Os centrais do FC Porto: um problema com data marcada?
O FC Porto é, à data em que este artigo está a ser escrito, a defesa menos batida da Liga Portugal, com somente 8 tentos sofridos. Apesar do número ser bastante favorável, tendo em conta que já se passaram 11 jornadas, a equipa está somente no terceiro posto, com 25 pontos. Diogo Costa é um ponto fundamental para entender este fenómeno. O guardião português é claramente o melhor guarda-redes do nosso campeonato, estando inclusivamente no top mundial da sua posição. As suas exibições maquilharam por algumas vezes resultados do FC Porto, em partidas em que poderiam ter sido perdidos pontos com relativa facilidade.
A defesa dos dragões leva-nos ao tema deste artigo: deveria o FC Porto atacar o mercado por um defesa central?
Atualmente, a turma orientada por Sérgio Conceição conta com 4 (+1) atletas para a posição: Pepe, Iván Marcano, David Carmo e Fábio Cardoso (+Zé Pedro). Em termos de qualidade, é um lote de excelência. Transmite experiência e liderança, fatores fundamentais para o sucesso de um plantel. Em termos qualitativos, não fica atrás do lote de Sporting CP e do SL Benfica. Aqui o problema está na idade dos protagonistas.
Pepe conta com 40 anos de idade e termina contrato no final de 2023/24. Possivelmente, o Campeonato da Europa 2024 pode marcar a sua despedida dos relvados. Independentemente disso, apesar das boas exibições, já está em fase descendente, estando a sua temporada a ser marcada por lesões, que o deixaram inclusivamente fora dos compromissos da Seleção Nacional. Pepe e FC Porto são sinónimos um do outro, mas a carreira do internacional português terá que ter um ponto final.
A juntar-se a este caso, existe um outro semelhante, o de Marcano. Mais uma vez, não se coloca em causa a qualidade do jogador, mas está lesionado gravemente para os próximos meses e conta com contrato até 2025. O espanhol tem no seu histórico algumas lesões que lhe marcaram a carreira e a tendência é para piorar.
Faz sentido manter os dois elementos, que ocupam uma grande percentagem no orçamento salarial, com estes problemas? O FC Porto depende imenso destes atletas, mas os mesmos estão a “entrar nas últimas” e as suas debilidades vão (estão a) ser notadas. O problema é que não existem substitutos à altura no Olival.
Olhemos para David Carmo. É um central que custou 20 milhões de euros, proveniente do SC Braga. A ideia da direção era clara na sua contratação: acabar por se tornar um titular indiscutível. Contudo, além de não ser fácil para os reforços entrarem nas ideias iniciais de Sérgio Conceição, o jovem falhou em bastantes desafios de 2022/23. Durante 2023/24 está a ser titular, mas porque Marcano está lesionado. Não está totalmente relacionado com a sua qualidade. Tem somente 24 anos e conta com potencial, mas nunca é falado para uma possível convocatória para a Seleção Nacional, por exemplo, sendo esquerdino. A sua tardia afirmação coloca dúvidas se algum dia terá a capacidade de chegar ao nível de Pepe (ou de Marcano). Para o que custou, não faz sentido ser somente “mais um”.
Por fim, Fábio Cardoso. Não é um defesa que erre, sendo razoável no desempenho das suas funções. O FC Porto contratou-o para ele cumprir e ele tem sucesso no que faz. No entanto, não se pode comparar ao exemplo de David Carmo, já que o aveirense chegou a “peso de ouro”. Fábio Cardoso foi formado no Benfica, fez boas épocas no CD Santa Clara e até tem nível para estar em um dos “Três Grandes”, mas não com um papel principal. Ser o terceiro/quarto central é a sua missão e ele cumpre-a de uma maneira exímia. De facto, é o único do lote que está no seu papel, mesmo com a onda de lesões. Mesmo a titular não falhou, numa defesa remendada pelas lesões dos capitães.
Com esta pequena análise, chegamos a conclusão que o FC Porto necessita de contratar um defesa central com credenciais para ser titular. Sérgio Conceição atua com dois elementos nessa posição (se jogasse com três seria o caos), o que facilita a tarefa. Fazendo futurologia, David Carmo terá que se impor no lado esquerdo, mas falta um companheiro para o lado direito. Fábio Cardoso não tem qualidade para tal (pelo menos para todos os jogos de uma longa época). Pepe e Iván Marcano estão cada vez mais condicionados e em 2024/25 poderia pensar-se em ficar com somente um deles para ir rodando, apesar dos ordenados principescos que auferem. Novamente aqui a questão da liderança é importante. Perder dois nomes com peso pode não ser saudável para o balneário.
O FC Porto ou descobre uma grande oportunidade de mercado, ou terá que realizar um alto investimento no mercado de janeiro ou no de verão. O central jovem está caro, veja-se o caso de Ousmane Diomande ou do próprio David Carmo. Infelizmente para o clube dirigido por Jorge Nuno Pinto da Costa, os rivais não passam por este problema. O Benfica tem Otamendi como elemento mais velho (ainda que um grande líder), mas António Sila-Morato são uma dupla de qualidade e de confiança para o futuro. No Sporting, Ousmane Diomande-Coates-Gonçalo Inácio dão tranquilidade, embora o uruguaio esteja em quebra. A presença de St.Juste no banco de suplentes dos leões, sendo o neerlandês um dos melhores centrais da liga, exibe o patamar que existe para Rúben Amorim.
Este é um problema que está a ser ignorado pela estrutura do FC Porto, porque as exibições de Diogo Costa têm ocultado certos duelos pobres da defesa dos dragões (como no caso da primeira parte do desafio ante o Vitória SC). Porém, quando a decadência começar a ser mais notória, nomeadamente a de Pepe, tornar-se-á no problema número 1 do clube, pelo menos a nível de plantel, já que a instituição não vive momentos de glória.