Terá Matheus Pereira razões para duvidar do seu futuro no Sporting CP?

Francisco IsaacAgosto 17, 20188min0

Terá Matheus Pereira razões para duvidar do seu futuro no Sporting CP?

Francisco IsaacAgosto 17, 20188min0
Um desabafo que está a fazer a correr tinta nos jornais, mas que terá assim tantas razões de ser? O que Peseiro deverá fazer perante a situação de Matheus Pereira?

Este artigo não tem como objectivo prolongar a “polémica” entre Matheus Pereira e José Peseiro, depois de uma troca de palavras normais (e nada mais que isto), isto devido a não ter sido colocado na lista dos 18 jogadores para o jogo com o Moreirense. Alguma imprensa tentou pegar na situação para criar uma situação problemática no seio do plantel, não dando valor ao facto dos leões terem ganho pontos num campo difícil e que traz a pior qualidade de jogo possível aos maiores emblemas portugueses.

Ou seja, para uma falange de adeptos a situação de Matheus Pereira parece ter ganho um eco maior depois da vitória por 3-1, numa tentativa de fazer esquecer o bom resultado alcançado (e não falamos da exibição aqui) e isso pode minar ainda mais a confiança dos adeptos para com a comunicação social.

Olhando para as palavras de Matheus Pereira, o jovem extremo, teve um simples desabafo perante a sua condição de reserva depois de ter realizado uma pré-época de elevado nível. É uma situação comum nos dias de hoje, até porque existem várias formas dos atletas comunicarem as suas opiniões, seja no facebook, twitter ou instagram. Hoje em dia há uma maior exposição que leva a que exista mais espaço para discussão, escrutínio e crítica por parte dos adeptos, dirigentes e agentes.

No caso de Matheus Pereira foi um desabafo claro perante uma situação que o atleta não entende e não aceita, mas respeita e acima de tudo preocupa-se com a equipa. Depois do jogo ter terminado, José Peseiro ouviu as perguntas dos jornalistas, entre as quais sobre o desabafo do extremo para com a decisão de ficar na bancada, respondendo da seguinte forma,

“Estar chateado é bom, expressá-lo nas redes sociais não concordo tanto. Temos muitos jogadores com talento e a responsabilidade do treinador é ensiná-lo a colocar esse talento em campo… ele e todos. E o talento tem a ver com compromisso, responsabilidade, determinação, quando se é suplente de entrar bem, entrar para ajudar, determinado. Quando eles não cumprem e não dão essa resposta podem ficar de fora, ele e outro qualquer, podem perguntar a outros jogadores. O Sporting tem um plantel com potencial. O Matheus tem muito potencial, é uma aposta da nossa equipa, ele tem de ter o desafio no Sporting, o principal desafio é ser titular no Sporting. É isso que queremos ensinar. Para ser titular no Sporting é preciso muito compromisso, responsabilidade, muita determinação a somar ao talento que eles têm e às vezes não é fácil os jogadores perceberem isso. Muita vezes somos chatos de mais para eles. Mas essa chatice vai ser para ele e para todos. Perante o nosso trabalho quando não demonstram sistematicamente de forma consistente compromisso, determinação, sacrifício e entranho no jogo. Quem está no banco tem de entrar como o Jovane e o Raphinha entraram.”

A questão é por isso mais profunda do que se pensa e as palavras de José Peseiro acabaram por não ter continuação que merecia, quando deviam ter sido melhor analisadas para perceber o que se passou com Matheus Pereira: falta de compromisso de forma consistente. Ao que se entende, o timoneiro dos leões segue um código de conduta fundamental para que o plantel sobreviva nos momentos de maior pressão, baseado no trabalho com afinco, na luta diária pelo lugar e na responsabilidade de ser jogador do clube:

“Para ser titular no Sporting é preciso muito compromisso, responsabilidade, muita determinação a somar ao talento que eles têm e às vezes não é fácil os jogadores perceberem isso”

Mas de que forma poderá ter Matheus Pereira falhado na responsabilidade de ser titular no Sporting CP? Terá algo a ver com o risco que assume nos jogos, com as jogadas mais sozinhas, naquilo que para alguns treinadores pode ser visto como “um prego que sai da tábua”?

A verdade é que quando Jorge Jesus colocou o jovem extremo no seu plantel em 2015/2016, houve algumas críticas e correcções do treinador para como o brasileiro decidia alguns lances. A principal preocupação passava pela forma como o extremo queria, por vezes, resolver o jogo sozinho, desvinculando-se da parte táctica do jogo ou da compreensão que tinha de auxiliar a equipa no trabalho de pressão à zona.

Em 2018, o antigo treinador dos verde-e-brancos referiu as seguintes palavras sobre o rendimento do brasileiro durante o seu empréstimo ao GD Chaves,

“Não foi fácil a adaptação dele nos primeiros jogos que fez em Chaves. Melhorou muito nesta segunda volta. É um jogador com muita criatividade. Fez-lhe bem sair estes meses do Sporting para o ano poder voltar. Tenho a certeza que vem com muito mais responsabilidade tática, mais competente. Qualidade sempre teve. É um jogador que faz parte da formação do Sporting, nunca tive dúvidas de que vai fazer parte do plantel do Sporting”

Mais uma vez, a palavra responsabilidade vem ao de cima algo invocado por José Peseiro também. Houve uma clara evolução do brasileiro, mais trabalhador, dedicado na procura de bola e espaços quando não tem-la em sua posse, mas falta-lhe um compromisso mais “duro” para com a equipa, no apoio às linhas atrasadas ou na assistência de criação de linhas de passe no meio-campo.

São elementos importantes de ter em mão para perceber a actual situação de Matheus Pereira, que não é reserva só porque José Peseiro tem medo de lançar jovens ou de arriscar num futebol mais virtuoso, rápido e lançado, pois então Jovane Cabral ou Raphinha não tinham se estreado em Moreira de Cónegos quando o encontro estava num empate a uma bola.

Olhando para o caso de Matheus Pereira, há que relembrar o de Iker Casillas com Sérgio Conceição. Em Outubro de 2017, o treinador do FC Porto retirou o guardião da titularidade devido ao seu pouco compromisso com a equipa e nos treinos. Sem responsabilidade para ser titular, o guarda-redes foi afastado até que voltasse a provar o seu valor perante a equipa. Os jornais apressaram-se a dizer que em Janeiro iria se ver uma saída do espanhol do clube devido à situação nada boa com o treinador… em Maio foi campeão como o guarda-redes titular.

O factor compromisso é um elemento fulcral na conquista da confiança do plantel e José Peseiro teve o mesmo papel que Sérgio Conceição ou Jorge Jesus tiveram nos seus elencos. É um desafio para Matheus Pereira mas que também pode ser visto como um dissabor perante a excelente pré-época realizada. Por isso, respondendo à pergunta feita, Matheus Pereira tem direito a desabafar, mas não tem razão nas suas queixas… o treinador é o responsável máximo para a estrutura do futebol e tem motivos para deixá-lo de fora.

Pelo que José Peseiro disse, houve uma falta de trabalho e compromisso de Matheus Pereira nos últimos tempos que foram vistas como um sinal de que não estava pronto para ser titular no Sporting CP, outro ponto importante na discussão. O novo treinador quer passar a mensagem que para jogar no clube de Alvalade é preciso mais do que qualidade técnica, é necessário um sentido de sacrifício e responsabilidade, algo já invocado por exemplo pelo candidato à presidência do clube, Frederico Varandas,

“Não se impõe gostar do Sporting, ensina-se. A Academia falha muito na formação de homens. Perguntem quantos miúdos da formação foram a Alvalade ver os jogos. Nenhum. Este ano, tivemos um jogador juvenil que faltou a 50 por cento dos treinos e nada lhe acontece porque tem um contrato profissional.”

É um momento crasso na vida do clube e a ausência de uma liderança supostamente forte, pode abrir lugar a estas questões e desabafos dos jogadores, pois sentem que podem-no fazer livremente. Por outro lado, alguns podem entender que a opinião de Matheus Pereira é uma clara demonstração que não confia nos colegas que estão dentro de campo, sabendo o próprio que é melhor e que deveria estar ali por Jovane Cabral ou Raphinha.

Olhando para o caso de Matheus Pereira, o extremo de 22 anos, tem muito caminho para percorrer e precisa de conquistar a sua oportunidade dentro do plantel leonino… uma saída agora à pressa, com um clube escolhido à pressão sem ter noção do seu futuro, poderá ser um erro crasso na carreira de uma jogadores mais virtuosos do campeonato nacional, que falta ainda crescer um pouco mais para atingir outro patamar.


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