“Futebol português”: episódio 97 ou como denegrir a imagem deste jogo

Guilherme CatarinoMaio 4, 20215min0

“Futebol português”: episódio 97 ou como denegrir a imagem deste jogo

Guilherme CatarinoMaio 4, 20215min0
Mais uma página negra no futebol português e mais um momento que merece reflexão profunda. Qual o caminho para um futuro melhor?

Mais uma mancha no futebol português, mais uma novela para contar aos mais novos. Ou não, dependendo se lhes queremos contar o verdadeiro futebol português e as infelicidades que o norteiam, ou preferimos optar pelas histórias belas que o enriquecem e lhe dão vida. Pinto da Costa ou Acosta, Bruno de Carvalho ou Ricardo Carvalho, Luís Filipe Vieira ou André Almeida? Cabe a cada um decidir que história contar.

Foi na passada segunda-feira que assistimos a mais um episódio marcante no futebol português. Pela negativa, como se perceberá. Pedro Pinho, empresário que estava alegadamente em representação do FC Porto – apesar do presidente do FC Moreirense ter referido que o bilhete do agente desportivo adveio dos cónegos, a pedido de outrem -, decidiu agredir um repórter da TVI finalizado o encontro entre a equipa da casa – Moreirense – e os azuis-e-brancos. Por razões ainda a apurar, e num cenário onde aparece também Jorge Nuno Pinto da Costa (mais uma vez) envolvido, a análise do episódio partiu agora para a Procuradoria Geral da República onde serão investigadas as razões do acontecimento, com a abertura de um inquérito.

Fácil seria emitir uma mera nota de repúdio perante os eventos que se passaram no Parque de Jogos Comendador Joaquim de Almeida Freitas, como infelizmente muitos estão (apenas) a fazer. Não chega! O futebol português não pode ser recordado nem lembrado por isto. Será digno de um país campeão europeu na modalidade? Será que uma nota de repúdio chega?

Não digo disparate nenhum quando insisto em afirmar que este clima de ódio, de medo, de terror e de desconfiança instalado só prejudica o futebol nacional. Desde treinadores a dirigentes, passando naturalmente pelos jogadores e até empresários (veja-se!). Lá fora, vimos destacados por alguns jornais, tabloides e outros meios de comunicação como o país “onde os treinadores têm de ser puxados por dirigentes das zonas de confusão” ou “onde os árbitros precisam de proteção”. Será este o eco que queremos? Onde foi mostrado que o desporto e/ou futebol é um exemplo? Onde a atuação do árbitro é de mediação, e não de protagonismo como por cá tanto crêem ou, pelo menos, como todos “sentem” ao ver de fora certos comportamentos.

Seríamos contudo ingénuos se deslocássemos toda esta recente polémica dos clubes. Objetivo este que parece delinear a atuação de todos os dirigentes máximos do futebol nacional. Ora, percorramos alguns exemplos para sustentar esta tese.

Sobre esta polémica em Moreira de Cónegos, Jorge Nuno Pinto da Costa veio desde logo, numa entrevista ao Porto Canal, isolar o empresário Pedro Pinho – agressor do repórter – da esfera que representa o FC Porto. Deste modo, Pedro Pinho nada tem a ver com o clube e, pior de tudo, que não tinha vislumbrado qualquer agressão à sua frente. Fica a pergunta: então o dirigente máximo da SAD e clube viu? Como é que empresários como Pedro Pinho têm direito a ir ao estádio num período de Estado de Calamidade?

A verdade é que os adeptos não podem ir aos estádios e, no entanto, os clubes podem trazer um total de 16 acompanhantes, alguns com uma ligação pouca esclarecida ou lúcida, como se viu naquele pós-jogo. A única personalidade do universo do FC Porto a imediatamente avançar para um pedido de desculpas foi Vítor Baía, que no momento da dita agressão, tratou (supostamente) de ajudar a vítima, pedindo que a ocorrência não fosse confirmada perante os agentes da GNR presentes (alvo de investigações pela inação de quando o empresário avançou e agarrou o repórter de imagem).

Voltando atrás uns anos, na triste invasão à academia de Alcochete, prontos foram os dirigentes do Sporting CP a isolar-se da situação acontecida. Nada teve a ver com eles, nem com o clube, imagine-se… A verdade é que Bruno de Carvalho acabou ligado aos ataques e apenas há pouco tempo foi considerado absolvido de todo um processo, apesar do juiz do caso não ter admitido a total inocência do antigo líder dos “leões”.

Do outro lado da 2ª circular, novo exemplo nos é dado. No famoso E-toupeira, Paulo Gonçalves, então acessor jurídico do clube da Luz, foi acusado, em conjunto com a SAD benfiquista, da prática de cerca de 100 crimes (30 para a SAD e 79 para Paulo Gonçalves). Ilibada desses crimes, a SAD dos encarnados demarcou-se do assessor jurídico visto que este, aparentemente, não agia no interesse da sociedade anónima. “Ficou por sua conta” dirão alguns… mas será que aos olhos da realidade é bem assim?

Deram-se diversos e demasiados episódios lamentáveis e desoladores para o futebol português nas últimas duas décadas, desde invasões a centros de estágio (como aconteceu com o Vitória SC há poucos anos), a assasinatos de adeptos em pleno estádio ou rua, passando por violência verbal por parte de alguns treinadores, que só alimentam a discórdia a cada década, época, título e jogo que passa.

Somados os argumentos mantenho a minha posição nesta matéria. É preciso trazer sangue novo ao nosso futebol. Novos intervenientes, novas medidas, novas propostas. Andamos há anos a querer mudar o nosso futebol com “notas de repúdio”? Rúben Amorim levou 15 dias de suspensão – e agora um acrescento de mais 6 por uma situação de Outubro de 2020 -, e agora Sérgio Conceição 21, apenas após a 4ª expulsão na Liga. Serão número normais? Será suficiente? Nunca saberemos, mas poderá ser um início que os actos errados têm consequências, seja aos olhos da justiça ou de quem segue o futebol e desporto.

 


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