Benfica, Porto ou Sporting, qual o emblema com maior envolvência regional?

Francisco da SilvaJaneiro 29, 20185min0

Benfica, Porto ou Sporting, qual o emblema com maior envolvência regional?

Francisco da SilvaJaneiro 29, 20185min0
Entre bancadas vazias ou estádios cheios há sempre quem questione a capacidade de um clube envolver os seus conterrâneos. Quem envolve mais adeptos?

Em mais um artigo da rubrica Futebol Científico, o Fair Play decidiu aprofundar a relação existente entre a dimensão da cidade e o número de espectadores presentes em cada recinto. O resultado da nossa análise para a temporada desportiva 2017/2018 é surpreendente e sintomático da envolvência regional de alguns emblemas nacionais.


Ao longo de 18 jornadas para a Liga NOS, assistimos invariavelmente ora a estádios completamente “às moscas” ora a estádios bem compostos e, em raros casos, totalmente esgotados. Porém, o número de pessoas que assiste nas bancadas ao encontro pode não corresponder na íntegra ao grau de envolvimento que o clube tem com a sua cidade de acolhimento. Em clubes nacionais situados em pequenas vilas do nosso país, devemos ser razoáveis e não olhar com desdém quando vemos 1000 ou 2000 espectadores, até porque uma boa parte da pequena vila pode estar a apoiar incondicionalmente o clube da sua terra.

Da mesma forma, não devemos ficar deslumbrados com estádios quase lotados com 40 a 50 mil adeptos quando os emblemas em questão se situam em grandes centros urbanos. A génese da questão reside antes na percentagem de conterrâneos que um clube consegue cativar para as suas bancadas. Para estudarmos com maior detalhe esta problemática, decidimos lançar um pequeno estudo com base nos dados presentes no portal da Liga de Clubes para a temporada 2017/2018, seguindo os seguintes passos:

  1. Recolhemos o número total de espectadores nos jogos em casa por clube;
  2. Excluímos o número total de espectadores nos jogos em casa frente ao FC Porto, Sporting CP e SL Benfica por clube;
  3. Dividimos o número total de espectadores, excluído dos jogos com os “grandes”, pelo número de jogos em casa.

Posto isto, deparamos com as seguintes médias de assistência:

Tabela 1: Média de Espectadores em 2017/2018

Como podemos ver acima, o SL Benfica continua a ser o clube com maior número médio de espectadores no seu reduto e com uma distância significativa para o Sporting CP e o FC Porto. Fora dos “grandes”, nota para a média de espectadores do Estádio D. Afonso Henriques e do Estádio Municipal de Braga que são os únicos recintos capazes de superar a fasquia dos 10 mil espectadores. Não deixa de ser interessante constatar que apenas 6 emblemas nacionais conseguem colocar em média mais de 5 mil espectadores nos seus encontros.

Do outro lado da barricada temos os emblemas do CD Tondela, do Moreirense FC e do Estoril Praia que não conseguem encher os seus estádios com pelo menos 2 mil espectadores. Igualmente desolador é o número médio de aficionados que se deslocam a Belém, à Vila das Aves e a Setúbal para ver o desempenho das respetivas equipas.

Após constatarmos a média de espectadores de cada um dos clubes do principal escalão, recorremos aos dados do último Census (2011) para encontrarmos o número de habitantes dos municípios onde estão sediados cada um dos clubes. Abaixo, indicamos os dados obtidos:

Tabela 2: Número de Habitantes dos Municípios (Census 2011)

O último passo da nossa análise consiste em cruzar o número médio de espectadores por clube com o número de habitantes do concelho onde esse mesmo clube está situado, obtendo assim a “envolvência” que existe em o clube e o concelho, ilustrado abaixo:

Tabela 3: Grau de Envolvência em 2017/2018

Os dados acima mencionados dão-nos um retrato do futebol português extremamente interessante, nomeadamente se compararmos com a primeira tabela apresentada. Em contraste com a análise exclusiva do número de espectadores, esta nova variável “envolvência” mostra-nos que o clube que consegue cativar mais habitantes da sua cidade na temporada desportiva 2017/2018 é o FC Porto.

Apesar do número médio de espectadores não ser o maior em termos absolutos, o emblema azul e branco consegue ter uma maior percentagem de conterrâneos no seu estádio, sendo assim o único clube a ultrapassar a fasquia dos 10%. Igualmente interessante e de certa forma corroborado pelo apoio fiel e incansável dos seus aficionados, é o grau de envolvência do Vitória SC que fica claramente à frente do Sporting CP. Outros emblemas que merecem uma nota de apreço são o GD Chaves e o CD Tondela pois conseguem envolver, respetivamente, mais de 7% e 5% dos seus conterrâneos. Na cauda da tabela encontra-se o histórico clube do Restelo que, tal como o Estoril Praia, não consegue envolver nem 1% dos habitantes do município de Lisboa.

O Vitória FC e o Boavista FC juntam-se também ao role de emblemas históricos que, apesar de serem altamente carismáticos no panorama nacional, não conseguem cativar suficientemente os seus aficionados.

A envolvência regional continuará a ser um tópico de discussão entre os adeptos mais preocupados com o futuro do futebol português. Se é certo que é impossível termos um grau de envolvência de 100%, pois implicaria que o número médio de espectadores fosse igual ou superior ao número de habitantes do município, os clubes devem esforçar-se ao máximo para envolver os seus conterrâneos, caso contrário podem colocar em risco a sua própria existência institucional no longo prazo.


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