O FC Porto de Sérgio Conceição: Limitado, mas Campeão!

João NegreiraAgosto 14, 20206min0

O FC Porto de Sérgio Conceição: Limitado, mas Campeão!

João NegreiraAgosto 14, 20206min0
O FC Porto conquistou a dobradinha, mas o estilo de jogo de Sérgio Conceição sempre foi criticado. Apesar de pouco vistoso, consegue resultados! Descobre tudo.

Já muito se escreveu sobre Sérgio Conceição e a sua estadia no FC Porto. Mas quando se fala no timoneiro português fala-se também da sua controversa relação com os jogadores e do seu discurso muito pouco amigável. Para além do estilo de jogo, o treinador natural de Coimbra destaca-se muitas vezes pela sua agressividade e arrogância fora das 4 linhas.

Não obstante, neste artigo falaremos apenas da fraca qualidade de jogo que, ainda assim, conseguiu fazer dos dragões campeões nacionais. Abrindo, assim uma porta para o binómio Futebol Bonito vs Resultados, que tanto se discute nos dias de hoje.

Futebol Limitado, mas Eficaz

Há 3 anos que Sérgio Conceição comanda os dragões e o mesmo nunca se destacou pela qualidade de jogo. O antigo internacional português construiu uma equipa que lhe permitisse jogar um jogo mais direto, físico e intenso. O controlo do meio-campo, o ataque à profundidade, a influência dos laterais e a destacar-se nas bolas paradas.

Ofensivamente, a equipa não tem processos muito complexos aquando da saída de bola. A defesa não se compromete a arriscar muito e o jogo direto pode entrar desde muito cedo em ação. Sérgio Oliveira, com grande qualidade no passe, foi um dos grandes maestros nestas iniciativas. Por sua vez, Danilo com mais capacidades defensivas não se envolve tanto ofensivamente e Uribe seria o homem que poderia fazer de S.O., quando este não estava.

E é mesmo a partir desse jogo direto que o Porto conseguia criar mais perigo. Com – discutivelmente – o melhor avançado a atacar a profundidade da Liga NOS, essa era uma das melhores armas da equipa nortenha. Marega é um dos grandes nomes desta dobradinha, conseguindo criar muitas dificuldades a defesas adversárias, sendo ainda o melhor marcador da equipa na Liga NOS, com 12 golos.

Para além do controlo do meio-campo, dos consequentes processos simples a sair a jogar e do ataque à profundidade, os dragões destacam-se ainda pela influência que os defesas laterais têm no seu jogo. Alex Telles é o outro menino bonito dos azuis e brancos, tendo capacidade para chegar a zonas de finalização muito facilmente, uma qualidade técnica acima da média e ainda a qualidade na execução de bolas paradas.

Nas bolas paradas, onde o defesa lateral brasileiro é rei, Sérgio Conceição soube tirar proveito dos elementos que tinha. Começando por Telles, mas tendo ainda Pepe, Marcano, Mbemba e Danilo para finalizar nas alturas, o Porto marcou 35 golos de bola parada nesta temporada. E a equipa jogava mesmo para ter bolas paradas; era notório que ganhavam muitas faltas para aproveitarem a qualidade que tinham em pontapés livre e que se pudessem preferiam ter um canto do que manter a bola dentro das 4 linhas.

Para além disto, o FC Porto destaca-se ainda pela força coletiva que demonstra em campo e a garra e a agressividade contra o adversário. O tal jogo mais físico e intenso prova-se aqui e a utilização de Danilo e Uribe juntos no meio-campo é a prova disso, conseguindo ganhar muitas bolas aéreas, assim como muitas disputas a meio-campo para recuperar a bola. A falta de um criativo na equipa é também a prova de que Conceição sempre preferiu o coletivo à individualidade.

Defensivamente, a equipa vai ao encontro deste último parágrafo: compacta e organizada quando tem que estar e sempre agressiva na recuperação da bola. Destaque ainda para a transição defensiva do Porto que sempre sobressaiu, demonstrando a tal agressividade.

Não querendo reduzir o “modelo de jogo” de Sérgio Conceição a 4 tópicos – seria ignorância da nossa parte – estes são os pontos principais que se destacam do estilo de jogo do atual campeão nacional.

Efetivamente, o FC Porto de Sérgio Conceição não é uma equipa que gosta de jogar com a redondinha de pé para pé e chegar à baliza adversária com qualidade. Sem grandes dinâmicas ofensivas para baralhar o adversário, os dragões apostaram sempre mais num jogo direto, simples e objetivo. O estilo de jogo é fraco e pouco vistoso, mas deu resultados.

Alex Telles e Marega são 2 das referências de Sérgio Conceição. (Foto: MF.com)

A Superioridade Estratégica perante os rivais

Apesar do futebol praticado não encantar, os azuis e brancos conseguiram sempre superiorizar-se aos seus rivais. Com uma grande componente estratégica (uma das maiores valências de Sérgio Conceição), adaptando o seu jogo ao que o seu adversário exigia, a equipa pareceu sempre muito bem preparada para estes confrontos.

Nesta temporada, dos 3 confrontos entre águias e dragões, a equipa azul e branca venceu todos. 2-0 e 3-2 nos jogos para o campeonato; e 2-1 para a Taça de Portugal. Nas 2 partidas frente ao Sporting CP também as venceu. 2-0 e 2-1, com clara superioridade perante os leões. Porém, contabilizaram 3 derrotas nos 3 jogos frente ao SC Braga. 2-1 nos jogos para o campeonato e 1-0 na final da Taça da Liga.

Tomando como exemplo o jogo no Estádio da Luz, frente aos rivais SL Benfica, os portistas venceram por 2-0, controlando por completo o jogo, nunca deixando as águias criarem perigo e abrindo sempre espaços para o seu ataque. Com um meio-campo reforçado – algo clássico de Sérgio Conceição – Romário Baró foi a peça que surpreendeu o conjunto encarnado, jogando a partir da ala, mas auxiliando o centro do terreno, por onde o Benfica criava mais perigo. Defensivamente muito compactos, a fechar o corredor central e a deixar a equipa da casa à mercê de cruzamentos sem sentido, os visitantes estiveram sempre muito confortáveis. Ofensivamente, contaram com o ataque à profundidade de Marega e a excelência nas bolas paradas.

Esta capacidade de observar e analisar o adversário é, efetivamente, uma das maiores qualidades do timoneiro de 45 anos. Não tem qualquer receio de baixar linhas ou de colocar um jogador com características mais defensivas, para depois conseguir domar e dominar o adversário.

Como já referido anteriormente, o estilo de jogo do FC Porto não é vistoso e muito menos agradável para o bom apreciador de futebol. Se bem contrariados, fazem parecer uma equipa que “só sabe bater bola na frente”. Não obstante, a verdade é que Sérgio Conceição conseguiu resultados com este tipo de jogo e soube adaptar aquilo que a equipa precisava, aos jogadores que tinha e ao adversário que ia defrontar.


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