Se faz favor não façam a Lewandowski o que fizeram a Sneijder

Francisco IsaacNovembro 11, 20207min0

Se faz favor não façam a Lewandowski o que fizeram a Sneijder

Francisco IsaacNovembro 11, 20207min0
Um ano absolutamente extraordinário para Robert Lewandowski pode não acabar com o título de Melhor do Ano para a FIFA de forma injusta, como aconteceu com Wesley Sneijder em 2010. Há esperança para o avançado polaco?

8 golos, 15 assistências e mais de 89% de eficácia do passe para a frente em 41 jogos pelo clube, com conquistas da Serie A, Liga dos Campeões e Coppa de Italia, e 8 golos, 4 assistências em 14 jogos que valeram a ida a uma final de Mundial… estes foram os dados estatísticos de Wesley Sneijder na época de 2009/2010, ao serviço do Inter de Milão e a Holanda, mas que, e de forma completamente inexplicável, não lhe garantiu o Ballon d’Or da FIFA (na altura a instituição supra-continental e a France Football tinham juntado os seus galardões de melhor da temporada num só), tendo terminado num desolador 4º lugar.

Para muitos foi um dos maiores crimes praticados pela FIFA e por todos aqueles que preferiram votar em Lionel Messi, o argentino que só tinha levantado a La Liga nessa temporada, ou ido até aos quartos-de-final do Mundial de Futebol de 2010 realizado na África do Sul, invés de optarem pelo médio holandês que tinha sido uma das chaves para o sucesso quer do emblema italiano ou da Laranja Mecânica mostrando uma genialidade e inteligência extraordinária que deixou tudo e todos perplexos na altura. Passados exactamente 10 anos desse episódio, poderá se precipitar outra situação similar desta feita agora com o ponta-de-lança polaco Robert Lawandowski.

Relembrar os méritos do avançado na época 2019/2020: conquista da Bundesliga (melhor marcador com 34 golos), da DFB Pokal (melhor marcador com 6 tentos na Taça da Alemanha) e Liga dos Campeões (melhor marcador com 15 remates certeiros) pelo Bayern de Munique, enquanto pela Polónia foi um dos responsáveis pelo 1º lugar alcançado na qualificação para o Campeonato da Europa e também 1º lugar (para já) na Liga das Nações.

Num total de 47 encontros somados a nível de clubes, Lewandowski foi capaz de atingir a marca de 55 golos, enquanto pela selecção acertou nas redes por 6 situações em 8 jogos, sendo de longe o goleador mais prolífero no Velho Continente na faixa de tempo entre Agosto de 2019 a Setembro de 2020 – só Cristiano Ronaldo conseguiu se aproximar, graças à excelente sequência de golos pela selecção nacional nestes últimos 13 meses – e um dos atletas em voga de momento. Perante estes números e dados, conquistas e vitórias, exibições de gala e grande impacto não deverá ser Robert Lawandowski o favorito ao prémio de Melhor do Mundo em 2020?

A resposta é sim… contudo, todos os golos, registos, prémios e troféus garantem quase nada ao polaco em termos de vir a ser o vencedor do prémio, pois como demonstrado pelo exemplo de Wesley Sneijder, o imerecido muitas vezes encontra espaço na FIFA ou na France Football, lembrando que em 2020 não haverá Ballon d’Or como decretado pela revista francesa (uma decisão peculiarmente estranha porque as ligas mais importantes e provas europeias da época 2019/2020 foram até à sua última jornada ou jogo).

A votação democrática realizada nos The Best da FIFA abre espaço para o surgimento de injustiças, uma vez que uma boa parte dos votantes – sejam capitães, seleccionadores ou jornalistas – fecham os olhos ao mérito desportivo anual e votam nas suas escolhas pessoais ou em atletas lendários, que pelo seu estatuto ganham votos inexplicavelmente. Isto aconteceu não só em 2010 como em outras edições, encerrando o The Best ou Ballon D’or em redor sempre das mesmas duas personagens, Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, perpetuando por um lado o estatuto de mito a ambos mas também de desigualdade para com quem poderia e merecia ter subido ao palco como o melhor de uma da temporada.

A via democrática é o caminho fundamental da civilização, mas o modelo idealizado pela FIFA deixa espaço para vários problemas e dúvidas, sejam eles os votos mal atribuídos (já aconteceu por inúmeras ocasiões, e a FIFA tenta sempre relegar esse facto para um canto de esquecimento) ou pela dose de influência e conflito de interesses criadas entre países e/ou sujeitos ligados à indústria do futebol (vários capitães ou seleccionadores optam por dar o seu voto ao jogador que mais gostam, não ao que esteve ao melhor nível), colorindo com cores cinzentas o aspecto do mérito na atribuição do The Best.

A expectativa estaria sempre mais no Ballon d’Or da France Football, um mérito desportivo atribuído através de uma votação mais fechada e secular, não permitindo (teoricamente) que se registem certo tipo de situações, mas em 2020, como já dissemos, não haverá designação de melhor do Mundo para a revista francesa. Ou seja, 2020 tem tudo para ser uma repetição de outras e raras temporadas, em que efectivamente tivemos um jogador a um nível absurdo, que surpreendeu tudo e todos e garantiu troféus nacionais e internacionais, mas que no fim é ultrapassado porque não é um mito do futebol mundial ou por não ser o mais amado entre os vários milhões de fãs, adeptos, colegas de desporto, etc.

Ninguém está a colocar Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo como “problema“, pelo contrário pois ambos têm sido autênticas referências do Desporto Rei com uma marca quase totalmente positiva, sendo os seus apaixonados o entrave para se conferir outras “cores” à panóplia de vencedores do prémio de Melhor Jogador do Ano, tentando desmerecer os méritos e feitos de todos aqueles que ameaçam o reinado dos extraterrestres da bola redonda. Wesley Sneijder, Andrés Iniesta ou Xavi foram alguns dos nomes que ficarão para sempre na história do futebol pela sua importância nas suas equipas, sejam elas de clube ou selecção, mas sem direito a ver o seu nome inscrito como o melhor atleta de uma dada época, porque a honestidade intelectual dos seus colegas ou treinadores não existiu e porque as instituições imiscuíram-se dar valor a quem realmente foi essencial para as vitórias e excelentes registos de uma dada equipa de craveira mundial numa dada época.

É preciso ter noção que Lewandowski foi capaz de marcar mais de 55 golos pelo Bayern de Munique em 2019/2020, juntando-se ainda as assistências, somando ainda os números actuais de 13 tentos em 11 encontros, apresentando a tal consistência de números que só jogadores de um patamar máximo são capazes de o fazer. É fundamental pelo bem do futebol que o polaco suceda a Lionel Messi – mais uma vez ganhou o The Best em 2019 sem ter conquistado nada significativo ou realizado sequer uma temporada extraordinária – e assim se reponha alguma justiça no Desporto-Rei.

Para quem pode sentir que esta campanha por “Lewa” não tem grandes argumentos para chegar ao troféu, aqui ficam perguntas e respostas fáceis:

– Lewandowski não marcou golos importantes pelo Bayern de Munique na temporada passada. R. Não é verdade… exemplo de três jogos em que o polaco foi decisivo: foi responsável por dois golos dos quatro na final da Taça da Alemanha; marcou em todos os jogos da Liga dos Campeões 2019/2020 menos na final da competição, completando cerca de 15 tentos; e só não marcou em seis dos 36 jogos da liga alemã;

– Não fez nenhuma exibição que ficasse na memória dos adeptos, em especial na Europa. De novo, não é verdade. Nos 8-2 ao FC Barcelona, o polaco foi essencial mexendo toda o ataque com uma volatilidade e letalidade intensa, conquistado 95% dos duelos nesse encontro;


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