Se não joga o João Félix joga o Jona… joga o Manel!
Foi no ano de 2014 que Jorge Jesus disse a célebre frase “O que interessa é jogar com 11. Se não joga o Matic joga o Manel”. Apesar da sátira à volta da forma como o então treinador encarnado passou a mensagem, a ideia é clara e sustentada. Interessa mais o sistema e a ideia do que um jogador específico. Na altura o jogador era Matic, hoje as mudanças no plantel encarnado são maiores.
Bruno Lage irá, pela primeira vez, iniciar uma temporada no leme da equipa principal e perdeu dois jogadores de uma só posição: João Félix e Jonas. O primeiro para o Atlético de Madrid e o segundo para a reforma. Se Jonas deu, nesta última época, um contributo intermitente, Félix foi um dos pilares da remontada encarnada.
A entrevista de Lage à BTV mostrou que concorda e discorda da ideia expressa por JJ em 2014. Disse que era para manter o sistema, mesmo com as mudanças, que queria a equipa o mais parecida possível com a que acabou a época da reconquista. Por outro lado, disse que o sistema e as dinâmicas dependem daquilo que os jogadores trazem para o jogo. Parece um paradoxo, mas não é.
A ideia é um equilíbrio entre a preponderância do sistema e as caraterísticas dos jogadores. A ideia matriz é do treinador mas deve ter em conta a matéria-prima que tem em mãos. Como disse Lage, não faz sentido ter um jogador como Rafa, que queima linhas bola e vive da explosividade, a jogar encostado à linha a jogar ao primeiro toque, por mais que o treinador queira esse sistema.
Mas afinal, quem joga com Seferovic?
Das contratações já realizadas pelo clube da Luz, Caio Lucas parece ser uma solução para a posição. Raul de Tomas é um ponta-de-lança para discutir o lugar com Seferovic e Chiquinho é jogador para outras funções. Caio pode jogar como extremo mas tem as qualidades para fazer o papel de segundo avançado: tecnicista, boa visão de jogo e faro de golo. Tudo o que mostrou foi no Al Ain dos Emirados Árabes Unidos mas são boas indicações.
Dentro do plantel havia já Jota, Rafa e até Taarabt, tudo opções que Lage assumiu ter na época passada. Apesar disso, todos estes são jogadores totalmente diferentes de Félix e, ainda mais, de Jonas. O “buraco” deixado pelos dois será difícil de tapar mas crucial para o sucesso da época dos campeões nacionais. Todo o sistema depende da capacidade de alguém aparecer entre linhas no meio e andar solto pelo campo a criar desequilíbrios.
As opções são várias e nada nos diz que LFV não vai trazer mais alguém para a posição, mas voltamos ao equilíbrio já falado. Se o sistema de Lage está provado, terá que se reinventar e voltar a provar com outro(s) jogador(es). Jogue quem jogue, as dinâmicas e as movimentações serão diferentes das de Félix. Cabe a Bruno Lage e à sua equipa fazer a máquina funcionar com outro jogador no lugar do miúdo agora do Atlético de Madrid.
Mudar o sistema, mudar a ideia?
Uma das perguntas feitas na entrevista à BTV foi se o 4-4-2 seria para manter. Bruno Lage respondeu que, apesar de tudo depender do que for sentindo na pré-época, a ideia é essa, manter o sistema. Poderia pensar-se num regresso ao 4-3-3 com dois extremos puros e a ingressão de Chiquinho com Pizzi no miolo. Vimos na época passada como Lage gosta das dinâmicas do 4-4-2 e o quão bem sabe trabalhá-las e, por isso, é natural que essa seja a ideia principal.
Tudo isto será uma das grandes provas de fogo ao treinador nascido em Setúbal. Encontrar soluções para um miúdo fundamental na sua ideia de jogo, sem ter a segurança de ter um craque como Jonas para ocupar o lugar é um desafio à séria. Tudo isto a juntar à pressão de ser o campeão em título e se exigir uma melhor campanha nas taças e, claro, na Europa.
A preparação de uma temporada, a construção de uma equipa e de um sistema que, forçosamente, sofrerá mudanças serão também testes complicados. Lage mostrou, em 5 meses, ser um treinador muito capaz e que sabe o que pretende. O que resta saber é se o conseguirá pôr em prática com o Féli… o Jona… com o Manel.