A luta pela descida em Portugal 2022/2023 pt.1

Ricardo LopesMarço 15, 20239min0

A luta pela descida em Portugal 2022/2023 pt.1

Ricardo LopesMarço 15, 20239min0
A luta pela descida em Portugal está quente e olhamos para o que se pode passar nos dois próximos meses na Bwin Liga

Ao longo de uma temporada desportiva, existem vários focos de análise. Em Portugal, os mais comuns e analisados estão geralmente relacionados com os famosos Três Grandes e a disputa pelo título entre os mesmos (com um a ficar fora da luta e a ser a deceção do campeonato, geralmente). Este ano o SC Braga mostrou ter ritmo competitivo e capacidade de ombrear pelo pódio, existindo um acompanhamento do clube minhoto mais pormenorizado. No entanto, há mais temas que merecem a sua análise mais longa e não apenas umas linhas ou uns segundos de abordagem. A luta pela manutenção é algo onde nenhuma equipa quer estar, sendo sinal que temporada foi um fracasso ou então o clube não tinha condições para estar na Primeira Liga.

Em Portugal, duas equipas descem diretamente à Segunda Liga (17º e 18º classificados) e uma (16º classificado), disputará um play-off com o clube que ficará em terceiro posto na divisão abaixo, uma partida a duas mãos. É um formato recente, que apenas conta com duas edições e que a equipa da Segunda Liga, conseguiu sempre o triunfo e a ascensão. Porquê? Porque uma equipa que faça uma bela prestação na divisão secundária, geralmente estará em melhor forma e fase do que um clube que luta para não descer, mesmo que esta tenha melhores jogadores. Em termos de equipa, o clube da segunda divisão funciona muito melhor e estará (à partida) muito melhor organizado. Em 2020/21, o Arouca despromoveu o Rio Ave, vencendo por 5-0, no total da eliminatória (3-0, 0-2). Já na temporada passada, o Chaves bateu o Moreirense por 2-1, novamente a duas mãos (2-0, 1-0).

Em 2022/23 estamos a assistir a uma batalha a quatro: Paços de Ferreira, Santa Clara, Marítimo e Estoril. Seguramente no início da temporada, certos clubes que estão na zona vermelha (ou muito perto dela) não se imaginavam aí, nesta fase do campeonato. Este artigo tem como missão analisar o que se passou para terem chegado a este ponto e o que acontecerá no futuro (próximo), baseando-nos em quatro pontos, que na minha opinião pessoal são fundamentais: qualidade do plantel, capacidade e histórico do(s) treinador(es), calendário e projeto desportivo (onde plantel e treinador são importantíssimos). Lembrar que o futebol felizmente não é uma ciência exata, por muitos dados estatísticos que se possam recolher e analisar. A emoção e capacidade de superação não é algo palpável nem se apresenta em números, sendo um ponto fundamental quando abordamos uma disputa pela manutenção na divisão máxima do futebol português.

Qualidade do plantel

Quando se avalia um plantel, tem que existir a noção que o mesmo não é composto somente por titulares. Se existem alguns jogadores com esse papel, outros sabem que irão começar no banco e podem saltar para o XI, no decorrer da temporada. O mesmo acontece com certos reservas ou elementos que jogam mais na B (sub-23) e podem surpreender. O inverso pode ocorrer, com presumíveis estrelas a não conseguirem atingir o que se lhe é exigido. O adepto tem de ter a noção que cada jogador tem uma função e um tempo determinado de jogo, que nem sempre são os 90 minutos.

O estatuto em grande parte dos casos é conquistado ao longo da época. Se só existissem jogadores titulares, o orçamento salarial de todas as equipas seria o dobro ou o triplo, o que faria com que muitas instituições desaparecessem. Se todos assinassem com a promessa que seriam titulares, não haveria uma semana em que todos os jogadores se sentissem bem, porque somente podem atuar onze, o que levar a um ambiente no balneário totalmente desastroso. Os jogadores têm a consciência do seu papel e lutar por algo mais ou lutar para manter o seu papel relevante. Um outro ponto a ter em conta é o encaixe do jogador na tática e instruções do treinador, algo que é analisado na contratação do mesmo.

O que pode complicar a situação é a chegada de um novo timoneiro com um estilo diferente, levando a que o jogador X ou Y percam relevância porque não cabem na estrutura tática da equipa. No entanto, é algo que tem de ser solucionado e antecipado pela direção desportiva. Relembrar também que estas equipas não conseguem sempre os seus primeiros alvos. Existe sempre uma lista para cada posição, ordenada de acordo com a qualidade, aliada à possibilidade. Não estamos a falar de Sporting CP, SL Benfica ou FC Porto que garantem alguns jogadores com relativa facilidade.

Estoril Praia

A equipa que está melhor classificada tem o melhor plantel, principalmente porque tem um bom banco. O Estoril Praia conseguiu montar uma equipa bastante equilibrada, que iniciou inclusivamente o campeonato com bons resultados, tendo sido considerada uma das surpresas da liga.

Um plantel que conta com Tiago Santos, Bernardo Vital, Léa-Siliki, Tiago Gouveia ou Rodrigo Martins tem de estar à espera de bons resultados. Não é uma equipa que, na teoria, deveria estar neste artigo. A grande problemática do Estoril Praia possivelmente é o homem da frente, o 9. Alejandro Marqués e João Carlos estão presentes desde o início da temporada e pouco faturaram (dois golos para cada um), não exibindo capacidades de jogar na Primeira Liga. Erison veio rotulado de “reforço bomba”, mas não conseguiu ter a influência que exercia no Botafogo e acabou por sair em Janeiro, faturando quatro golos em quinze jogos (melhor registo que Marqués e João Carlos).

Gilson Benchimol demonstrou bons números na equipa sub 23, porém nos A ainda não mostrou capacidades (foi emprestado ao Benfica B, marcou zero golos). Em Janeiro, para remediar a situação, chegaram Carlos Eduardo e Cassiano. Carlos Eduardo somente foi goleador no Góias, exercendo na maioria do tempo a função de extremo, o que faz com que a sua obrigação de fazer golos seja reduzida.

Já Cassiano é um 9 que já conhece o nosso futebol, depois de uma grande passagem pelo Vizela (e uma menos bem conseguida pelo Boavista). Depois de um período na Arábia Saudita, o Estoril voltou a abrir as portas do nosso campeonato ao avançado, que em seis jogos ainda não faturou. Relembrar que o Estoril teve nos seus quadros André Clóvis, atual melhor marcador da Segunda Liga, no entanto o Académico de Viseu exerceu a opção de compra. Das quatro equipas em análise, o Estoril é que menos sofre golos e é a que mais marca. No entanto, os números que apresenta não vão de acordo com a capacidade do seu plantel.

Marítimo

O Marítimo apresenta mais debilidades no que ao seu plantel diz respeito. Se existe uma a destacar é a defesa (que é a mais batida do campeonato, a par com o Paços de Ferreira), apesar de toda a equipa ter sido montada com pouco critério, algo que em Janeiro se tentou mudar, com uma boa atitude de mercado de Tiago Lenho. Ainda assim, Gonçalo Cardoso, Fábio China, Collard (mais usado na B) ou Matheus Costa não têm qualidade para um projeto que quer estar na Primeira Liga. Zainadine começou a sentir o peso da idade e somente Mosquera tem potencial para estar nesta defesa a longo prazo.

Claudio Winck é o nome mais interessante de todo o plantel maritimista e sem dúvida um dos melhores laterais direitos do nosso campeonato. Vítor Costa também é competente, no entanto não bastam estes três nomes para conseguir segurança. Leo Andrade era um jogador importante na manobra defensiva do clube, mas foi transferido e substituído por Renê Santos, que já foi feliz nos Barreiros, sendo neste momento o único central com capacidade de ser o patrão da defesa. O resto do plantel tem bons nomes como Rafael Brito, Beltrame ou André Vidigal, no entanto não existem elementos que vejamos com capacidade de dar o salto, algo que o Marítimo sempre teve. Em Janeiro chegaram Léo Pereira, Renê Santos, Riascos ou Makaridze que elevaram o nível, porém pode não ser suficiente.

Não se entende a olho nu o empréstimo de Pedro Pelágio, que tem potencial para ser o melhor jogador da equipa do Funchal. Ao contrário do Estoril, a equipa do Marítimo sofre por não ter alternativas de grande qualidade no banco, que possam fazer a diferença nos 30 minutos finais.

Santa Clara

O plantel do Santa Clara foi mal desenhado. Viu uma série de jogadores a partir, sendo substituídos por atletas cuja qualidade é altamente duvidosa, para o padrão da Primeira Liga. Perdeu-se Morita, Lincoln, Villanueva, Mohebi entre outros.

Chegaram elementos como Gabriel Silva, Bobsin ou Quintillá, mas a equipa nunca demonstrou a coesão necessária para poder fazer uma série de bons jogos e alcançar resultados satisfatórios. O destaque negativo irá para a parte ofensiva, que até conta com nomes que se julgavam interessantes no início do campeonato e que se revelaram grandes falhanços.

Matheus Babi tinha chegado como nome grande, devido à sua passagem pelo Botafogo que gerou a cobiça de outras equipas (acabou por ir para o CA Paranaense), porém foi um dos maiores flops da temporada. Stevanovic veio com o rótulo de jovem promessa, emprestado pelo Manchester City, no entanto só demonstrou ser goleador no país local, ao serviço do Partizan. Tagawa após um 2021/22 bastante competente, tem sido uma desilusão total. Gabriel Silva e Rildo têm sido competentes, porém faltam golos (cinco para cada um) oriundos de um 9 puro, porque tanto Gabriel, como Rildo são extremos de origem, quanto muito poderá atuar como segundos avançados.

Na temporada passada o Santa Clara dispôs de Rui Costa, Bouldini ou Carlos Júnior (os últimos dois saíram em Janeiro de 2022) que seriam titulares absolutas nesta versão do Santa Clara, que foi extremamente mal montada, não aparentando a existência de um projeto, como acontecia na época de Diogo Boa Alma, que conseguiu descobrir elementos dos vários cantos do globo para reforçar a turma dos Açores. De todos os plantéis, o do Santa Clara é na minha opinião o mais pobre e que menos jogadores contém que poderão obter sucesso em Portugal, numa primeira divisão, em equipas que desejem estabilizar-se.


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