LaLiga 2022/23: Os Destaques
2022/23 foi uma época de mudanças na LaLiga. A principal competição do futebol espanhol continua a atravessar um período de transição no panorama europeu, depois das saídas de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, duas estrelas que dominaram o plano desportivo espanhol durante quase uma década. Figuras maiores de conjuntos históricos de FC Barcelona e Real Madrid, que também neste ano desportivo viram os últimos símbolos desses tempos dourados fechar um ciclo e rumar a outras paragens, havendo até mesmo quem tenha pendurado as chuteiras.
A LaLiga entra agora numa fase de novas caras, novos protagonistas e novas estrelas mediáticas. Começa a lançar as bases para uma nova era, no fundo. E em 2022/23, foram vários os jovens talentosos que começaram a agarrar o futebol espanhol “pelos colarinhos”, conquistando o seu espaço nos principais clubes e causando um impacto significativo naquilo que se desenrolou no relvado.
Por outro lado, vimos também o “renascimento” de estrelas cujo brilho se encontrava apagado ou desvanecido, e que encontraram o contexto certo para trazer à tona o seu melhor futebol, ou que voltaram à sua casa de sempre, onde se sentem mais confortáveis e felizes.
Uma época que viu o título regressar à Catalunha e a Camp Nou, pelas mãos (ou pés, neste caso) de um Barcelona renovado, com muitas caras novas e um velho conhecido catalão a comandá-las. Que abraçou com entusiasmo projectos desportivos de vários anos que, este ano, alcançaram firmemente os seus objectivos, como é o caso da Real Sociedad. Que recebeu, como sempre, as formações recém-promovidas da 2ª divisão, algumas delas sendo lufadas de ar fresco a nível colectivo e individual. E que também assistiu aos destaques mais negativos, como a luta de emblemas históricos pela sobrevivência neste escalão.
Um campeonato com diversos focos de interesse, dinâmico e entusiasmante. Assim foi a LaLiga 2022/23.
Um novo FC Barcelona: O Campeão
Na sua primeira temporada completa de regresso a Camp Nou, Xavi Hernández liderou novamente o seu clube à glória, agora a partir do banco.
Foi um Verão de muita polémica relativamente às condições financeiras do clube, mas o resultado final foi mesmo a chegada de várias peças fundamentais para o título “blaugrana“. Começando pela defesa, Jules Koundé e Andreas Christensen assumiram papéis de relevo numa equipa que esteve muito próxima de bater vários registos defensivos históricos no futebol europeu. O francês chegou como defesa central, mas foi como lateral direito que se consolidou no 11, funcionando na prática como um 3º central, numa função mais conservadora que lhe assenta na perfeição. Já o dinamarquês foi uma “pechincha”, chegado a custo zero do Chelsea. Sólido nas tarefas defensivas e plenamente identificado com o estilo de futebol que Xavi aprecia, revelou-se um parceiro de excelência para Ronald Araújo no eixo do sector defensivo.
Na outra ponta do campo, Robert Lewandowski chegou para ser a nova cara deste projecto. O polaco de 34 anos fez questão de deixar o FC Bayern para rumar a Barcelona e abraçar um novo desafio, e confirmou todos os créditos que trazia consigo, apontando 23 golos na competição. A seu lado, o brasileiro Raphinha chegou ultra-valorizado de Leeds e criou muitas dúvidas iniciais em relação ao valor pago pela sua contratação (quase 60M€), mas os seus 7 golos surgiram quase sempre em momentos fulcrais e deram pontos importantíssimos para que a equipa se sagrasse campeã.
Já no sector intermédio, Gavi e Pedri assumiram efectivamente a batuta “culé” e relevaram ser já jogadores de nível mundial, apesar da tenra idade. São os herdeiros naturais de Andrés Iniesta e do próprio Xavi e prometem assegurar o futuro. Pedri sofreu com alguns problemas físicos, mas Gavi brilhou de forma constante e demonstrou ainda capacidade para também jogar a partir de uma das alas, aspecto tremendamente valioso para melhorar a dinâmica do 4x3x3 tradicionalmente utilizado.
A saúde financeira do Barça continua a ser uma preocupação (sobretudo com o início do projecto de renovação do Camp Nou, o maior investimento da história “blaugrana“ e que os levará a jogar no estádio de Montjuic em 2023/24), mas dentro das quatro linhas há motivos suficientes para que os adeptos estejam contentes e entusiasmados com o presente e o futuro do novo campeão espanhol.
As Revelações
Mais do que uma revelação, o maior destaque da temporada espanhola tem de ser a Real Sociedad. Comandamos por Imanol Alguacil, o clube realizou uma época extraordinária na LaLiga, com um 4º lugar, 71 pontos conquistados e um apuramento mais do que merecido para a Champions League, objectivo que se tornou natural em anos recentes face ao crescimento sustentado da equipa. Nomes como Takefusa Kubo, Alexander Sørloth e Martín Zubimendi destacaram-se e lideraram um futebol agradável e altamente eficiente.
Num patamar ligeiramente abaixo, duas equipas “de autor”. Tanto o Villarreal como o Real Bétis devem muito daquilo que é a sua identidade futebolística a Quique Setién e Manuel Pellegrini, respectivamente, dois técnicos que em 2022/23 voltaram a demonstrar por que razão, por exemplo, já contam com clubes de enorme magnitude nos seus currículos. Ambas conquistaram a qualificação para as competições europeias a jogar um futebol personalizado e com gosto pela posse de bola e pela complexidade no jogo ofensivo, sendo capazes de fazer frente aos principais emblemas espanhóis com essas mesmas armas.
Por fim, de realçar ainda a prestação do Girona, que na temporada de regresso à LaLiga conseguiu fechar a competição no top 10, lançando ainda para os holofotes espanhóis nomes como Arnau Martínez, Santiago Bueno ou Valentín “Taty” Castellanos.
Formações que fazem jus à fama de bom futebol praticado um pouco por toda a Espanha.
As Desilusões
No plano mais negativo, é impossível não mencionar o Valencia CF como a principal desilusão da LaLiga 2022/23. A braços com uma enorme crise institucional e de liderança, parece já não existir possibilidade de reconciliação entre os adeptos valencianos e Peter Lim, o dono do clube. O património desportivo vai sendo delapidado época após época, e nesta temporada foi necessário recorrer a Rúben Baraja – antiga glória dos “che” – para garantir uma manutenção conquistada a ferros e nas derradeiras jornadas da competição, quando o fantasma de uma catastrófica descida já parecia bem real.
Outra das grandes desilusões da temporada foi o Sevilla, em teoria um dos mais fortes plantéis do campeonato. É verdade que voltaram a alcançar a glória europeia (com mais uma vitória na Liga Europa, a sétima em apenas 17 anos!), mas a campanha nacional foi paupérrima e levou inclusive à saída de Monchi do clube, ele que tantas vezes foi apontado como um dos principais responsáveis pelo sucesso sevilhano nos últimos anos.
Dois emblemas carregados de história e de massa humana suficientes para almejar prestações bem superiores.
Lewandowski, Vinícius, Griezmann: As Estrelas
No capítulo individual, 2022/23 trouxe consigo uma mudança de paradigma.
Foi a temporada de afirmação definitiva de Vinícius Jr. enquanto estrela de topo mundial (e de figura principal na interminável luta contra o racismo no futebol, por razões menos felizes), e foi “apenas” mais uma temporada goleadora de Lewandowski, o melhor marcador da competição na sua estreia no futebol espanhol.
Foi também a temporada de regeneração de Antoine Griezmann e Ousmane Dembélé, outrora vulgarmente apelidados de “flops” e que em 2022/23 brilharam significativamente de novo. O primeiro, de regresso à sua zona de conforto no Wanda Metropolitano, liderou a liga em assistências e recuperou a aura de classe mundial que parecia perdida. Já o segundo recuperou a sua confiança e voltou a demonstrar todo o imenso talento que possui em ambos os pés, muito graças à relação de grande empatia e carinho que parece ter com Xavi, o “obreiro” desta recuperação.
Foi ainda a temporada de revelação de jogadores como Alejandro Baldé ou Nicolas Jackson, jovens valores de enorme potencial que certamente darão cartas no futebol espanhol e mundial.
Foi, por fim, uma temporada de despedidas. Karim Benzema, um dos melhores avançados da LaLiga na era moderna, marcou o seu último golo pelo Real Madrid, antes de rumar à Arábia Saudita. O “eterno” Joaquín anunciou a sua retirada dos relvados, depois de uma carreira longa e dedicada, em grande parte, ao seu Bétis. E os capitães catalães Gerard Piqué, Jordi Alba e Sergio Busquets confirmaram definitivamente o fim de uma era dourada em Barcelona. O primeiro também anunciou a sua retirada do futebol, enquanto que Alba e Busquets parecem estar a caminho de uma “última dança” com Lionel Messi em Miami, depois do astro argentino ter anunciado a sua ida para a MLS. Finais simbólicos de uma era de glória, para os fãs de futebol de todo o mundo.
Destaques colectivos e individuais mais do que suficientes para aguçar o apetite de todos os adeptos para a próxima temporada desportiva. Se é um facto que a LaLiga já não possui o mediatismo de outros anos, é também verdade que continua a possuir um conjunto de ingredientes únicos e irrepetíveis em qualquer outro contexto. Está tudo a postos para o que promete ser uma ainda melhor LaLiga 2023/24.
- Alejandro Baldé
- Andreas Christensen
- Antoine Griezmann
- Atlético Madrid
- Cristiano Ronaldo
- Espanha
- FC Barcelona;
- Futebol
- Futebol Espanhol
- Gerard Piqué
- Girona
- Griezmann
- Joaquín
- Jordi Alba
- Jules Koundé
- Karim Benzema
- LaLiga
- Lionel Messi
- Manuel Pellegrini
- Nicolas Jackson
- Ousmane Dembelé
- Pedri
- Quiqué Setién
- Raphinha
- Real Betis
- real madrid
- Real Sociedad
- Robert Lewandowski
- Sergio Busquets
- Sevilla FC
- Valencia
- Valencia CF
- Villarreal
- Vinicius Junior
- Xavi Hernandez