à Arménia, já que não entra nas contas de Roberto Martínez, mas o seu estatuto permitia-lhe ter contrariado tal ideia para ficar com os colegas, dando-lhes força e conselhos para um encontro que promete ser decisivo. Afinal, essa é uma das tarefas de um capitão nacional.
Cristiano Ronaldo foi embora do estágio e ainda não é certa a sua presença no Dragão, como um adepto. Caso falte, será novamente alvo de acusações e com certa razão. É seu dever estar no Porto e não na Arábia Saudita. Afinal, ele praticamente defende que a seleção é a sua vida.
A posição de Cristiano Ronaldo na seleção é um dos temas mais discutidos na atualidade. Uns defendem a sua saída imediata, outros afirmam que o mesmo deve acumular o maior número de minutos possível, dado o seu estatuto. As pessoas que se oferecem a aceitar o meio termo é uma percentagem curta. Porém, nesta franja, deveria inserir-se o próprio Cristiano Ronaldo, se quer render a 100%.



