E agora, Mister Rui? Onde está a Vitória?

Pedro AfonsoDezembro 8, 20178min0
Humilhados na Champions League, já com mais derrotas do que em toda a época passada e o 3º lugar na Liga, onde irá parar o Benfica?

O sucesso não vem duma fórmula mágica e, na grande maioria das vezes, basta não mexer muito no pré-existente para poder singrar. Rui Vitória tem o condão de saber trabalhar sobre uma base de 6 anos do seu antecessor e evoluir onde se podia evoluir: na união de balneário. Passados dois anos, as bases desaparecem, a qualidade individual diminui drasticamente e as parcas capacidades do timoneiro ribatejano como treinador (diferente de “manager”) emergem. Humilhados na Champions League, já com mais derrotas do que em toda a época passada e o 3º lugar na Liga ainda sem ter defrontado o Sporting CP, onde irá parar o Benfica? E quando é que se pode dizer que basta?


Um treinador de futebol, ao contrário daquilo que se possa dizer, vive das mesmas métricas de avaliação que regem todas as outras profissões: o momento. Nenhuma empresa de sucesso poderá manter nas suas fileiras um empregado apenas pela sua simpatia, espírito ou carácter: os resultados do momento ditam a continuidade da aposta ou o divórcio entre as partes. Obviamente que os sucessos passados poderão (deverão) intervir no momento de avaliação do estado laboral de um trabalhador, mas não devem toldar a visão para o momento atual e para as perspectivas a curto-prazo. A não ser que falemos de Rui Vitória.

A 09 de Novembro de 2017, o presidente do SL Benfica anuncia, no meio de muitas outras informações, que Rui Vitória não está sujeito a resultados desportivos e que, caso seja necessário, renovará com o treinador para reforçar a confiança que tem no mesmo. Este tipo de confiança é notável e, talvez o mais adequado, de um lirismo absurdo (pondo de lado todas as teorias da conspiração que possam existir, que tenham um fundo de verdade maior ou menor). A imagem de Rui Vitória está cansada, gasta, e Luís Filipe Vieira corre o risco de denegrir a sua ao continuar nesta aposta sem sentido.

“Tens memória curta! Em 16 títulos, o Benfica ganhou 12!”

A contabilização de títulos é, de facto, aquilo que mais interessa ao comum dos adeptos. Por vezes, até se poderá desculpar meios mais duvidosos para se atingir o fim, desde que haja mais um título na prateleira. E seria hipócrita ou idílico achar que há pouco mais que interessa que os títulos. Contudo, o futuro do SL Benfica não vive do passado. Se o passado fosse o pão de cada benfiquista, o clube encarnado teria de ser considerado um dos maiores clubes europeus, o maior de Portugal, um top 10/15 da UEFA. Mas, não o é. Tal como os adeptos do FC Porto não vivem dos sucessos europeus bem mais recentes ou os adeptos do Sporting CP não vivem do último campeonato conquistado.

A época transacta é relevante até começar a nova época e, aí, ilações deverão ser tiradas do trabalho das equipas técnicas. Se, neste momento, o Benfica apresenta um nível de futebol apenas apresentado por Chalana, Quique Flores e Camacho (2ª passagem) nos últimos 10/15 anos, porque deverá ser mantida a aposta num treinador que falha na sua maior tarefa: treinar?

Todos os ciclos têm de acabar [Fonte: Record]

“Só agora que o Benfica perde é que se queixam do RV”

A fraca (para não dizer paupérrima) qualidade de jogo das equipas de Rui Vitória não é novidade e é apontada desde os primeiros meses de trabalho do técnico na Luz até à data de hoje. Os resultados podem mascarar ou fazer esquecer as exibições menos conseguidas, mas será desonesto dizer que o Benfica de Rui Vitória alguma vez jogou “bem”.

Obviamente que jogar bem apenas funciona quando se ganha, contudo uma equipa que joga bem está sempre mais perto de ganhar do que uma equipa que joga mal. E se em anos transactos o plantel encarnado tinha qualidade individual sempre superior aos seus adversários diretos, o que permitia, pelo menos, não perder todos os confrontos diretos e ganhar os jogos mais “fáceis”, este ano isso não acontece. E quando os jogadores não são tão excepcionais que, por si só, resolvem o jogo, a tática e o modelo de jogo serão sempre a forma mais consistente para chegar à vitória.

O espelho da mediocridade encarnada [Fonte: A Bola]

“Também venderam metade da equipa…”

Esta é, talvez, a componente onde Rui Vitória se pode considerar uma vítima. Nenhuma estrutura, do alto da sua sabedoria, poderá considerar que uma equipa que perde Ederson, Lindelof, Nelson Semedo e Mitroglou, e apenas investe cerca de 15M em jogadores de qualidade duvidosa conseguirá manter níveis exibicionais e competitivos iguais ao de épocas transactas.

Rui Vitória não pode fazer ovos sem omeletas e Bruno Varela, Svilar, Douglas, Pedro Pereira, Seferovic, Lisandro e Gabigol não são alternativas viáveis. Apesar disso, o ônus da escolha de Douglas e Gabigol foi colocado no técnico pelo Presidente (apesar de no jogo seguinte RV ter deixado ambos na bancada) e Pedro Pereira e Lisandro tiveram mais que tempo para serem avaliados e vendidos se não serviam os propósitos do treinador.

O treinador pode até nem ter nenhum poder de decisão sobre as contratações, tanto de entrada como de saída, contudo, no futebol moderno, isto parece cada vez mais irreal e menos condizente com a complexidade do cargo de treinador. Principalmente quando se diz a plenos pulmões que “Mitroglou seria o 4º avançado” e Jímenez não consegue assumir a titularidade e Seferovic não marca desde Outubro.

“Lançou muitos jovens”

O lançamento de jovens na equipa principal é diferente de potenciar o seu sucesso. Rui Vitória foi talvez o treinador do Benfica dos últimos 20 anos que mais jovens lançou e a taxa de sucesso tem sido soberba. Gonçalo Guedes, Renato Sanches, Nelson Semedo, Lindelof, Ederson, entre muitos outros, são o espelho desta valência inegável do técnico.

Mas tudo isto se torna mais fácil quando a qualidade existente é tão grande que se pode dar ao luxo de lançar estes jogadores sem preparação prévia. Enquanto em anos transactos, esta tática funcionou amplamente, este ano está longe de dar frutos e poderá até ser argumentado que praticamente todos os jovens lançados este ano foram “queimados”, quer por falta de qualidade, quer por falta de paciência e racionalidade na aposta.

“Também ninguém achava que o Benfica ia ganhar a Champions”

Uma equipa do pote I, por muito limitada que esteja em termos de orçamento comparativamente a colossos europeus, tem sempre obrigação de ficar nos dois primeiros lugares do grupo. A campanha europeia encarnada é de uma vergonha atroz, que suplanta inclusive os 7-1 contra um Super-Celta. Os adversários não eram de dificuldade acrescida e ser goleado 5-0 pelo Basileia deveria dar, por si só, direito a uma revisão dos termos contratuais.

Estar incluído num grupo restrito de equipas que não pontuaram, ser a pior equipa portuguesa de sempre nas competições europeias, ter mais auto-golos do que golos marcados, não está ao alcance de qualquer um. E pensar-se-ia que estaria mais distante para o Tetra-campeão.

Inenarrável [Fonte: Lusa]

“Ainda podemos ser penta”

O Benfica pode chegar ao Penta-campeonato, até porque se encontra apenas a 3 pontos da liderança. Contudo, a baixa qualitativa do nível de jogo e, acima de tudo, certos jogadores fulcrais como Pizzi, Jonas, Grimaldo e Luisão, parecem ser o maior obstáculo a este mesmo objetivo. A equipa não demonstra mentalidade vencedora, nem sequer de superação, e até os próprios jogadores parecem demonstrar algum desconforto face às opções técnicas de Rui Vitória (a insistência em Filipe Augusto, a gestão de Zivkovic, a titularidade por decreto de Luisão e Salvio, o lançamento de Svilar…).

Se há ainda hipóteses de ser campeão, o Benfica deverá começar a vê-las como uma miragem, cada vez mais. A falta de qualidade e de competência atingiu níveis grosseiros este ano.

Uma equipa nunca se pode cansar de ganhar e as vitórias devem alavancar mais investimento e mais vitórias. Quando essa tendência é invertida e o homem do leme não demonstra ter dedos mágicos para reverter a situação, algo terá de mudar. Seja o treinador, que deveria já ter colocado o seu lugar à disposição, seja a direção, que não conseguirá passar incólume a um putativo fracasso desportivo na época do Penta. E agora?


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