Um projecto megalómano: Griezmann em Barcelona
Chegou ao fim uma das “novelas” deste Verão no mercado futebolístico. Depois de meses de “namoro”, Antoine Griezmann chega a Barcelona proveniente do Atlético de Madrid, por uma (cada vez menos…) quantia astronómica de 120M€. O francês já tinha estado muito próximo de rumar a Camp Nou no Verão passado, num processo que envolveu igualmente semanas de espera e expectativa e que culminou, na altura, com Griezmann a anunciar a sua permanência no Atlético de uma forma “hollywoodesca”, através de um documentário.
É a segunda grande contratação do FC Barcelona neste mercado, depois de Frenkie de Jong, jovem médio de enorme talento que chegou do Ajax por cerca de 75M€, após uma temporada de sonho no clube de Amesterdão, que esteve a breves segundos de atingir a final da UEFA Champions League. É também uma resposta clara do clube à desilusão sofrida na temporada passada, já que, apesar da conquista da La Liga, Lionel Messi e companhia estiveram no pior lado de uma reviravolta histórica, nas meias-finais da Champions. O Barcelona até venceu a primeira mão de forma clara e convincente por 3-0 (com uma grande exibição da estrela argentina), mas em Anfield o Liverpool deu a volta ao resultado, vencendo por 4-0 e levantando ondas de choque um pouco por todo o clube catalão.
Havia, portanto, que abanar com a estrutura da equipa e garantir “sangue novo”. E isso parece estar garantido.
Um namoro antigo
Griezmann era há muito desejado pelo Barcelona. No actual conjunto treinado por Ernesto Valverde, há várias possibilidades para o avançado francês. Desde logo, a possibilidade de assumir naturalmente o lugar no flanco esquerdo do ataque, ocupado actualmente por Philippe Coutinho, jogador cujo rendimento se tem revelado uma tremenda desilusão, tendo em conta todo o investimento realizado pelo clube, que o resgatou ao Liverpool em Janeiro de 2018 por 120M€, aos quais ainda acresceriam mais 40M€ em objectivos desportivos. De resto, o lado esquerdo dos “culés” mantém-se órfão de uma grande estrela desde a saída de Neymar para o PSG.
Partindo da esquerda, Griezmann poderá ter maior liberdade de movimentos e aproximar a posição das dinâmicas que apresentou durante vários anos e a que os adeptos estão habituados. Um avançado solto, constantemente em terrenos interiores (de forma a libertar o corredor esquerdo para as subidas de Jordi Alba) e que pisa com regularidade as zonas de finalização, à semelhança do que fazia Neymar e do que fizeram jogadores como Thierry Henry, David Villa ou até, ocasionalmente, Pedro Rodríguez ou Alexis Sánchez no passado.
Outra hipótese é a utilização de Griezmann na frente de ataque. É verdade que praticamente nunca actuou nessa posição, como “9”. Tanto no Atlético de Madrid (Diego Costa, por exemplo) como na selecção francesa (Olivier Giroud), o francês beneficiou sempre de uma referência mais fixa entre os centrais, permitindo-lhe maior mobilidade e soltando-o de marcações mais físicas e individuais.
No entanto, não seria a primeira vez que o Barcelona jogaria com três avançados móveis e pouco dados a duelos físicos. Para além disso, a idade (32 anos) começa a fazer-se sentir em Luis Suárez, e o rendimento do uruguaio tem descido progressivamente. Apesar da excelente relação que mantém com Messi, este poderá ser o timing certo para assegurar a sucessão de um avançado com uma longa história de sucesso no clube (177 golos e 96 assistências em 247 jogos, com 15 troféus conquistados ao longo de 5 temporadas), substituindo-o por um outro jogador de classe mundial.
A utilização de Griezmann como “9” abriria, novamente, um provável “buraco” na esquerda do ataque “blaugrana“. No entanto, esta ideia pode não ser assim tão descabida. Isto porque…
O regresso de um velho conhecido
… Antoine Griezmann pode não ser a única estrela mundial a chegar a Barcelona neste Verão. Após uma saída chocante e com alguma polémica à mistura, há duas épocas atrás, Neymar está interessado em regressar a Camp Nou. O craque brasileiro, de 27 anos, dominou com relativa facilidade a competição na Ligue 1 em termos individuais, mas é complicado afirmar que o seu principal objectivo com a mudança para Paris – a conquista da Bola de Ouro – está até mais próximo agora do que estava quando Neymar jogava em Barcelona. Fustigado por diversas lesões (a última retirou-lhe a possibilidade de conquistar a Copa América pelo Brasil, a actuar em casa, situação semelhante à que ocorreu no Mundial de 2014) e visivelmente abalado pelos escândalos extra-futebol, o brasileiro já praticamente assumiu em público a intenção de sair do PSG e de regressar ao clube que o acolheu na sua primeira aventura europeia, aos 21 anos.
Sendo certo que um eventual retorno do brasileiro terá sempre contornos complexos (como o envolvimento de outros jogadores do Barcelona, seguindo o caminho inverso até Paris), a intenção assumida do jogador pode representar um factor decisivo para a concretização do negócio. No entanto, tendo o PSG pago 222M€ por Neymar em 2017 – valor que ainda hoje é indiscutivelmente um recorde mundial no desporto -, certamente que os parisienses quererão reaver pelo menos parte do seu investimento em termos financeiros.
Relativamente à sua qualidade, poucas dúvidas subsistirão. Neymar seria a contratação ideal para o ataque do Barcelona, a peça final num projecto com traços megalómanos, de ataque massivo à conquista de todas as competições. O brasileiro personifica uma combinação de criatividade, visão de jogo, qualidade técnica, desequilíbrio individual, capacidade atlética e capacidade finalizadora que, nos seus melhores dias, é apenas suplantada pela qualidade do seu ex-colega em Barcelona, Lionel Messi.
Regressaria para assumir o “seu” lugar sobre o lado esquerdo do ataque, o que permitiria também o reencontro do mais letal trio que Camp Nou viu em décadas – a sociedade “MSN” – ou até mesmo a formação de um quarteto histórico, com a recente chegada de Griezmann.
Contratações de peso, num projecto megalómano que parece ser a aposta da direcção “blaugrana” para manter o clube no topo do futebol mundial.