O como Andrés Villas Boas ganhou as eleições no FC Porto

Francisco IsaacAbril 28, 20245min0

O como Andrés Villas Boas ganhou as eleições no FC Porto

Francisco IsaacAbril 28, 20245min0
Com 80% dos votos, André Villas Boas é o novo presidente do FC Porto e olhamos como o líder dos dragões construiu o caminho até à vitória

Com 80% dos 27 mil votos colocados nas urnas, André Villas Boas foi eleito o 32º presidente da história do FC Porto, sendo quem se segue a Jorge Nuno Pinto da Costa que abandona a sua presidência quase ao fim de 50 anos. O que isto significa para o clube? Possibilidade de mudança. Reformulação da estrutura interna. Mentalidade. E, acima de tudo, responsabilização dos erros que foram sido constantemente cometidos nos últimos dez anos. Porém, como é que André Villas Boas somou 21 mil votos e obteve uma maioria absoluta dos votos dos sócios dos dragões? Há algumas formas de ver e perceber o que se passou no dia 27 de Abril de 2024, e começou precisamente na campanha.

ABERTURA

André Villas Boas apresentou-se como um sócio, adepto, apaixonado com convicções e ideias ao universo do FC Porto. Sem pretensiosismos, sem arrogâncias e sem entrar em lamirés que outros candidatos optaram por utilizar como arma de arremesso. Villas Boas não se quis apropriar do clube, não puxou dos galões do seu serviço ao clube enquanto scouter no fim dos anos 90 do FC Porto ou como treinador que conquistou uma Liga Europa, Primeira Liga e Taça de Portugal. Todos os cabeças-de-cartaz da Lista B seguiram os mesmos passos de Villas Boas, o que tornou a campanha sã e positiva.

CRÍTICAS

Fez André Villas Boas críticas à actual direcção do clube? Sim e não. O novo presidente dos azuis-e-brancos colocou Jorge Nuno Pinto da Costa, Fernando Gomes e os restantes membros da direção debaixo do holofote da responsabilidade, enumerando os diversos erros e problemas que fizeram parte do ADN da lista A. Curiosamente, o antigo treinador foi cortês com o agora demissionário presidente, nunca tentando enlamear a imagem de alguém que trabalhou e serviu o clube nas últimas quatro décadas, enquanto este (assim como João Koehler) optou por denegrir a imagem de Villas Boas sempre que pôde, com golpes baixos e que acabaram por riscar a imagem de alguém que outros tempos foi um orador dotado do desporto português e mundial. A diferença do discurso entre listas foi clara e facilmente colou com a larga maioria dos sócios, que perceberam que por detrás das palavras de Jorge Nuno Pinto da Costa não havia uma ideia ou projecto.

SERIEDADE

Quem está à frente tem tudo a perder, e o facto é que Jorge Nuno Pinto da Costa entregou uma série de argumentos a André Villas Boas fruto da falta de seriedade em que discutia certos temas. A possível reentrada da UEFA no clube da Invicta para voltar a impor um aperto de cinto foi levantada pelo novo presidente do clube há duas semanas trás, com a direção demissionária a refutar essa ideia, chegando mesmo a dizer que eram mentiras provocadas para criar um caos interno.

Porém, a Lista A foi forçada a confirmar que uma multa da UEFA pode estar prestes a chegar se certos pressupostos financeiros não forem cumpridos e respeitados, isto a dois dias da ida às urnas. A questão da academia foi um drama permanente na campanha, a forma como falaram de certos temas sobre as modalidades foi sempre carregado de uma desonestidade total – invés de relembrar o desenvolvimento do andebol, o apoio ao voleibol feminino e os vários títulos internacionais na natação -, oferecendo munição à Lista B, que soube transformar estes erros em argumentos com princípio, meio e fim. Outro ponto importante foi a forma degradante como a família Pedroto foi tratada pela agora direcção demissionária, demonstrando que não havia limites, ultrapassando o bom senso. E não esquecer que João Koehler fez sugestões complicadas, dizendo que estaria no Dragão à espera de André Villas Boas, algo inacreditável e impassível de ser aceite numa sociedade civil democrática.

IDEIAS

No decorrer de toda a campanha, Jorge Nuno Pinto da Costa foi incapaz de conferir forma a um projecto inexistente, quase querendo fazer continuação com a fraca gestão dos últimos dez anos. A Academia da Maia acabou por cair num lodo de polémicas que está a custar a ser ultrapassado, com possibilidade de vários membros ligados a Jorge Nuno Pinto da Costa ganharem proveitos económicos com a construção dessa infraestrutura. Villas Boas falou das possíveis dificuldades que o clube enfrentaria consigo ao leme, sendo claro que nada ia ser fácil, sobretudo porque os problemas financeiros iriam colocar entraves a um futuro risonho, havendo uma necessidade gritante de mudar o rumo. Falou da necessidade da formação ser uma garantia para o plantel sénior no que toca ao futebol e restantes modalidades (tentou evitar o tema dos irmãos Costa por respeito a estes), de redefinir a necessidade de iniciar novas modalidades e secções de actualizar o clube que parece viver do passado.

A soma destes factores mais a juventude e frescura ofereceram a Villas Boas uma vantagem enorme que até no dia das eleições resultou em acusações graves por parte de Jorge Nuno Pinto da Costa, acusações essas que vão acabar esquecidas muito pelo novo presidente fazer questão que assim seja. Se o futuro vai ser positivo para o FC Porto? Ninguém sabe, e é impossível tecer linhas vitoriosas sem antes ver trabalho, mas o facto é que o momento perfeito para revolucionar o clube e guiá-lo para uma nova era, com menos guerra de Norte vs Sul, de pressões a atletas da formação para assinarem por certos empresários ou de problemas financeiros escondidos atrás das vitórias dos diversos plantéis e modalidades que compõem este ramalhete azul-e-branco.


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