FC Porto e o “crédito mal parado” nas dispensas do mercado
Cortina de fumo, esconder os erros e fracassos para debaixo do tapete ou optar por posição de silêncio total, qualquer um destes comportamentos ou metáforas podem se aplicar na perfeição ao FC Porto dos últimos 8 anos e à larga quantidade de jogadores que foram adquiridos por valores consideráveis e que acabaram dispensados, sendo depois vendidos por uma quantia inferior ou a custo-zero (seja por término do contrato ou por rescisão). Este comportamento acentuou-se, especialmente, a partir da era Paulo Fonseca mas interessa, neste momento, observar bem os últimos 4 anos de Sérgio Conceição para entender o impacto económico que os erros de mercado têm tido nas contas do clube e de como até limitou outra liberdade para contratar melhor.
Comecemos pelo “fim”, isto é, pelo mercado deste Verão de 2021 e para os custos associados aos jogadores dispensados pelo treinador. A análise realizada atenta a alguns parâmetros, a começar pelo custo de compra, o treinador que o contratou, a percentagem do passe na “mão” do FC Porto e a valorização/desvalorização de mercado.
Subsistindo a dúvida se o actual timoneiro da equipa principal dos azuis-e-brancos teve participação total em todas estas contratações a aquando chegaram ao Dragão (o caso de João Pedro foi o mais claro, tendo na altura suscitado até uma reação agressiva do treinador para com a administração), a verdade é que inegável a responsabilidade do treinador no falhar em tirar o melhor destes jogadores, sofrendo uma desvalorização contínua e, que como demonstrado, teve/tem uma aplicação de alto custo para o FC Porto. De modo a defender a “inocência” das principais personagens do universo do clube da Invicta, entrou em exercício a narrativa que Saravia ou Nakajima eram jogadores carregados de falhas de diverso nível, e que não tinham a capacidade anímica para representar o clube, tentando, por outro lado, tirar estes nomes do centro das atenções do público em geral.
Contudo, e apesar de ser algo impressionante o “crédito” malparado que habita no plantel da actual época, é facilmente observável que este comportamento já está padronizado nestes últimos anos, como se vê pelos seguintes erros de mercado e subsequentes negócios negativos para o emblema da Invicta. Considerámos na tabela abaixo os jogadores que saíram durante o reinado de Sérgio Conceição.
Não considerámos nesta lista as saídas a custo-zero de Hector Herrera, Moussa Marega, Vincent Aboubakar, Yacine Brahimi ou Ivan Marcano, uma vez que todos estes acabaram por ter influência nos troféus conquistados desde 2017, apesar da nula rentabilidade económica retirada. Nota que o FC Porto alienou 47,5% do passe de Diego Reyes a uma empresa de agenciamento de jogadores por 6M€, perdendo, à altura, parte dos direitos, recebendo um valor que até “ajuda” a equilibrar levemente as contas.
Todos estes números significam que boa parte do esforço de tentar equilibrar as contas e garantir um fundo de estabilidade por parte do departamento financeiro do FC Porto foi em vão, com sucessivos negócios danosos perpetuados tanto pela voracidade da SAD como por imposição do treinador (Waris ou Fernando Andrade são dois casos paradigmáticos), sendo que esta situação deveria levar aos dirigentes do clube a reflectir em como evitar continuar a enveredar por este caminho.
Nas somas desta segunda tabela, a direcção dos azuis-e-brancos dispensou cerca de 49M€ para adquirir estes 7 jogadores, tendo só garantido 16M€ na venda total destes activos, o que dá um saldo negativo de 23M€ negativos, sem falar dos salários e outros gastos “extras” associados à vinda, estadia e saída de qualquer um dos jogadores mencionados. Efectuando o mesmo exercício para a 1ª tabela apresentada neste artigo, as contratações significaram 32,5M€ e, ao contrário do que se passou na segunda lista, representaram zero euros no encaixe financeiro, estando todos neste momento emprestados ou relegados para a equipa B do FC Porto. Ao todo, estes 13 nomes tiveram um impacto de 81,5M€ negativos nas contas do clube, com uma rentabilização positiva extremamente residual (saldo negativo de 65M€) e que se somássemos alguns dos outros activos que abandonaram o Dragão a custo-zero teríamos um total quase na ordem dos 100M€, sendo que curiosamente nenhum destes jogadores está associado a nenhum super-agente (Jorge Mendes não está associado a nenhum destes activos, nem como principal empresário ou intermediário).
É praticamente impossível não se registarem transferências “más” nos mercados de transferência, mas é possível evitar que se registem contínuas operações negativas e de zero rentabilidade para o clube, e basta olhar para as duas listas acima expostas para perceber a extensão do problema dentro do FC Porto. O défice de quase 100M€ (sem somar os salários) criou um problema tremendo dentro do clube, que esteve debaixo do controle do Fair Play financeiro da UEFA – continuou a fazer negócios ruinosos mesmo com essa “mordaça” -, impedindo de reforçar o clube com activos de melhor qualidade, sendo que mesmo Sérgio Conceição não escapa às responsabilidades, como já demonstrámos anteriormente.
Até que ponto foi o plantel dos vice-campeões nacionais afectado para esta temporada devido aos fracassos dos últimos anos? Em que medida terá o FC Porto perdido títulos (ou pelo menos ter outra qualidade para os disputar) graças aos erros constantes advindos do departamento de futebol e direcção? Para estas questões, a única resposta possível é o silêncio, pois é praticamente impossível prever o que poderia ter acontecido, apesar de existir a noção das consequências sofridas pelo clube após estes últimos 8 anos de gestão da SAD liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa.
Craques ao Quadrado# Uma história de um bombardeiro: Gerd Müller https://t.co/8TfapeKWo1
— Fair Play (@FairPlaypt) August 25, 2021