Onde é que anda o Flop: Milan Stepanov, o substituto de Pepe

Francisco IsaacFevereiro 2, 20187min0
No Verão de 2007 chega Milan Stepanov, um sérvio chega ao Dragão para substituir Pepe e... não aconteceu. Conhece a história do central no FC Porto

Raros foram os jogadores da Sérvia ou da antiga Jugoslávia que singraram no futebol português, contando-se Drulovic (uma das lendas do FC Porto da segunda metade da década de 90), Markovic (enquanto jogador do SL Benfica foi um super-criativo), Tomislav Ivković (guardião que passou pelo Sporting CP, Estoril, Vitória FC, entre outros) e pouco mais. Não fugindo à regra, o FC Porto trouxe mais um sérvio para se juntar à lista de fracassos de seu nome Milan Stepanov.

Alguém se recorda do central? Alto, forte e espadaúdo, como diz a expressão portuguesa, o sérvio transferiu-se do Trabzonspor por uma quantia à volta dos 4M€, algo que na altura não era visto como despesismo, mas sim como um comportamento “normal” da SAD dos Dragões.

O sérvio chegou na altura que Pepe tinha sido contratado pelo Real Madrid e Ricardo Costa saído para o Wolfsburgo, abrindo espaço para mais um central no plantel. Com ele ainda veio Ernesto Farías, Mario Bolatti (já falámos dele), Leandro Lima, Przemyslaw Kazmierczak ou Mariano Gonzalez, sendo um mercado com uma mistura de sensações.

Mas antes de irmos ao momento que Stepanov chegou ao Dragão, tentemos nos debruçar no início de carreira e do porquê é que o FC Porto gastou essa boa quantia por um central algo desconhecido.

CENTRALÃO À MODA ANTIGA…

Formado no FK Tatra Kisač, o central ganhou rapidamente interesse e destaque ao ponto que foi convocado para a selecção da Sérvia de sub-21. O que tinha de tão especial? A forma coma saía com a bola a partir da defesa, a raça e físico no controlo ao seu “alvo”, o jogo aéreo astuto e eficaz e a capacidade de ir até à área oposta e de fazer a diferença.

Stepanov era, sem dúvida, um bom produto da formação da Sérvia, foi transferido com 17 anos para o Vojvodina, chegando à equipa principal com apenas 18 anos. Na equipa da cidade de Novi Sad, o central assumiu um papel preponderante no eixo defensivo, com aquela agressividade a sobrepor-se e a dar um contributo positivo para um clube, que apesar de tudo enfrentou os seus piores anos na Super Liga Sérvia.

Aos 23 anos, e depois de ter ganho maturidade e outras capacidades técnicas, Stepanov foi contratado pelo Trabzonspor, um clube que outrora tinha sido campeão na Turquia e, em 2006, sonhava em voltar ao levantamento de troféus (em 2004-2005 foi vice-campeão turco).

A primeira temporada, que na realidade foi só meia, Stepanov aterrou em Trabzon para tomar o controlo da defesa, sendo titular em 16 dos 17 jogos da segunda-volta, ajudando o clube a terminar em 4º.

A temporada seguinte foi um misto de sucesso e insucesso, assumindo a titularidade até à 19ª jornada, sendo que de seguida começa um período complicado, perdendo a sua posição de indiscutível. O sérvio não teve uma época formidável a nível colectivo, já que o clube sofreu 44 golos, apresentando-se como uma das piores do top-10, apesar de ter terminado em 4º lugar no campeonato.

A nível individual Stepanov foi um jogador que tanto professava uma boa dose de confiança e acutilância defensiva, como sucumbia perante os erros mais estranhos possíveis, com algumas trapalhadas monumentais. Todavia, Stepanov tinha talento e era um central já com arcabouço suficiente para arriscar noutro campeonato mais intenso… seguiu-se a vinda para o FC Porto.

Uma das melhores noites do Trabzonspor com Stepanov

O DRAGÃO PARA SUBSTITUIR PEPE… 1º FRACASSO

Voltando ao tema que começámos, Stepanov chega ao Dragão para fazer parte da “aula” do Professor Jesualdo Ferreira… como Bolatti, Stepanov teria de passar nos testes-de-fogo de um treinador que gosta de formar, mas também exige trabalho, estudo e desenvolvimento táctico. Sem isso, não há titularidade e as oportunidades com Jesualdo Ferreira escasseiam-se com facilidade.

O central sérvio jogou cerca de 21 jogos em duas temporadas pelos Dragões, sem nunca encantar. Pelo contrário, Stepanov apresentava sérias fragilidades em acompanhar os lances mais rápidos, com um descontrolo posicional nas bolas paradas ou em lances em que o ataque adversário colocasse a bola nas suas costas.

A derrota em Anfield por 4-1 foi um demonstrativo do “pior” que o central tinha para oferecer, já que três golos foram responsabilidade do central, que fez de tudo o pior nesse encontro: falha de marcação e péssimo na leitura do jogo aéreo; péssimo acompanhamento a quem estava a marcar; e penalti.

Esse encontro “manchou” Stepanov, que ainda assim viria a figurar em alguns jogos da Liga NOS pelos dragões, com exibições satisfatórias. Curiosidade, com Stepanov a titular o FC Porto só perdeu por uma vez (o tal jogo de Liverpool), isto na primeira temporada do central na Invicta.

Jesualdo Ferreira não ficou totalmente encantado com o sérvio e na temporada seguinte chegaria Rolando, vindo directamente do CF “Os Belenenses”… com a chegada do jogador português, o internacional sérvio (chegou à selecção em 2006 e jogou 6 jogos entre esse ano e 2007) ficou ainda mais arredado a equipa principal. Somou 390 em 2008/2009 numa temporada… pouco mais que 8 jogos.

Com o final dessa temporada, em que o FC Porto conquistara o tetra, Stepanov entrou no “Triângulo do Dragão”, ou seja, iniciou-se o processo de ir em empréstimo em empréstimo até acabar o contrato ou ser transferido por uma quantia inferior. Primeiro para o Málaga, onde mal jogou, e ficou lembrado por diversos erros no centro da defesa, assim como algumas lesões mais complicadas.

DE LESÕES EM LESÕES, ATÉ REGRESSAR A CASA

Em 2010 acabou transferido para o Bursaspor por uma quantia de 800 mil euros, algo muito abaixo do valor que o FC Porto pagara pela sua vida para a Invicta. A partir daqui começou o calvário e os problemas para o Sérvio. Nunca foi um titular assumida na formação de Bursa, com prestações intermitentes entre o satisfatório e o medíocre, denotando-se uma falta de confiança total que o foi arremessando cada vez mais para fora dos patamares internacionais.

Do Bursaspor passou para Mersin Idmanyurdu (que na altura estava na Primeira Liga turca, mas entretanto já “mora” na 3ª divisão), uma equipa que viveu um momento excelente de investimento, mas que foi de curta duração.

Sem desvios, Stepanov conseguiu uma última grande época na Turquia completando 26 jogos e 3 golos marcados. Todavia, a sua raça, espírito de sacrifício e agressividade física de nada valeu ao Mersin Idmanyurdu, uma vez que terminaram na posição de “lanterna vermelha” do campeonato turco.

Passou para o Omonia Nicosia do Chipre, mas devido a problemas físicos (lesões nas costas e coxa) também só conseguiu alinhar em uns parcos jogos… a sua forma física já não era a mesma, a capacidade de defender estava pior do que nunca e as lesões tinham tomado a cabeça… Stepanov estava muito perto de fechar a sua carreira.

Em 2015/2016 fez a sua última “espécie” de época quando assinou pelos bósnios do Sarajevo. Voltaria a casa em 2016 para o “seu” Vojvodina, mas já não teve capacidade para alinhar pelo clube que lhe possibilitou viajar para fora.

O internacional sérvio punha um ponto final numa carreira que teve altos, mas que de repente entrou numa descida tão a pique que raramente jogou, pondo em cheque todas as suas capacidades que prometiam tanto.

Milan Stepanov, teve nos pés boas possibilidades de chegar ao cume do futebol europeu, mas a sua falta de confiança e a desconcentração total em momentos cruciais da carreira (e ascensão de Rolando), tiraram-lhe as possibilidades de elevar-se a um patamar mais alto.

Ficam os dois campeonatos nacionais conquistados entre 2007 e 2009, mais uma Taça de Portugal em 2009. A serenidade com entrava em campo era só uma “máscara” para um atleta que precisava de mais confiança e apoio, nunca o tendo. Flop por força das circunstâncias, flop por não saber aproveitar as oportunidades e flop porque teve algum azar nas suas transferências.

Mesmo diminuído fisicamente, Stepanov não desistia


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