LaLiga Legends #5 – Luís Figo (FC Barcelona/Real Madrid)

Bruno DiasNovembro 30, 20227min0

LaLiga Legends #5 – Luís Figo (FC Barcelona/Real Madrid)

Bruno DiasNovembro 30, 20227min0
Depois de lendas "blaugranas" e "merengues", a edição #5 do "LaLiga Legends" traz-nos uma figura polarizante... de Barcelona e Real Madrid.

Raros serão os casos de atletas que são, simultaneamente, figuras históricas de eternos rivais. Menos ainda o serão no contexto do futebol espanhol e da LaLiga.

Há, porém, uma excepção à regra e que é de rápida e fácil memória. Recuemos ao Verão do ano 2000. Florentino Pérez candidata-se à presidência do Real Madrid e promete aos madridistas algo que parecia impossível: Luís Figo será jogador do clube se vencer as eleições.

À data, o craque português era figura de proa do FC Barcelona – onde chegou em 1995, proveniente do Sporting – e possuía uma cláusula proibitiva de 60M€ no seu contrato com os catalães. Todos estes detalhes pareciam indicar que esta era mais uma de muitas promessas infundadas e típicas deste tipo de campanhas eleitorais. Só que Florentino cumpriu. E Figo aceitou. Estava assim consumada a maior “traição” da era moderna no futebol espanhol (toda esta história se encontra, de resto, detalhada no recente documentário “O Caso Figo: a Transferência que Mudou o Futebol“, presente na Netflix).

Este é o momento que define Figo como uma figura incontornável de ambos os clubes, para o bem e para o mal. Mas antes disso, o médio-ala que cresceu para o futebol e para a vida em Almada, concelho de Lisboa, já havia trilhado um percurso de grande valor.

Chega ao Sporting com 12 anos e faz toda a sua formação nos “leões”, onde se estreia pela equipa principal em Abril de 1990, numa vitória caseira frente ao Marítimo. No clube leonino, e apesar da sua juventude, rapidamente assume o protagonismo e transforma-se num dos principais craques de sucessivos plantéis muito talentosos para a realidade portuguesa, sendo colega de equipa de nomes como Krasimir Balakov ou Paulo Sousa (que, no espaço de poucos anos, venceria duas Champions League por Juventus e Borussia Dortmund, respectivamente).

A sua saída para campeonatos de maior nomeada surge de forma natural e, após mais um imbróglio judicial relacionado com a sua potencial saída para Itália (sim, Espanha não foi caso único), Figo ruma então a Camp Nou, no Verão de 1995.

Com a camisola “blaugrana“, salta para a ribalta do futebol europeu. O seu futebol entusiasmante e cativante torna-o num dos favoritos dos adeptos ao longo dos cinco anos em que o português representa o clube catalão, durante os quais realiza 249 jogos, com 45 golos marcados e a conquista de duas edições da LaLiga, de todos os restantes títulos nacionais e ainda da extinta Taça das Taças e da Supertaça Europeia, em 1997.

(Foto: ign.com)

Vencedor da Bola de Ouro em 2000 e do prémio para Melhor Jogador do Mundo da FIFA em 2001, o português atingiu o seu auge no virar do século, altura em que era amplamente considerado uma das caras do jogo. Curiosamente, Figo foi também o primeiro dos “Galácticos”, nome pelo qual ficou conhecida a “constelação de estrelas” que Florentino Pérez a ele tratou de juntar no Santiago Bernabéu, e que era também composta por jogadores como Zinedine Zidane ou Ronaldo.

Também na selecção portuguesa, Figo consagrou-se como o ídolo de uma geração. Com 127 jogos por Portugal (apenas superado por Cristiano Ronaldo, entretanto), formou com Rui Costa, João Vieira Pinto e vários outros bons talentos a “Geração de Ouro” do futebol português, precursora do sucesso luso em Europeus e Mundiais, e que conquistou dois Mundiais consecutivos na categoria de sub-20, em 1989 e 1991.

Foi consigo que o país desbravou terreno internacional até então praticamente desconhecido, e ajudou significativamente a trilhar o caminho para os vários talentos portugueses de topo mundial que desde então alinham nas maiores equipas e palcos do futebol.

Um ícone, dentro e fora das quatro linhas.

 

Classe e qualidade: assim jogava… Figo

O português era a classe personificada num jogador de futebol. A forma natural como se movia ao longo do relvado transmitia a sensação de que nenhum movimento era em vão, de que todos os passos e pequenos toques na bola tinham um sentido próprio. Roubar-lhe a bola era uma tarefa tão frustrante quanto hercúlea, pela forma como a controlava mesmo nas situações de maior pressão e como utilizava o próprio movimento adversário em seu benefício, rodopiando sobre si mesmo, trocando rapidamente a bola de pé para pé e transportando-a de forma imparável pelo relvado.

Partindo principalmente da ala direita, Figo era o pesadelo até do mais competente lateral que o defrontasse, pela variabilidade de recursos que possuía. Destro mas capaz de executar a um nível altíssimo com ambos os pés, recebia aberto no corredor lateral, encarava o oponente directo no 1×1 e era altamente eficiente nas suas acções. Conseguia atacar a linha de fundo através de mudanças repentinas de velocidade e de dribles precisos, ou então cortava para dentro e procurava tabelar com os colegas mais próximos, servir os avançados ou até mesmo visar a baliza adversária.

Todo este conjunto de qualidades justificam, de resto, a presença de Figo enquanto segundo jogador com mais assistências na história da LaLiga, sendo que apenas Lionel Messi conta com mais passes para golo na competição.

Em qualquer situação, os seus cruzamentos eram teleguiados, resultado da sua precisão técnica e de uma visão de jogo sobrenatural, que antecipava ao pormenor os movimentos de ruptura dos seus companheiros. Este era, de resto, um dos motivos pelos quais o português também se encarregava da marcação das bolas paradas, quer na selecção portuguesa quer em grande parte das equipas onde actuou.

A sua superior inteligência no terreno de jogo, combinada com o já referido requinte técnico, contribuíram ainda para uma transformação futebolística fantástica nos derradeiros anos da sua carreira. Figo perdeu a capacidade de mudar a velocidade do jogo que o caracterizava, mas evoluiu ainda mais ao nível da tomada de decisão e do último passe, assumindo mais um papel criativo e desequilibrando a partida de uma forma distinta.

Para além da questão técnico-táctica, há ainda a destacar o aspecto psicológico. Figo era um líder por natureza. Nem sempre vocal, liderava por exemplo, colocava o seu talento ao serviço do colectivo de forma altruísta e agigantava-se nos grandes palcos, alimentando-se da pressão inerente a esses momentos para subir o nível das suas exibições.

Um craque, na verdadeira acepção da palavra.

Entre todas as polémicas que envolvem o seu nome, uma coisa é inegável: Luís Figo foi um talento geracional e especial que passou pelos estádios da LaLiga, uma lenda de pleno direito do futebol espanhol e um futebolista que contribuiu para a alegria e o entusiasmo de milhões de fãs. Em Espanha, em Portugal e no mundo.


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