A luta pela descida em Portugal 2022/2023 pt.2

Ricardo LopesMarço 15, 20238min0

A luta pela descida em Portugal 2022/2023 pt.2

Ricardo LopesMarço 15, 20238min0
A luta pela descida em Portugal está quente e olhamos para o que se pode passar nos dois próximos meses na Bwin Liga.

Na primeira parte deste artigo da luta pela descida em Portugal, abordámos a luta pela manutenção em Portugal 2022/23, além da análise de plantéis de Estoril Praia, Santa Clara e Marítimo.

Paços de Ferreira

O Paços de Ferreira apresentou um plantel promissor, dando a ideia que podia ser uma das surpresas da temporada, por um motivo agradável. A chegada de elementos como Nigel Thomas ou Kaiky entusiasmaram os adeptos dos “castores” e provocaram uma curiosidade no público em geral. Ter jogadores no meio campo como Holsgrove ou Gaitán era garantia de criatividade. A somar a isto, a presença de alguns jovens como Nuno Lima, Luís Bastos, Matchoi Djaló ou Mauro Couto, dava a esperança que o plano do Paços de Ferreira para 2022/23 poderia ter muito sucesso.

Porém nada ocorreu como o esperado. Kaiky foi um autêntico flop, Nigel Thomas tarda em explodir, os jovens não se conseguem assumir como titulares entre outros problemas. A teoria não passou à prática, o que levou a que em Janeiro houvesse um ataque forte ao mercado trazendo elementos eu já conheciam a realidade da equipa como Marafona, Maracás ou Alexandre Guedes. Somados a Paulo Bernardo, Fábio Gomes ou Infade, leva-nos a acreditar que se não foi o mercado perfeito, esteve próximo de tal.

O Paços apresenta um plantel de qualidade para as onze partidas que restam, tendo conseguido recuperar muitos pontos desde o regresso de César Peixoto. É necessário que alguns jogadores produzam o seu máximo para que o projeto consiga atingir no mínimo o décimo sexto lugar. Apesar de tudo, a equipa que o Paços apresenta no momento, faz com que haja a noção de que existe uma base, quer em caso de sucesso, quer em caso de insucesso.

Treinador

A escolha de um treinador é absolutamente vital para a definição de uma época desportiva. A seleção do mesmo terá que ir em conta o projeto a curto prazo do clube (a longo prazo também, no entanto só vale a pena olharmos para o longo prazo caso o mesmo exista, o que não acontece em equipas cujo objetivo é o alcance da manutenção ou pouco mais do que isso). É preferencial que o técnico aproveite todos os jogadores e jogue um futebol de qualidade. O mesmo terá que ser igualmente um exímio gestor de Recursos Humanos e fazer-se acompanhar por uma equipa técnica com capacidades em todos os setores (defesa, ataque, físico, guarda redes, bolas paradas, etc.).

Estoril Praia

O Estoril arrancou a temporada com Nelson Veríssimo (seis vitórias, quatro empates, onze derrotas), treinador que abandonara o Benfica no final da temporada transata. Foi verdadeiramente a primeira experiência de Veríssimo ao serviço de um clube desde o momento 0, arrancando inclusivamente muito bem. Ainda assim, revelou incapacidade total de dar a volta ao momento menos bom e acabou demitido (duas vitórias desde Novembro).

Ricardo Soares acabou por ser o elegido e já provou qualidade no passado. A missão esta época é levar o Estoril à tranquilidade, no entanto é um treinador a longo prazo, com capacidade de retirar o melhor dos jogadores, como o fez no Gil Vicente. O Estoril é uma equipa recheada de jovens que podem crescer com um dos melhores treinadores da Primeira Liga.

Marítimo

Vasco Seabra começou a época após ter executado com sucesso a missão de salvar o Marítimo. Conseguira oito vitórias em vinte e três partidas, levando a que o Marítimo conseguisse ficar em décimo lugar. No entanto, viu certas peças fundamentais acabarem por abandonar o clube, sendo mal substituídas no Verão (nomeadamente Iván Rossi e Guitane). O técnico começou de uma forma horrenda o seu percurso em 2022/23, não conseguindo uma vitória em cinco jogos realizados (perdeu todos, inclusivamente). Foi substituído por João Henriques, treinador que esteve muito próximo de rumar ao futebol nórdico.

A experiência do antigo treinador do Moreirense não decorreu de uma maneira feliz, completando onze partidas, com somente uma vitória, algo muito escasso (uma vitória, três empates, sete derrotas). Iniciar o ciclo com três derrotas também não ajudou. A direção do Marítimo errou ao trazer João Henriques para o clube, porque não mostrou ser um upgrade a Vasco Seabra, tendo saído dos seus dois últimos projetos com resultados pobres.
O Marítimo deveria ter apostado em alguém capaz de organizar a casa, coisa que João Henriques não soube fazer e que José Gomes também não está a conseguir (pelo menos para já). José Gomes obteve uma boa passagem pelos Barreiros, durante a temporada 2019/20, porém desiludiu no Almería e na Ponferradina. O treinador começou a temporada na equipa do Bierzo, porém a sua estadia pode ser considerada um fracasso, depois do bom trabalho realizado por Bolo em épocas passadas.

Conseguiu somente quatro vitórias em dezassete jogos, o que é fraco a comparar com as temporadas anteriores da Ponferradina (além das quatro vitórias, sete empates e oito derrotas). O sucessor David Gallego não está a conseguir fazer melhor, porém o planeamento do clube foi mal realizado, e isso em parte é culpa de José Gomes. Já no Marítimo, José Gomes não pode ser implicado pela má montagem do Verão, no entanto tem obrigação de fazer um pouco melhor com o que lhe foi oferecido em Janeiro.

Santa Clara

O Santa Clara não foi feliz na sua segunda escolha. Compreendeu-se a continuidade de Mário Silva, que conseguiu realizar a manutenção do clube açoriano a temporada passada, além de ter alcançado o sétimo lugar.

Ainda assim, nunca praticou um futebol vistoso e a temporada passada, o Santa Clara tinha um plantel superior ao de 2022/23, com elementos como Morita ou Lincoln. Com uma equipa notoriamente inferior, não conseguiu fazer com que o Santa Clara se aproximasse do nível de resultados de 2021/22 (especialmente com Daniel Ramos) e acabou por ser substituído (três vitórias, cinco empates, doze derrotas). O grande problema do Santa Clara começou na eleição do substituto de Mário Silva, que se esperava que fosse um upgrade. O escolhido foi Jorge Simão que somente conseguiu empatar dois jogos e perder cinco. Sete jogos com zero vitórias é um resultado fraquíssimo, um registo dos piores da Primeira Liga, desde que há memória. Jorge Simão somou trabalhos de qualidade ao longo da sua carreira, porém já foram há algumas épocas atrás, necessitando de se reinventar.

O treinador fez um bom trabalho em Mafra, Chaves, Paços de Ferreira (primeira passagem) e no Boavista, porém o resto tem sido uma desilusão. Não aparentava ser um casamento saudável: um plantel que vem de maus resultados com um treinador que não consegue produzir bons números há algumas épocas. Não foi uma lufada de ar fresco e falhou, como se previa.

Jorge Simão necessita de começar uma época num plantel e possivelmente para o conseguir terá de ser na Segunda Liga, isto em Portugal, porque já mostrou capacidades. Accioly assumirá até ao final da temporada e não aparenta ser má escolha. É um profundo conhecedor do clube, embora não tenha experiência como treinador principal. Só depende dele a sua continuidade e seguramente reunirá popularidade no balneário, além de respeito.

Paços de Ferreira

O Paços de Ferreira apresentou um caso raro: recontratar o treinador que começou a época (mais estranho só o caso de Davide Nicola no Salernitana). Tal como no caso de Mário Silva, compreendeu-se a continuidade de César Peixoto. Embora tenha sido criticado quando chegou à Capital do Móvel a temporada passada, a verdade é que o antigo jogador passou no teste e mereceu a continuidade. No entanto, na primeira fase da temporada, não conseguiu colocar a equipa a jogar o futebol que se esperava e rapidamente entrou numa espiral negativa não vencendo nenhum jogo.

Tal como no caso do Santa Clara, o seu sucessor foi mal escolhido, José Mota traz boas memórias aos adeptos do Paços, porém não é um treinador com capacidade de estar na Primeira Liga, no momento atual. Obteve o mesmo registo que Jorge Simão, com dois empates e cinco derrotas, mas numa fase mais embrionária da época. O regresso de César Peixoto (três vitórias, três empates e doze derrotas, somando as duas passagens) foi surpreendente, no entanto tem o seu sentido.

Já conhece bem a equipa, os jogadores sabem as suas dinâmicas. Isto a somar a um bom mercado do Paços, levou a que o regresso de Peixoto esteja a ser praticamente um sucesso, em comparação com outros treinadores que vieram para a Primeira Liga a meio da temporada), estando a fazer o impossível. Não é um treinador brilhante, mas identifica-se com esta equipa, algo que José Mota nunca conseguiu.


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