Benfica em crise: mais que as causas, as soluções
Depois da conquista do tetracampeonato, a equipa do Benfica sofreu uma volta tremenda que se reflete nos resultados. Com uma pré-época monetariamente excelente (130M em vendas), a parte desportiva parece ter sido descurada. Sem reforços para colmatar “de caras” os pilares que deixaram o clube, cabe a Rui Vitória fazer omeletes com menos ovos que nunca.
8 jogos, 2 derrotas, 1 empate e 5 pontos atrás dos rivais diretos na luta pelo título. São estes os números do arranque encarnado que fizeram soar os alarmes da Luz. Mesmo nas vitórias (exeptuando, talvez, a conquista da Supertaça) o Benfica tem apresentado limitações preocupantes. Apesar de não ser o único, o setor defensivo é o mais castigado (fruto da saída de 3 titulares).
A diferença de ter ou não ter Pizzi
O leitor mais atento dirá “mas Pizzi fez todos os jogos esta época”. E com razão, Pizzi jogou todos os minutos desta época. A diferença reside em ter um Pizzi a jogar o que nos habituou na época passada ou um Pizzi perdido em campo. A forma do médio está ligada à forma do Benfica numa espécie de círculo sem fim. Se Pizzi joga mal o Benfica joga mal e se o Benfica joga mal Pizzi joga ainda pior. Estão ligados como se de uma dependência mútua se tratasse.
Pizzi é o centro da construção encarnada e a solução para a sua crise passa por continuar a sê-lo. Mas com apoios e tarefas ligeiramente diferentes. Quando não há Fejsa é Pizzi quem vem construir com os centrais, perdendo a influência que tem em fases mais avançadas do jogo e desgastando-se. É sempre o médio mais recuado que deve assumir a despesa do início da construção libertando o transmontano.
Para além deste apoio é essencial dividir o centro do jogo com os dois flancos. Neste momento a bola apenas entra nas alas para o 1×1 dos extremos ou para cruzamentos para a área. Trazer um dos extremos mais para o centro para ser mais um construtor é o que Pizzi precisa. Com Salvio e Cervi (fortes no 1×1), o único apoio do médio é Jonas mas o brasileiro não tem o físico necessário para as “piscinas” que a construção exige. Krovinovic e João Carvalho seriam opções claras para esta função.
A badalada mudança tática
Rui Vitória tem que, de uma vez por todas, mostrar como quer jogar. Se quer uma construção apoiada no génio de Pizzi ou um futebol de ataque rápido e vertiginoso. No primeiro caso deve, forçosamente, garantir ajuda ao médio para este pegar no jogo com critério e qualidade. No segundo caso deve fazer cair mais jogo nas alas e explorar mais o 1×1 dos seus extremos.
O técnico ribatejano referiu mudanças táticas para esta época e passa por aí uma das soluções. Abdicar da dupla de avançados está fora de questão. É neles que reside a identidade deste Benfica e muita da qualidade de jogo dos encarnados. Como já referimos, a mudança de um extremo deve ser a resposta. Salvio não traz nada de novo à equipa e a utilização da sua posição para a construção é uma alternativa excelente.
Apesar disso, Rui Vitória parece mais inclinado para um futebol mais partido e apoiado na velocidade dos seus extremos. Aí afigura-se importante a capacidade de lançar jogo da dupla de médios. Filipe Augusto tem a qualidade de passe necessária mas perde-se defensivamente, desequilibrando a equipa. Fejsa é mais posicional e não encaixa nesse modelo. Abdicar do sérvio seria bom para essa ideia de jogo mas pode quebrar a equipa com uma defesa já fragilizada. Sobra Samaris, que pode trazer o equilíbrio entre a segurança e a saída ao meio campo encarnado. O grego não tem sido opção mas as suas caraterísticas fazem sentido no futebol que o mister pretende.
Uma mudança afigura-se crucial para trazer frescura ao modelo encarnado. Cabe a Rui Vitória montar a equipa à sua imagem e com as suas próprias ideias.
O problema maior: a defesa
Não é fácil, em 2 meses, rotinar uma defesa praticamente nova. Aliando isso à menor qualidade dos jogadores que o Benfica, neste momento, dispõe, o caso torna-se ainda pior. André Almeida cumpre a lateral direito mas nunca passará disso. O histórico de lesões de Jardel abre lugar a dois centrais sem rotinas com Luisão. E por fim, Bruno Varela não demonstrou, até agora, qualidade para jogar na Luz. Uma defesa desfeita que pode custar um penta inédito na história dos encarnados.
Rui Vitória não tem, na verdade, grandes soluções ao seu dispor. A mais óbvia passa pela titularidade de Júlio César, levando maior experiência e segurança à baliza. Além disso, apenas o trabalho pode melhorar a defesa do Benfica. Trabalho aliado a uma maior competência do departamento médico garantindo Jardel, Grimaldo e Fejsa. Foi no sérvio que residiram os equilíbrios na época passada e o seu regresso trará certamente melhorias.
Mais que um problema para Rui Vitória resolver no imediato, este é um problema com solução em Janeiro. Reconhecendo a má aposta na pré-época, a estrutura deve trazer jogadores de créditos firmados para garantir qualidade. Daí sobressaem 3 jogadores já falados pelo FairPlay em Julho. Sidnei traria segurança ao eixo da defesa, Elabdellaoui seria titular de caras na ala direita e Lemina traria outra qualidade à construção. No que à defesa diz respeito, o Benfica deve atacar o mercado, procurando novas e melhores soluções.
A solução anímica
Para além das soluções já apresentadas, há uma que já mostrou resultados neste Benfica. Rui Vitória deve voltar a apostar naquilo que é mais forte: a unir o plantel. Tal como na sua primeira época na Luz, a equipa encarnada enfrenta um período difícil. Nessa altura veio ao de cima a capacidade anímica de Rui Vitória unindo o plantel num objetivo comum.
Foi na união dos jogadores que o Benfica encontrou o caminho para o tricampeonato. Este será também um aspeto crucial no caminho para o penta. Cabe a Rui Vitória motivar um plantel desanimado e emocionalmente cansado e, assim, trazer a melhor versão de cada jogador.
Nesta linha de pensamento emergem jogadores como Luisão e Jardel. Os capitães do Benfica têm um papel preponderante no ânimo do plantel e na união do grupo. Os dois centrais são líderes desta equipa e devem mostrar-se como tal, trazendo a garra necessária para a longa época que agora começou.
Em suma, o sucesso do Benfica depende de Pizzi, de Rui Vitória e do mercado em Janeiro. O primeiro deve voltar à forma que exibiu na época passada e o segundo proporcionar que isso aconteça. O mercado apresenta-se como uma alternativa de recurso para recuperar a qualidade que se perdeu com os milhões que entraram no Verão.