Sérgio Conceição: um homem e treinador de palavra?

Francisco IsaacDezembro 21, 20179min1

Sérgio Conceição: um homem e treinador de palavra?

Francisco IsaacDezembro 21, 20179min1
A época dos dragões tem sido de algum sucesso mas o Fair Play lança a dúvida... é Sérgio Conceição: um homem e treinador de palavra? A resposta está aqui

É o timoneiro do FC Porto um Homem de palavra? Um treinador sério e responsável que tem noção das afirmações que faz? Ou é Conceição da mesma índole que Nuno Espírito Santo ou Julen Lopetegui, no que toca ao trato com os jogadores e adeptos?

Olhando para os primeiros meses como treinador dos azuis-e-brancos, Sérgio Conceição tem sido fiel aos seus princípios, valores e, acima de tudo, palavra. Relembramos as palavras “duras”, mas honestas em relação à retirada de Iker Casillas do onze titular:

“Isto do Casillas tem a ver com o treino. Não posso fechar os olhos a 15 dias de treino abaixo da minha exigência”

Para bom entendedor meia-palavra basta e, deste modo, o novo treinador do FC Porto não quis continuar a charada do porquê do lendário guardião espanhol ter sido relegado para o banco de suplentes.

Observando bem o passado do antigo internacional português, Conceição sempre fez valer as qualidades que agora pauta no FC Porto: trabalho intenso, dedicação ao máximo, concentração total, esforço sem igual e capacidade de estar pronto para defender o colectivo. Por vezes, a assimilação em excesso dessas qualidades colocaram o agora treinador sobre a luz errada dos holofotes, recebendo críticas de “agressivo“, “excessivo” e “duro”.

Mas, em abono da verdade, estas particularidades conquistam um plantel como o do actual FC Porto. Quem é esse plantel? Jogadores com relativa experiência (ou até bastante), que vêem-se privados de títulos há algum tempo, mas continuam a reservar uma fome intrínseca de atingir um patamar alto a nível profissional.

É neste tipo de comportamento que muitos jogadores vêem uma 2ª oportunidade, como o caso de Moussa Marega (em 20 jogos, produziu 12 golos e 5 assistências), Diego Reyes (já iremos mais a fundo no caso do mexicano), Vincent Aboubakar (21 golos e 6 assistências… só ao nível dos melhores da Europa), Sérgio Oliveira, sendo estes os casos mais gritantes.

Marega e Aboubakar encontravam-se numa situação em que se sentiam indesejados aos olhos do FC Porto, renegados pelo clube porque alguém não confiava nas suas capacidades e que até demonstraram que não tinham qualquer vontade de voltar a vestir a camisola do clube da Invicta, como foi o caso do camaronês

“Ao FC Porto não volto. Nunca mais. (…) Faltaram-me ao respeito e nem que haja dinheiro volto.”.

As afirmações do dianteiro vieram a seguir ao 3-3 do Besiktas contra o SL Benfica na temporada passada, numa época de alto nível para o camaronês. Coincidentemente, Marega também completou uma época de altíssimo nível em 2016/2017 com 13 golos e 6 assistências em 25 jogos, apresentando um jogo bem interessante na frente do ataque dos vimaranenses.

Sérgio Conceição desde o dia que entrou no FC Porto tentou fazer “paz” com todos aqueles que estavam insatisfeitos, apresentando um papel que poucos o conheciam por: apaziguador. Convenceu Ricardo Pereira a ficar no plantel (apesar dos hipotéticos aliciamentos de clubes estrangeiros), conquistou Aboubakar de novo, teve uma conversa séria e directa com Marega, optou por ficar com Diego Reyes, reafirmou o papel importante de Sérgio Oliveira (mesmo com as dúvidas de todos os adeptos dos Dragões), entre outros “pactos”.

O caso de Marega é interessante, já que em Julho criticou a chegada tardia do avançado, sendo muito directo nas palavras ao maliano,

“Obviamente que quem me conhece sabe que, por norma, gosto de rigor e disciplina. Possivelmente o Marega não terá uns primeiros tempos muito fáceis, mas penso que se integrará depois e fará parte do grupo.”.

As “coisas” resolveram-se e em Setembro o treinador tentou explicar o porquê do insucesso do goleador no 1º ano de Dragão ao peito,

“O passado recente do Marega não foi o melhor? Se calhar não teve oportunidades para mostrar o que está a demonstrar hoje. Por vezes tente-se a exagerar em relação a isso. Também me falavam do Herrera. Ele foi um dos melhores jogadores no jogo passado. É um profissional fabuloso.”.

O trabalho, a responsabilidade, a concentração e os altos índices de compromisso com a equipa são valências do modo de viver de Sérgio Conceição e aqueles que assim o seguem ficam sempre a ganhar. Podemos até pegar no caso de Hector Herrera.

A relação ideal entre treinador e jogador? (Foto: Lusa)

Não é mentira nenhuma dizer que o mexicano foi uma das maiores desilusões do FC Porto nos últimos dois/três anos, apresentando, na maioria das situações, um futebol medíocre com um nível de passe muito abaixo do que se exige numa equipa da Liga NOS.

Com Sérgio Conceição, Hector Herrera pareceu acordar de um sono profundo, ergueu-se e voltou a assumir o meio-campo dos azuis-e-brancos com preponderância e seriedade. Não é o jogador com o melhor passe, com o remate mais fiável ou com uma excelente capacidade de gerir o jogo, contudo, está fisicamente disponível, trabalha por dois, tem um “pulmão” inesgotável e apresenta-se como um jogador que tanto faz de tampão como assume o papel de coordenador de jogo.

Ao contrário do que se passou com Nuno Espírito Santo por exemplo, Sérgio Conceição é um treinador mais moderado, por incrível que pareça, mais sério com o papel que desempenha, responsável pelas palavras que solta e pelas suas acções… até aquelas que parecem ser de um foro mais “cómico”. Falamos daquela multa que o FC Porto foi alvo por atraso na entrada em campo contra o Tondela, que o timoneiro dos Dragões disse logo que

“Se houver multa, eu pago. O atraso teve a ver comigo, não foi nada de especial. Dei as indicações que tinha a dar.”.

Esta forma de estar também causa dissabores para alguns, caso de Óliver. O médio-centro espanhol viu-se “apanhado” na rede de valores e principios de Conceição, não conseguindo atingir o nível de exigência que o treinador exige dentro de equipa.

O facto do espanhol desistir facilmente das bolas perdidas (em comparação com os seus colegas de posição), de não assumir com “raça” e “força” o papel no meio e de ter pouca predilecção de ocupar um posicionamento defensivo quando tem de ser, forçaram a Conceição a retirá-lo do onze titular. No futebol actual, só saber atacar (mesmo que seja de forma tão elegante como Óliver) não chega, muito pelo contrário.

O técnico azul-e-branco mete as necessidades da equipa acima das necessidades individuais e isso talvez é o caminho para o sucesso, ou pelo menos é uma das “pedras” dessa estrada.

E, por fim, o caso de Felipe revela também esse facto… o central teve uma acção que tem de ser classificada como “estupidez total”, ao agredir deliberadamente Ghezzal do Mónaco (após o jogador dos mongáscos ter feito o mesmo) no último jogo da fase-de-grupos da Liga dos Campeões. Esta acção levou a que Sérgio Conceição removesse Felipe do onze titular, com o central a ficar no banco nos jogos com o Setúbal, Guimarães, Marítimo e Rio Ave.

O central brasileiro vinha a ser um dos melhores jogadores do plantel do FC Porto, mas a sua acção intempestiva, incalculada, violenta e que o meteu em primeiro lugar invés da equipa, “forçou” a Conceição a alterar o onze e a colocar Reyes no eixo da defesa. Nos últimos três jogos, o FC Porto sofreu só um golo com Reyes a apresentar-se a um bom nível (existiram alguns calafrios, mas até nisso este FC Porto tem tido sorte ou mestria na hora dos resolver).

Em suma, com Sérgio Conceição há certos comportamentos, atitudes e reacções que não são de todo aceitáveis e que têm automaticamente um “castigo” em virtude dessa acção.

Ao contrário do que acontecia com Lopetegui ou NES, treinadores que acabaram por “destruir” a confiança do plantel, de virar o clube contra si próprios apesar de apresentarem um discurso muito pró-portista, Conceição sabe efectivamente estar com o plantel, comunicar com os seus actores e, de forma incrível, até de assumir uma boa postura com as equipas de jornalistas que “invadem” (positivamente) o Dragão.

O homem reaccionário, algo “selvagem” e sem capacidade de comunicar ainda não apareceu no Dragão… pelo contrário, há agora um treinador sério, responsável e que gosta de ser honesto para com os valores que o próprio estabeleceu aquando da sua chegada a um palco que já foi a sua “casa”.

Se a época do FC Porto vai terminar em vitórias e sucessos, disso há dúvidas, até porque o Campeonato/Taça de Portugal/Taça da Liga/ Liga dos Campeões, está muito longe do fim. Para já todos os objectivos estabelecidos até a Janeiro de 2018 parecem estar atingidos… mas falta o resto e o resto é que vai definir quem é verdadeiramente Sérgio Conceição.

Oliver no centro daquilo que Conceição não quer (Foto: Lusa)

One comment

  • leo

    Dezembro 22, 2017 at 10:38 pm

    Diego Reyes (já iremos mais a fundo no caso do argentino), mudem me isso.

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