luis rubiales e só mais uma demonstração do machismo público

Francisco IsaacAgosto 25, 20238min0

luis rubiales e só mais uma demonstração do machismo público

Francisco IsaacAgosto 25, 20238min0
luis rubiales, presidente da RFEF, continua no seu cargo, agarrado somente por ser um homem "à antiga" e "vítima" de uma perseguição

rubiales… dentro de umas décadas, este nome será conjugado num certo tipo de frases que significam asco, ou uma atitude/acção de baixo nível e que desprestigia qualquer um, sendo uma forma de demonstrar o quão pequenino uma pessoa pode ser. A utilização em frase seria “não sejas um rubiales”, ou “só mesmo uma pessoa como tu para seres um rubiales”.

Poderá parecer exagero este tipo de entrada, mas a verdade é que as acções e palavras do (ainda) Presidente da RFEF são merecedoras não só de críticas, mas de uma retumbante vexação pública e que fosse minimamente pesada ao ponto de forçar a sua demissão.

Desde 2018 que luis rubiales, antigo jogador do Atlético Madrid, tem sido envolvido em miniescândalos de diversa índole, escapando constantemente das consequências, mantendo-se no topo da federação graças ao apoio incondicional de uma boa parte dos clubes, clubes esses liderados, em boa parte, por gente que tem menorizado o papel do futebol feminino e da necessidade de debelar os problemas da igualdade de oportunidades no futebol.

Em 2020, sob a pressão de que Iker Casillas poderia estar a garantir o apoio suficiente para chegar a presidente da RFEF, luis rubiales tratou de garantir que Jorge Vilda ficaria no cargo de seleccionador feminino, conquistando os votos do pai do treinador e mais uns quantos emblemas que estão desse lado. Esta relação estranha entre rubiales-vilda tem sido fonte de criação de sucessivos problemas e controvérsias no futebol feminino espanhol, que apesar de terem conquistado o título Mundial, nunca foram verdadeiramente lidadas e resolvidas, muito pelo contrário.

A 24 de Setembro de 2022, mais de quinze internacionais espanholas renunciaram à selecção até que os problemas internos fossem resolvidos, principalmente nas condições estruturais e humanas, querendo uma maior equidade e um tratamento mais correcto. Nessa carta, e nos comunicados que se seguiram, as atletas expuseram inúmeras situações de abusos que foram sendo praticadas pelo seleccionador, tendo tendo este recebido total apoio da parte de luis rubiales…

Entre não deixar as jogadoras trancar as portas dos quartos, a perguntar qual é a roupa interior que usavam, o brincar com situações sexuais, a fazer ultimatos privados, a RFEF de luis rubiales permitiu, apoiou e potenciou isto tudo. Não foi uma questão de cegueira, mas sim de total apoio destes comportamentos, olhando para as atletas como propriedade sua, e que enquanto estivessem ali nos vários campus da RFEF, tinham de obedecer a todas as ordens, como se escravas fossem.

O facto é que depois algumas destas atletas cederam e retornaram porque viram algumas condições a melhorar, sendo que umas quantas outras mantiveram a sua posição. Vilda continuou, e acabou por estar na lista de staff que ganhou o Mundial, tendo tido pouco ou nenhum mérito na conquista. Basta ver que as novas campeãs mundiais nunca celebraram com este individuo, com vários vídeos virais a mostraram uma total rejeição da figura, sentindo-se que estas tinham construído uma muralha em seu redor, colocando o suposto homem do leme fora.

Mas com a conquista do prémio mais apetecível do mundo do futebol, Vilda e rubiales sentiram que nada os poderia travar e que as suas personalidades abjectas saíssem cá para fora, realizando uma série de actos que mancharam a festa do título. Do agarrar dos testículos ao beijo não consentido, do escrever e assinar um comunicado a fazerem-se passar pela atleta beijada, a ir para uma assembleia bolsar frases repetidas em comícios de certos partidos de extrema-direita – e que são apoiados por partidos da direita tradicional -, luis rubiales simplesmente sente que é intocável.

rubiales não é “filho único” neste tipo de comportamentos, e nem será, infelizmente, o último, porque o mundo está carregado de homens exactamente iguais, dentro de cargos alta importância e que tratam as mulheres da mesma forma. Estes seres são quem também apoia, estimula e financia os movimentos de extrema-direita e das direitas que cismam a fazer pouco da saúde mental, dos direitos das minorias, ou dos esforços em prol da verdadeira equidade, considerando tudo isto “wokismo” e falso progresso.

Basta ver que rubiales no seu inflamado discurso de “não demissão”, decidiu rotular de antifeministas todas as atletas que o criticaram ou fizeram questão de não marcar presença na Assembleia Extraordinária da RFEF, fazendo pouco dos seus abusos sexuais à capitã da selecção da Espanha. Sim, um beijo não consentido, seja em praça pública ou dentro de um armário num lugar qualquer, é abuso sexual e ainda pior quando uma das partes é uma chefia que tem feito de prática comum este tipo de gestos.

Relembrar novamente, estes casos vêm a ser publicamente discutidos desde 2018, o que significa cinco anos de constantes abusos e agressões, com a UEFA, FIFA e a maioria das instituições a não se manifestarem publicamente. E antes que surja alguém a dizer “ah mas e tal isto acontece na Zâmbia e só com a Espanha é que fazem barulho”, basta dizer que não precisamos desconsiderar um caso para dar relevância a outro, quando ambos estão igualmente mal. Porém, a RFEF é das federações com maior peso e força no mundo do desporto, com diversos títulos europeus e mundiais, e que influencia outros a seguirem os mesmos passos, tornando este caso minimamente mais impactável que os restantes.

Para rubiales é um comportamento normal e algo que no “antigamente” era normal, como uma palmada ou beliscão no rabo. Pois bem, não é só de um imbecilidade imoral esta afirmação, como é demonstrativo que ainda há muito por mudar, e que esse tal “wokismo” inventado por quem gosta de rebaixar os movimentos progressistas, é a vacina mais que necessária para pôr um fim a um vírus perpetuado por uma série de gerações do “antigamente.

Não creio que luis rubiales se aguente muito tempo como presidente da RFEF, até porque está a mover “montanhas” contra si mesmo, mas acredito que o próprio não irá sair silenciosamente, e irá se alistar oficialmente a um lado social-político, e tentar liderar nova candidatura à federação.

O futebol português, que pelo seu presidente, Fernando Gomes, já veio dizer desconsiderar este problema e mantém a confiança na RFEF, não prescindindo da candidatura conjunta ao Campeonato do Mundo. O futebol português tem uma oportunidade magna neste caso para não só se distanciar, como repudiar, e dizer que não há atalhos fáceis para o sucesso e que tratar as/os atletas de uma forma porca, vil e abjecta não são comportamentos próprios de uma instituição digna e positiva.

O facto de luis rubiales estar escrito com minúsculas tem um propósito, uma vez que a figura merece o tratamento mais adequado à sua posição possível.


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