La Liga 2020/21: o campeão da resiliência

Bruno DiasMaio 18, 20218min0

La Liga 2020/21: o campeão da resiliência

Bruno DiasMaio 18, 20218min0
Só falta jogar uma jornada, mas ainda não há campeão na "La Liga". Analisamos aquilo que foram as épocas de Atlético e Real Madrid até aqui.

37 jornadas volvidas, Espanha ainda não sabe quem será o seu novo campeão. A mais recente jornada retirou ao FC Barcelona essa possibilidade, e restam agora apenas os dois eternos rivais da capital: Atlético de Madrid e Real Madrid. As contas são fáceis de fazer: o Atlético só precisa de vencer, ou então esperar que o Real não o faça.

Tem sido, sem dúvida, uma temporada… inusitada, no mínimo. Desde logo, porque a pandemia alterou e condicionou significativamente o desfecho de jogos, o ímpeto motivacional de clubes e até o próprio calendário competitivo. Tivemos equipas espanholas com diferenças de até 3 jogos disputados na competição, tivemos equipas constantemente desfalcadas de elementos fulcrais para o seu sucesso, tivemos um calendário apertadíssimo (como nunca antes visto), continuamos a ter os estádios vazios… enfim, a “La Liga” 2020/21 experienciou de tudo um pouco.

Tudo isto, naturalmente, tornou a irregularidade exibicional uma realidade e, consequentemente, essa irregularidade transpôs-se para os resultados obtidos. O Barcelona, por exemplo, teve um início de época horroroso, chegando mesmo a posicionar-se na metade inferior da tabela durante algumas jornadas. Recuperaria a sua forma com uma fase muito interessante de sucessivas vitórias (quase uma volta inteira de altíssimo rendimento), alavancadas pelo regresso de Lionel Messi a um nível estratosférico. O argentino é, actualmente, o melhor marcador do futebol europeu em 2021, e soma também a 9ª temporada consecutiva com pelo menos 30 golos no campeonato, um registo absurdo pela dificuldade quase utópica que constitui.

Mas nem isso chegou porque, ao contrário dos rivais de Madrid, o Barça claudicou nos momentos decisivos. Foi assim na derrota por 2-1 frente ao Real, foi assim no nulo frente ao Atlético, ambos nesta fase final da época. Aliás, em 4 jogos frente aos rivais directos, o Barça só não perdeu mesmo este último. Um registo pobre, sendo que a inesperada derrota em Camp Nou com o Celta, por 1-2, só veio confirmar aquilo que de certa forma se foi antecipando: este não seria o ano em que Ronald Koeman conduziria os catalães ao título de campeão de La Liga.

(Foto: goal.com)

Mas tudo isso é passado e, agora, restam apenas 90 minutos para definir de que lado de Madrid ficará o próximo campeão espanhol.

O campeão em título

Falar na temporada 2020/21 do Real Madrid é falar, inevitavelmente, nos contratempos físicos que Zinedine Zidane encontrou ao longo do ano. Perdeu-se já a conta ao número de lesões e/ou indisponíveis (por conta da Covid-19, por exemplo) dos “merengues“, e o clube chegou a disputar partidas em que o treinador francês mal conseguiu formar um 11 titular apenas com jogadores do plantel principal, sendo obrigado a recorrer a vários jovens da formação.

Evidentemente, todas estas baixas afectaram o rendimento do grupo e criaram um efeito de instabilidade no conjunto madrileno. Jogadores basilares e em cima dos quais assenta o rendimento da equipa, como Thibaut Courtois, Karim Benzema, Raphael Varane, Sergio Ramos, Toni Kroos ou Luka Modric, passaram várias fases da temporada afastados por conta de problemas físicos, e foi essencialmente nesses momentos que o Real cedeu pontos que, agora, poderão ser fatais para as suas ambições no campeonato.

Mas a verdade é que nem tudo se explica pelas ausências de alguns dos principais jogadores. Tal como na época passada (em que, no entanto, conseguiram conquistar o título), o Real Madrid de Zidane continua a ser uma equipa algo difícil de caracterizar. E isso acontece porque não existe uma clara identidade de jogo, contrariamente ao que tem sido possível observar noutros campeões do passado recente. A parca qualidade de jogo só é disfarçada, a espaços, pela genialidade individual de alguns jogadores, com Benzema a assumir a maioria do protagonismo, num ataque órfão de uma outra estrela de nível mundial, capaz de desequilibrar inúmeras partidas a seu favor.

E é aqui que entra, finalmente, o último factor decisivo desta temporada para o Real: o caso Hazard. O belga chegou a Madrid com expectativas altíssimas, pronto a ser o “herdeiro” da pesada herança deixada por Cristiano Ronaldo no clube. Mas quase dois anos volvidos, são já mais as lesões do que os momentos de destaque, e Hazard aproxima-se perigosamente de um epíteto que parecia impensável aquando da sua contratação: o de maior falhanço na história recente do conjunto “blanco. Resta agora saber se Zidane (ou o próximo técnico, uma vez que não parece seguro afirmar que o francês ficará no clube para lá desta temporada) conseguirá recuperar o belga para a alta competição, sendo certo que essa possibilidade parece, actualmente, uma miragem.

(Foto: managingmadrid.com)

O “campeón antecipado”

O Atlético tem aqui uma possibilidade de ouro para conquistar um título que lhe foge desde 2014. Na altura, um golo de Diego Godín carimbou uma conquista histórica, no que foi talvez o auge do Atlético enquanto grande equipa europeia. Agora, bastará uma vitória no terreno do Valladolid (ou nem isso, caso o Real não vença o Villarreal em casa) para ser campeão.

É um título que parece destinado desde bem cedo na competição. A equipa de Diego Simeone assumiu a liderança logo nas primeiras jornadas, e chegou a ter uma vantagem de pontos na casa dos dois dígitos, tendo ainda jogos em atraso relativamente aos mais directos rivais. No entanto, sucessivas “escorregadelas” rapidamente cortaram toda a diferença pontual, e o Atlético corre ainda o risco de perder um campeonato que chegou a parecer virtualmente ganho.

Para tal, muito terão contribuído dois factores: a constante alternância do técnico argentino entre o 3x5x2 e o 4x4x2, que não lhe permitiu definir claramente uma forma de jogar, ao contrário do que aconteceu noutras temporadas; e a incapacidade de retirar o melhor rendimento de João Félix. O português teve uma temporada repleta de altos e baixos e, apesar de ser claramente um elemento diferenciador no plantel, nunca pareceu cair nas boas graças do treinador. Já este, por sua vez, nunca pareceu também capaz de encaixar o criativo no 11, de forma a potenciar o seu perfil futebolístico. Uma relação de aparente incompatibilidade, que possivelmente não continuará para lá desta época.

(Foto: maisfutebol.iol.pt)

Confirmando-se a conquista do título, há porém uma clara figura individual que ficará para sempre ligada ao mesmo: Luis Suárez. No Verão passado, o uruguaio trocou o Barcelona pelo Atlético, depois do clube catalão praticamente ter assumido a sua dispensa do plantel, cedendo-o a custo zero e suportando inclusive parte do seu ordenado no seu novo clube.

Foi uma mudança com uma mensagem clara por parte do Barcelona: os dias de glória do avançado de 33 anos (na altura, agora com 34) tinham terminado, e o seu futebol já não estava ao nível daquilo que era exigido para um clube desta dimensão. Mas tal como em tantas outras ocasiões da sua carreira, Suárez fez questão de provar que os seus críticos estavam redondamente enganados. 20 golos na competição (4º melhor marcador, apenas atrás de Messi, Gerard Moreno e Benzema) e uma série de golos decisivos para o provável título “colchonero“, incluindo um dramático golo para a vitória na última jornada, frente ao Osasuna, depois do Atlético se encontrar a perder até aos 82 minutos.

Uma história de redenção e de superação que caracteriza muito daquilo que é este conjunto, e que poderá ser simbólica daquele que parece ser o mais provável campeão de Espanha em 2021.


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