A urgência de janeiro para José Mourinho
O Benfica destacou-se como um dos protagonistas do mercado de transferências de verão, ao investir cerca de 105 milhões de euros. Rui Costa encarou a janela de transferências como uma oportunidade para demonstrar a sua capacidade de liderar o emblema encarnado. O antigo médio reforçou a equipa de Bruno Lage com nomes sonantes como Richard Ríos, Georgiy Sudakov e Dodi Lukebákio — todos contratados por valores iguais ou superiores a 20 milhões de euros. Foi, sem dúvida, uma aposta arriscada. Até o próprio José Mourinho se mostrou impressionado, deixando transparecer certa inveja em relação a Bruno Lage:
«Não temos o mesmo plantel do Benfica para fazer flores e criar surpresas. Somos aquilo que somos e não temos grandes opções para o fazer. O Bruno Lage é seguramente um treinador feliz pelas múltiplas alternativas que tem; eu não tenho o mesmo, mas vamos jogar», declarou o português antes do confronto entre Benfica e Fenerbahçe.
Dois meses depois, tudo mudou. José Mourinho substituiu o conterrâneo, e o plantel das águias já não parece assim tão sólido. Além disso, a visão do agora ex-treinador do Fenerbahçe está longe da de Lage, privilegiando um futebol de contra-ataque que depende profundamente de extremos velozes. O problema? O Benfica conta apenas com Dodi Lukebákio e Andreas Schjelderup como opções verdadeiramente verticais para cumprir essa função.
José Mourinho deixou de invejar o rival a partir do momento em que percebeu que o elenco atual está mais adaptado ao sistema de Bruno Lage do que ao seu. Franjo Ivanovic, apesar da qualidade, não se enquadra no esquema pretendido. Jogadores como Gianluca Prestianni, Rafael Obrador, Leandro Santos ou João Veloso são ainda demasiado jovens para assumirem um papel decisivo — e o técnico nunca foi conhecido por apostar fortemente na formação. Provavelmente, essa também não seria a solução para um Benfica que exige resultados imediatos (a longo prazo, a conversa será outra).
Janeiro tornou-se um mês crucial para o clube a partir do momento em que este optou por Mourinho, independentemente do vencedor das eleições de 25 de outubro (ou 8 de novembro). O treinador exige reforços e não está habituado a ver os seus pedidos recusados — o currículo justifica esse estatuto. Os adeptos podem, por isso, aguardar um mercado de inverno movimentado, repleto de rumores, uma vez que as mudanças não devem ser pontuais. Estão previstas a chegada de cinco a seis reforços a custo elevado, já que Mourinho prefere jogadores feitos e experientes.
Faz sentido a contratação de um médio centro que dispute a posição com Richard Ríos (Leandro Barreiro não cumpre esse perfil), de um lateral-esquerdo de confiança (Rafael Obrador tem potencial, mas ainda não conquistou a titularidade) e de extremos capazes de desequilibrar. O treinador precisa de opções de impacto e, frente ao Newcastle, ao olhar para o banco, não viu nenhuma. Justificou a realização de apenas uma substituição — motivada pela lesão de Amar Dedic — com o timing do jogo, admitindo que não faria sentido lançar jovens numa fase em que a equipa estava sob forte pressão. Ninguém o acusa de mentir, mas será que, com Kerem Akturkoglu disponível, a opção seria a mesma?
Estamos no final de outubro e o registo de Mourinho à frente do Benfica ainda é tímido: três vitórias em sete jogos. O que se diria se fosse Bruno Lage a apresentar estes números? Os resultados refletem um futebol pragmático, que garantiu empates frente a FC Porto e Chelsea, mas que não convenceu contra AVS, Rio Ave ou Gil Vicente.
Até janeiro, o insucesso poderá ser justificado pelas limitações do plantel — um argumento que Rui Borges e Francesco Farioli, por exemplo, não usufruem. Não se espere, no entanto, que os encarnados passem a praticar um “futebol champanhe” de um dia para o outro. Pouco ou nada mudará até lá.
Porém, a partir do fecho do próximo mercado será obrigatória uma evolução ao nível exibicional — desde que presidente e diretor desportivo acedam aos pedidos do treinador. Ao Benfica não pode permitir-se um “ano zero”, depois do avultado investimento do verão, agora tão criticado, mas outrora tão celebrado. No futebol, passamos de heróis a vilões em poucas jornadas. O próprio Mourinho sabe bem disso, sendo uma das figuras mais controversas do desporto.
O Inferno da Luz mantém-se em silêncio em relação ao treinador: nem o aclama, nem o assobia. Aguarda, com expectativa, mudanças que teimam em tardar — algo que, no fundo, já era previsível. A partir de janeiro, tudo mudará. Resta saber se será para melhor… ou para pior. O julgamento está marcado.



