O caso Raúl de Tomás… um novo Imbula do futebol português?
Por 20M€ veio, por 22M€ se foi embora… esta é a história de Raúl de Tomás no Sport Lisboa e Benfica ao fim de 6 meses de ligação aos campeões nacionais em título. O avançado espanhol acabou “engolido” por vários factores que acabaram por empurrá-lo para a saída, fracassando por completo nesta sua primeira experiência fora do campeonato espanhol (facilmente aparecerá como um dos “flops” do Fair Play, recordado assim como tantos outros). Os encarnados acabam por sair beneficiados já que reaveram os 20M€ investidos em Agosto, podendo ganhar um extra de 2,5M€ mediante o cumprimento de algumas condições (número de jogos, golos e conquista da manutenção) dependentes do rendimento de RDT e do Espanyol.
Para além destes 20M€ (pagos num espaço de 4 anos) o SL Benfica fica ainda com 20% do passe do avançado, podendo lucrar com uma futura venda. Ou seja, um bom negócio para os cofres das águias, mas que deixa desde logo alguma apreensão em relação à “realidade” do negócio, seja pelo facto de Raúl de Tomás ter saído pelo mesmo valor que entrou quando o seu passe sofreu uma significativa desvalorização, isto de acordo com o Transfermarkt, passando de 20M€ (Agosto 2019) para 15M€ (Janeiro 2020), isto num par de meses.
Obviamente que a avaliação da valorização e desvalorização de passes é relativa, uma vez que sites como o Transfermarkt ou outros do tipo, não conseguem avaliar algumas variantes essenciais para perceber o valor de um dado jogador ou treinador. Mas regressando ao caso de RDT, é impossível não aceitar a sua desvalorização seja pelo fracasso em alguns detalhes técnicos como a eficácia à frente da baliza, a fraca adaptação ao estilo e estratégia de jogo do SL Benfica de Bruno Lage ou a ausência de capacidade para recuperar o seu lugar depois da ascensão de Carlos Vinicius.
Basta pegar no departamento dos detalhes técnicos para perceber que o avançado não era de todo a referência de área que os encarnados procuravam – só avaliámos a participação na Liga NOS e Liga dos Campeões: média de 2,5 remates por jogo que resultaram em apenas 1 golo isto em 12 encontros (ou seja, em 25 desferidos só 1 encontrou as redes); média de 0,6 passes para golo (isto e apesar de ter de ter 85% de passes acertados); a maioria das participações no ataque deram-se fora da área, em que a maioria dos remates foram realizados fora da área.
Por isso, em 12 jogos, 1 golo e 0 assistências… se adicionarmos os jogos da Taça de Portugal e Taça da Liga a situação melhora ligeiramente com mais dois remates certeiros e um passe para golo em 5 encontros. No mapa global do rendimento de Raúl de Tomás foi fraco, e mesmo que queiramos elogiar o primor com que toca na bola ou a forma como tentava trabalhar com as alas, o avançado foi sempre um corpo estranho e desalinhado com o futebol proposto e executado por Bruno Lage.
A etiqueta de “flop” ficará para sempre colada à passagem curta do avançado em Portugal, ao jeito de aconteceu com outros conterrâneos seus que já tinham falhado no futebol português, caso de Adrian Lopez (custou 11M€ ao FC Porto e saiu a custo zero), Miguel Angulo (chegou de graça mas o contrato rubricado foi algo “pesado” na altura para o Sporting CP), Roberto (as “águias” foram forçadas a desembolsar 9M€ pelo guardião para depois vendê-lo pelo mesmo valor e mais 1€, numa das transferências mais peculiares da última década do século XXI) ou Jeffren (10M€ num atleta que custou por época cerca de 2M€ em salários, podendo relembrar da passagem do extremo em Alvalade neste artigo).
Posto esta curta recordação de atletas espanhóis que não vão deixar saudades em Portugal, e retornando ao tema de RDT, como é que o avançado foi contratado pelo Espanyol, um clube que está em último lugar na La Liga, por 22M€? A pergunta não é de fácil resposta, sendo mais acessível apontar alguns casos bem similares e que devem levantar sérias questões no modo de actuar das SAD’s envolvidas e o trabalho dos empresários. Caso para análise: Giannelli Imbula. O médio-centro francês chegou ao FC Porto proveniente do Marselha a troco de 20M€ e realizou um total de 21 jogos pelos azuis-e-brancos, rubricando umas raras boas exibições e uma série de más prestações no meio-campo de Julen Lopetegui.
No caótico mês de Janeiro de 2016, que começou com a saída de Julen Lopetegui, Imbula acabaria por ser vendido ao Stoke City por 25M€ sendo uma situação muito similar a Raúl de Tomás, correcto? Más exibições, fraca adaptação e, do nada, valorização do passe. Um esquema engendrado pelos clubes com empresários, podendo existir uma espécie de cláusula-seguro que é acionada caso o activo se torne tóxico em termos de rendimento?
Não tendo certeza do como funciona este “novo” sistema, a verdade é que as transferências de Imbula e Raúl de Tomás são duas demonstrações de que algo não está bem no mercado de transferências, pondo em xeque a actuação das direcções dos clubes e empresários. O SL Benfica regozia-se neste momento com esta venda, mas é impossível esconder o facto de que mais uma vez foram gastos um número redondo de milhões num atleta que acabou por fracassar na sua missão de vingar no clube – não esquecendo ainda o facto da chegada de Weigl e de outros hipotéticos novos activos vão tapar com a ascensão da formação, colocando em dúvida os ideais de Luís Filipe Vieira de chegar longe na Europa com um plantel composto maioritariamente por atletas formados no Seixal.
Resta a grande pergunta… será que Raúl de Tomás foi/é realmente um jogador que valia/valha 20M€? Ou as irrealidades de mercado criadas pelos agentes e empresários desportivos influenciam totalmente esta sobrevalorização de activos?
O único momento bom de RDT pelo SL Benfica… o golo na derrota frente ao Zenit