Onde é que anda o Flop: Rubens Júnior, magia nas Antas e na Disco

Francisco IsaacJulho 21, 201810min0

Onde é que anda o Flop: Rubens Júnior, magia nas Antas e na Disco

Francisco IsaacJulho 21, 201810min0
Um lateral de qualidade in the making que chegou campeão da Libertadores às Antas, mas que não teve um final feliz no FC Porto. Terá sido Rubens Júnior um flop?

Os anos entre 1999 e 2002 não foram propriamente felizes para o FC Porto, que passou por uma seca invulgar desde que Jorge Nuno Pinto da Costa tinha assumido o lugar de presidente do clube. Duas Taças de Portugal e uma Supertaça representaram o pecúlio que os azuis-e-brancos conquistaram nesse espaço de tempo com Fernando Santos, Octávio Machado e José Mourinho.

Dessa altura uma série de nomes de vários jogadores, que conviveram nas Antas, foram algo esquecidos pelo tempo, como Clayton (possuidor de um perfume inegável com a bola nos pés), Pena (máximo goleador um ano, desilusão no seguinte), Ricardo Silva, Miran Pavlin (bom médio centro, com uma qualidade de passe bastante interessante), Romeu e mais uns quantos.

Não significa isto que o FC Porto de então tivesse uma boa equipa ou jogadores de elevado calibre em todas as posições, pois existiam claras lacunas ou excesso de oferta (quem se esquece das anedotas com os 5 ou 6 guarda-redes que o plantel possuía?), em que a estrutura do futebol cambaleou durante esse período de tempo.

E no tema de hoje vamos falar de um jogador que foi esquecido, ou praticamente pelo menos: Rubens Júnior. Para quem desconhece por completo o nome e o jogador, então leiam a recordação que se segue. Para quem se lembra do lateral-esquerdo, qual é a primeira memória que surge na vossa mente?

Numa palavra: noitadas. Rubens Júnior tinha tudo para dar certo no FC Porto, mas acontecia sempre alguma coisa na vida do lateral-esquerdo. Ora fazia 5 jogos de nível, para depois ter uma pequena lesão que o arredava dos dois seguintes. Ora o clube estava num momento de vai ou racha e Rubens Júnior aparecia cansado e sem a forma ideal. Era um misto de “coisas” que acabaram por contaminar a história do brasileiro nas Antas.

Mas quem era Rubens Júnior?

Formado parcialmente no Esporte Clube Taubaté (clube que militava e milita nas divisões inferiores brasileiras) e no Palmeiras, cedo ganhou destaque por entre os seus pares devido à forma como acariciava a redonda. Foi no verdão que deu o salto para o futebol sénior, mas só viria a fazer parte do elenco em 1999, ano especial tanto para o jogador como clube.

Entre 1996 e 1998 passou pelo Bragantino, Guarani e Coritiba, conquistando aos poucos o seu lugar no onze. Os números do brasileiro não são fáceis de encontrar, pois parece que os registos dos anos 90 não sobreviveram à revolução tecnológica. Mas, e tem de ficar para a recordação, Rubens Júnior foi conquistando alguma reputação pela qualidade de passe, a facilidade em cruzar e de apoiar o ataque, sem deixar a defesa completamente exposta.

As boas exibições valeram um regresso ao Palmeiras, altura que o verdão era comandado por outro conhecido do futebol português, Luis Felipe Scolari. E antes de contarmos esta parte, é importante que notem que o que explica o fracasso, em alguns momentos, da carreira do jogador é o facto de não ter ouvido as pessoas certas, no momento certo.

Voltando à sua história, Rubens Júnior tinha algumas propostas do Brasil para continuar a carreira, pois o regresso ao Palmeiras, na sua opinião era um erro… lá jogava um internacional brasileiro de boa memória: Júnior. Como é que um simples emprestado, desconhecido para a torcida, iria sobreviver e jogar? Scolari, numa das poucas conversas que teve com Rubens Júnior foi claro,

“Você vai jogar vários jogos e eu vou te dar o título da Libertadores.”

O brasileiro anuiu e arriscou naquilo que viria a ser uma decisão acertada… jogou 4 jogos na Libertadores, assistiu por duas vezes e, no final, ajudou a levantar a taça com Scolari (não entrou no jogo decisivo frente ao Deportivo de Cali). Foi o momento mais alto, até então, de um jovem lateral que tinha 24 anos e que começava a despertar atenções no Brasil.

Mal de seguida à conquista da Libertadores, chegou o convite por parte do FC Porto de Fernando Santos, formação que era pentacampeã e detinha alguns dos melhores jogadores da Península Ibérica. O Palmeiras aceitou o valor da transferência (entre os 500 e 600 mil€), Rubens Júnior disse logo que “sim” e o brasileiro chega desta forma às Antas.

Infelizmente, Rubens Júnior vai estar presente na pior fase dos Dragões, com a perda do título para o Sporting CP em 1999/2000. O lateral participou em 28 jogos, 22 como titular, 5 dos quais na Champions League. Mas em que posição actuou? Relembrar que existia no plantel outro lateral-esquerdo, de seu nome Esquerdinha (fazia os melhores pontapés de bicicleta na defesa) e que tinha o apoio total da equipa técnica. Por isso, como colocar Júnior e Esquerdinha juntos?

Normalmente, o recém-chegado Júnior entregava-se mais ao lugar de lateral-esquerdo, enquanto que Esquerdinha era alocado na posição de extremo-esquerdo, mediante a sua qualidade como atacante. Era uma dupla bem interessante no corredor esquerdo, dois atletas fisicamente dotados, com um pé que detinha um “cérebro” especial para meter a bola no sítio certo, à hora certa e no jogador correcto (maioria das vezes, Jardel).

Em 1999/2000, Rubens Júnior vai ajudar a levantar a Supertaça e participou como titular na vitória de 2-1 frente ao Real Madrid (equipa que viria a ganhar a Liga dos Campeões nessa temporada). Prometia muito o lateral, conquistando o seu espaço no imaginário dos adeptos dos azuis-e-brancos, com 1 golo marcado e 3 assistências.

Bom a tirar adversários pela frente, rápido a sair para o ataque, mexido com a bola e, minimamente, confiável na defesa. Contudo, o pior estava para vir pois em 2000/2001, o lateral passou de 28 para 9 jogos.

Porquê a mudança repentina de planos para o brasileiro? Em primeiro lugar, a chegada de um astro do futebol russo, Dmitriy Alenichev. Depois, uma má pré-época e pequenas lesões que foram surgindo de forma consecutiva. E, finalmente, Rubens Júnior não confiou em si para recuperar o lugar, pedindo para sair por empréstimo… voltou ao Brasil durante Janeiro a Junho de 2000, para jogar ao serviço do Atlético Paranaense.

Como já tínhamos dito anteriormente, Rubens Júnior tomou quase sempre as piores decisões para a sua carreira, muito devido ao medo de não jogar e de não viver como gostava. Um regresso ao Brasil parecia mais fácil e tranquilo… sempre dava para fazer umas brincadeiras como DJ sem que resultasse em problemas para o lateral.

Isso é outro pedaço de informação importante saber sobre o brasileiro: desde os 14 anos que gostava de passar música, de ter o seu sistema de mistura de som e de brilhar na disco. Este hobby acompanhou-o sempre e no FC Porto não foi diferente, como alguns leitores se devem lembrar. Com a chegada de Octávio Machado, Rubens Junior voltou ao clube e fez toda a temporada de 2001/2002.

Aqui vão-se dar dois momentos essenciais para o final da carreira do brasileiro no FC Porto, ambos o jogador viria a arrepender-se por completo. Aguentou a primeira fase da época, quase sempre como suplente, não ficando na retina qualquer lance de importância. As histórias de noitadas acumularam-se e, também, as reuniões com a SAD para apurar os problemas do lateral-esquerdo.

Mourinho ainda fez uma tentativa de salvamento a Rubens Júnior, com algumas conversas paralelas e de motivação… porém, Rubens Júnior insistiu nas “noitadas” (deixou de ser convocado a partir de Março devido a más recuperações físicas pós os jogos e uma apresentação nada positiva para o último encontro que foi convocado, com o Beira-Mar) e comportamentos decepcionantes.

No final da temporada começaram a chover as propostas do Brasil. José Mourinho ainda teve última conversa com o lateral-esquerdo a fim de convence-lo a ficar, no qual o próprio revelou à ESPN,

“O único arrependimento que tenho na carreira foi quando estava no Porto. Eu tinha umas propostas para voltar ao Brasil e o Mourinho, que tinha acabado de chegar, falou: ‘Não vá embora, conto com você na próxima temporada. Não vou te prometer que será titular , mas será importante no meu elenco’. Mas como eu não estava jogando, estava ansioso para jogar, e acertei com o Atlético-MG”,

Chega Julho de 2002 e Rubens Júnior embarca de regresso a “casa”, não sendo feliz quer no Atlético Mineiro ou Botafogo, onde somou uns parcos 14 jogos no total de duas épocas. O fulgor físico, o mindest de conseguir desequilibrar a partir da defesa, aquele assistente quase perfeito estava entregue a um rebuliço de lesões, má preparação física e noitadas.

Regressaria a Portugal para jogar no Vitória SC durante duas temporadas, sendo que na 2003/2004 foi particularmente feliz com 25 jogos realizados pelo elenco de vimaranense. Em Guimarães reecontrou-se e apresentou alguns dos seus melhores momentos como jogador de futebol, com uma série de assistências e momentos de alto nível. Infelizmente, o Vitória terminou em 13º uma posição bem abaixo das pretensões da direcção do clube.

Rubens Júnior regressava ao Dragão e até Janeiro de 2005 ficou arredado da equipa principal, altura em que pôs fim à sua ligação contratual com o clube. A carreira do lateral-esquerdo ainda resistiu por mais três temporadas, tendo jogado ao serviço do Coritiba, Corinthians e Vasco da Gama. Sorriu até ao final, pois deu o seu melhor no TimãoVascão, terminando a carreira menos mal, com 33 anos.

Hoje em dia Rubens Júnior tem uma bomba de gasolina na sua terra natal de Taubaté, assumindo, desde 2018 o papel de director técnico do clube que o formou para o futebol. Ah, e recordar que a carreira de Disc Jockey teve continuidade, sendo um DJ conhecido no Brasil. Entre o samba que tinha nos pés e o que tinha no coração (e cabeça), Rubens Júnior nunca se desligou das paixões mais básicas da vida: música, amizade e paz de espírito.

Um Flop diferente, apreciado por José Mourinho, mas que recusou o ficar na História do futebol Mundial quando optou por voltar a “casa” invés de se manter num plantel que viria a ganhar tudo nos anos seguintes.

Em 2017 fez uma retrospectiva à carreira e deixou um conselho para colegas de profissão,

“Se você não se cuidar, a noite te atrapalha. Jogador tem de ter muito cuidado. Depois da primeira vez que você sai, fica marcado. Aí, a partir da segunda vez, as pessoas passam a enxergar fantasmas, te ver em lugares que você não foi. Paguei pelo preço de muita coisa que não fiz. Isso me atrapalhou muito.”


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