A “corrida pelo título” da crónica tríade da “La Liga”

Bruno DiasMarço 14, 20216min0

A “corrida pelo título” da crónica tríade da “La Liga”

Bruno DiasMarço 14, 20216min0
Há algum tempo que a luta entre Real Madrid, FC Barcelona e Atlético Madrid pela conquista da "La Liga" não se revelava tão entusiasmante.

A temporada 2020/21 tem sido, a todos os níveis, atípica. Desde logo, por motivos mais que óbvios: a pandemia Covid-19 mudou o mundo e, consequentemente, mudou também o panorama mundial do futebol. Faz por esta altura um ano desde a última vez em que pudemos ter o privilégio de contar com adeptos nos estádios por essa Europa fora, e Espanha não foi excepção. Logicamente, isto teve também um forte impacto no denominado “factor casa” das equipas e no aspecto anímico e mental das mesmas, que se viram privadas de um elemento diferenciador e, em certos casos, preponderante para o seu sucesso.

A crónica deste artigo foca-se numa competitividade pelo título incomum quando o assunto é a “La Liga“, habitualmente dominada por Real Madrid e FC Barcelona, sendo que os catalães se têm revelado como a principal força a nível interno nos últimos anos (ou assim os títulos nos indicam). Porém, durante largos períodos desta temporada espanhola, tudo apontava para que a competitividade na luta pelo título rapidamente se esfumasse, por culpa de um terceiro elemento que começa a ser igualmente habitual nestas andanças. O Atlético Madrid chegou a contar com 11 (!!) pontos de vantagem para os seus principais rivais na 21ª jornada da prova, e a consagração chegou a parecer um mero “pró-forma”, dependente apenas de tempo, uma vez que nenhum dos adversários parecia ter a capacidade de recuperar uma desvantagem desse nível.

Só que, como tantas vezes acontece, ficou provado que no futebol nada é uma certeza absoluta, e a verdade é que o Atlético conta apenas com 2 vitórias, 3 empates e uma derrota (que surgiu de forma surpreendente, em casa, frente ao Levante) desde então.

Assim, o que parecia ser um campeonato relativamente “aborrecido” do ponto de vista da luta pelo título, ganha agora uns imprevisíveis contornos entusiasmantes.

(Foto: espn.com)

 

O caminho que falta percorrer

Entre os 3 crónicos candidatos, aquele que teoricamente possui um calendário mais acessível para as jornadas que faltam jogar parece ser o Real Madrid. Embora o “factor casa” seja agora um elemento com pouca ou nenhuma influência nos resultados de cada equipa, a verdade é que os “merengues” já só necessitam de defrontar o FC Barcelona no seu recinto, enquanto que os “culés” e o Atlético Madrid ainda se defrontarão em Camp Nou, já dentro do derradeiro mês de Maio.

No entanto, os comandados de Zinedine Zidane partem neste momento com um atraso de 6 pontos para os seus rivais da capital espanhola, sendo que apesar de levarem a melhor no confronto directo, já não se voltam a defrontar nesta edição da prova, o que torna a perseguição ao líder ainda mais complicada. Para além disso, a regularidade será chave nestas 11 jornadas finais, e esse é um conceito que não tem andado “de mão em mão” com nenhum dos 3 candidatos ao título, mas especialmente com o actual detentor do título. Se é verdade que as inúmeras baixas por lesão não têm facilitado o trabalho do francês (o Real chegou a ser obrigado a formar um banco maioritariamente composto por jogadores da formação e da sua equipa B), é igualmente verdade que a qualidade de jogo tem sido medíocre, na melhor das hipóteses, e é Karim Benzema que vai tentando atenuar individualmente as várias lacunas que a equipa madrilena apresenta.

Num cenário semelhante, mas com diferentes protagonistas, encontra-se o Atlético Madrid. A solidez defensiva é característica imutável da equipa treinada por Diego Simeone, mas o volume ofensivo deteriora-se a cada temporada que passa, a incapacidade de criar oportunidades de golo e/ou de gerir a partida em posse face a adversários de valor (bastante) inferior é notória e nem a chegada do “artilheiro” Luis Suárez parece conseguir disfarçar as lacunas que o Atlético possui com bola.

Aqui, diga-se que certamente ajudaria ter mais João Félix no 11 titular. O português está longe de ser um titular claro, e é facilmente identificável a ausência gritante de criatividade e imaginação no processo ofensivo dos “colchoneros“, elementos para os quais Félix pode contribuir de forma significativa. Com o final da época a aproximar-se, começam a “soar os alarmes” no Wanda Metropolitano, perante a possibilidade da insatisfação do português se traduzir num novo rumo (quem sabe, para a Premier League).

Já o FC Barcelona tem feito uma recuperação que se poderá até classificar como notável, do ponto de vista das expectativas geradas para a equipa nesta temporada. O clube atravessa uma fase crítica da sua história, com uma instabilidade directiva que se propagou para os adeptos e para os seus jogadores, envolvidos em várias ocasiões num enredo que incluiu até ataques a estes últimos através das redes sociais, ataques esses patrocinados… pela própria direcção do clube.

Ainda assim, e depois de uma primeira metade de época fraca, 2021 parece ter trazido ventos favoráveis para a equipa orientada por Ronald Koeman. O holandês estabilizou a equipa, trocando o tradicional 4x3x3/4x2x3x1 por um esquema de 5 defesas que protege os seus elementos mais recuados e confere liberdade aos seus atacantes para fazerem a diferença no último terço. Jogadores como Sergiño Dest, Jordi Alba ou Frenkie de Jong subiram claramente de rendimento, sendo que Koeman conseguiu ainda recuperar alguma da qualidade dos históricos Gerard Piqué e Sergio Busquets. Fora das quatro linhas, a eleição de um “novo velho” presidente, na figura de Joan Laporta, veio também unir um pouco mais os catalães de novo em torno do clube.

E claro, Lionel Messi. Depois de um Verão em que assumiu publicamente a intenção de abandonar o clube de sempre – em rota de colisão com Bartomeu, à data presidente -, o astro argentino encontra-se a realizar uma época em crescendo e, com 19 golos e 8 assistências em 24 jornadas, lidera já a liga em ambas as categorias, numa realidade que lhe é estranhamente familiar. Um “game changer” de peso, que pode perfeitamente ser o factor determinante para a conquista do título.

(Foto: en.as.com)

Se as últimas jornadas da “La Liga” seguirem a lógica do que tem sido este campeonato, é garantido que teremos disputa até final, seja esta nivelada por maior ou menor qualidade. Esperam-nos semanas de grande imprevisibilidade no futebol espanhol, pois todos os “ingredientes” estão presentes para uma recta final de competição espectacular.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS