La Liga: o “renascimento” do Valencia CF

Bruno DiasSetembro 16, 20217min0

La Liga: o “renascimento” do Valencia CF

Bruno DiasSetembro 16, 20217min0
Com 4 jornadas disputadas na "La Liga", o Valencia ocupa o 1º lugar e mostra que é preciso contar com os "Che" para a época 2021/22.

Nos últimos anos, o paradigma competitivo da “La Liga” tem-se alterado significativamente. Enquanto novos clubes chegam e fazem por permanecer na principal competição espanhola de futebol, outros históricos emblemas têm assumido um crescimento sustentado e passam também a almejar, de forma constante, objectivos desportivos que outrora seriam apenas esporádicos ou até mesmo fortuitos.

É o caso de equipas como o Sevilla, o Villarreal ou a Real Sociedad, no que toca a presenças europeias e até mesmo na Champions League, ou do Atlético Madrid que, sob o comando de Diego Simeone, passou a constituir-se como um crónico candidato ao título espanhol e como um “outsider” para a máxima conquista do futebol europeu de clubes.

Outros casos há, porém, em que clubes habituados à glória e ao sucesso desportivo se deixam envolver numa espiral negativa e descendente, que por sua vez os faz progressivamente perder o poderio e o estatuto que tanto custou a conquistar. E neste capítulo em específico, não há caso mais evidente em Espanha do que o Valencia.

Se é certo que o clube experienciou dias brilhantes de glória no início do século XXI, é também um facto que a realidade vivida no Mestalla desde então raramente replicou essas memórias, que já parecem encontrar-se num passado muito distante. Peter Lim – o magnata de Singapura, dono do clube – chegou a Valencia em 2014 e trouxe consigo um forte investimento na equipa (alavancado por estreitas e próximas relações com Jorge Mendes, o “todo-poderoso” empresário português), na tentativa de recuperar o futebol “che” para o topo da cadeia futebolística espanhola.

(Foto: beinsports.com)

No entanto, 7 anos volvidos, os resultados são francamente curtos e os próprios adeptos foram-se “divorciando” do clube à medida que este acumulava desilusão atrás de desilusão, em desacordo com a política desportiva aplicada (que, a dada altura, significou a venda “em saldos” de várias figuras proeminentes da equipa, tal como detalhamos há cerca de um ano) e face a um sentimento de pertença ao clube que cada vez mais se foi esfumando, numa relação entre dono e massa associativa que começou promissora mas que rapidamente azedou.

Tudo parece estar a mudar, no entanto. E o principal responsável é um dos treinadores que mais surpreendeu o futebol espanhol em tempos recentes.

 

O Valencia de José Bordalás

Depois de 5 anos claramente positivos ao comando do Getafe, José Bordalás chegou a Valencia para ser o próximo candidato a tentar mudar os destinos de uma equipa que tem aparentado não conseguir contrariar a tendência de decadência desportiva.

O técnico espanhol, de 57 anos, notabilizou-se nas últimas temporadas pela forma altamente eficaz com que fez crescer o estatuto da formação da região de Madrid, até então vista como crónica candidata à luta pela manutenção, sempre que presente no principal escalão. Mais importante que isso, fê-lo de uma forma personalizada, com uma ideia de jogo bem definida e facilmente identificável, ainda que considerada por muitos como excessivamente pragmática e até negativa e prejudicial para o jogo em si, pelo exagerado recurso à falta e a situações de puro “anti-jogo”.

A verdade é que, independentemente do estilo utilizado, Bordalás conduziu o Getafe à subida de divisão, primeiro, e a um histórico lugar na “La Liga”, depois. Pelo meio, levou ainda os “azulones” às competições europeias, marco que o clube apenas havia atingido por duas vezes na sua história, até então.

É, portanto, um treinador na mó de cima, aquele que chega ao Mestalla. Em Valencia, Bordalás tem demonstrado manter-se fiel à filosofia que o trouxe até este ponto, assente no 4x4x2 clássico habitual das suas equipas, que por sua vez serve de base para o futebol directo, rápido e vertical que já caracterizava também o seu Getafe.

No entanto, o principal benefício da sua contratação parece mesmo ser a solidez defensiva e o equilíbrio de que o técnico espanhol nunca abdica no seu futebol, e que parece ser o “ingrediente” que faltava para conferir estabilidade aos “Che“. Bordalás tem sido regularmente comparado a Diego Simeone no que toca ao estilo de jogo aplicado, sobretudo no plano defensivo, e neste Valencia versão 2021/22 já é possível destacar alguns princípios de jogo e padrões com a sua assinatura.

(Foto: marca.com)

O seu plantel, aqui, é de um nível qualitativo substancialmente superior aos que encontrou em Getafe, sendo também constituído por vários jogadores cujo talento é inquestionável, mas que não têm apresentado um rendimento condizente com as suas capacidades futebolísticas. São os casos de José Gayà, Carlos Soler ou Maxi Gómez, por exemplo. Atletas que poderão “dar o salto” para um outro patamar esta época, e aos quais se juntam ainda nomes de qualidade como Jasper Cillessen, Gabriel Paulista ou Daniel Wass, entre vários outros jogadores de um nível médio-alto para a realidade actual do clube.

Os primeiros resultados foram positivos (3 vitórias e um empate nas primeiras 4 jornadas do campeonato) e Bordalás tem aqui o contexto ideal para continuar a crescer também enquanto técnico de destaque no panorama espanhol.

 

A figura: Gonçalo Guedes

Na senda da inconsistência apontada a alguns jogadores umas linhas acima, é imperioso falar daquele que, sendo talvez o maior talento do plantel, é também um claro caso dessa mesma instabilidade exibicional: Gonçalo Guedes.

Aos 24 anos, o avançado internacional português é já um “jogador feito” e apresenta-se como aquele que melhor poderá aproveitar o modelo de jogo criado pelo novo treinador, assim consiga manter-se saudável do ponto de vista físico.

O seu potencial técnico é por demais conhecido pelos adeptos portugueses, e actuando em dupla com uma referência mais fixa na frente de ataque, pode fazer a diferença não só na forma como aproveita as segundas bolas ganhas pelo “9”, como também nos movimentos de ataque à profundidade e em momentos de contra-ataque rápido, acções onde as suas qualidades (capacidade de progressão em drible, qualidade na finalização e na meia distância, mudança de velocidade) mais sobressaem.

Resta apenas saber se conseguirá manter a boa forma deste início de temporada (2 golos e uma assistência em 4 jogos) mas, à entrada para o seu quarto ano no futebol espanhol, Guedes tem tudo para finalmente assumir o lugar de destaque que se lhe augurava enquanto o jovem muito promissor que despontou em Portugal, e o seu rendimento será crucial para o sucesso deste Valencia.


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