Estará o tempo de Xavi no Barcelona perto do fim?

Ricardo LopesJaneiro 15, 20248min0

Estará o tempo de Xavi no Barcelona perto do fim?

Ricardo LopesJaneiro 15, 20248min0
Será o fim de Xavi no Barcelona? Ou ainda há espaço para o treinador campeão pelos Blaugrana se manter no cargo?

O Barcelona perdeu a edição 2023/24 da Supertaça Espanhola, por quatro bolas a uma, frente ao Real Madrid. O desafio realizou-se na Arábia Saudita, o que exibe um dos fundamentos do futebol moderno: quanto mais dinheiro, melhor. Mesmo que o El Clásico que encanta o futebol espanhol se realize em outro continente, num país onde os Direitos Humanos são sucessivamente postos em causa.

Porém, não é esse o ponto que se pretende abordar neste artigo, mas outro que gera muitas dúvidas, independentemente do clube que se apoie. Xavi Hernández é um histórico do desporto-rei, um dos melhores médios da história e um grande destaque da sua geração. O meio campo Busquets-Xavi-Iniesta é de difícil repetição. Sentiu-se desde sempre que o catalão iria terminar por ser treinador de futebol, provavelmente do Barcelona. Contudo, será que tem nível para estar num tubarão europeu? Possivelmente o jogo do passado domingo deu-nos essa resposta.

Xavi Hernández chegou ao cargo de técnico principal do Barcelona em novembro de 2021, depois de uma experiência bem-sucedida no Al Sadd, do Qatar. Ao nível interno, ganhou tudo o que tinha para ganhar no maio emblema do país do Médio Oriente, sendo que em Barcelona havia o desejo que desse seguimento a esse sucesso.

Joan Laporta gosta de estar rodeado de pessoas que conhece bem, daí (em parte) a contratação de Xavi, tal como a mais recente de Deco. Parece que não importa tanto a experiência que exista nos cargos. O antigo médio espanhol já era treinador, mas saltar do Qatar para um dos maiores emblemas do Mundo, poderia ser um passo muito arriscado para o clube e para o próprio Xavi, que podia ver a sua carreira a sofrer um grande retrocesso, em caso de falha imediata no Camp Nou.

Ao nível interno, Xavi conquistou, até ao momento, uma La Liga e uma Supertaça de Espanha, o que pode ser curto para alguns. Em termos de futebol, o Barcelona, principalmente nos últimos tempos, demonstrou pouca atitude em campo, apresentando um jogo “pobrezinho”, sem cativar e é uma situação que o timoneiro não consegue alterar durante a partida.

Ainda assim, o maior problema é o fator externo. Ninguém consegue definir o Barcelona como um candidato à Champions League. Há pelo menos quatro ou cinco equipas que são reconhecidamente superiores. Mesmo ao nível nacional, o Real Madrid é muito mais candidato à “orelhuda” que os culés, não sendo descabido colocar o Atlético de Madrid um patamar acima, mesmo que o seu desempenho na La Liga esteja em declínio.

Num estudo realizado pelo Diário Ara, relevante na Catalunha, Xavi Hernández tem pior registo de vitórias a comparar com Quique Setién, que não saiu de Campo Nou nas boas memórias dos adeptos:

«Mas os números não mentem e a equipa não é nem de perto nem de longe tão sólida como no ano passado. Ofensivamente, está ligeiramente atrás – marcou 30 golos em 16 jogos, contra 35 na época passada. O problema é defensivo, pois sofreram 18 golos, três vezes mais do que há um ano (6). De facto, fecharam a época com 20 golos sofridos no campeonato, apenas mais dois do que os que sofreram esta época. A fragilidade defensiva traduziu-se em muitos pontos perdidos. Na época passada, o saldo era de 13 vitórias, 2 empates e uma única derrota. Agora são 10 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. Os números globais de Xavi como treinador foram afetados. Tem apenas 62% de vitórias, contra 64% sob o comando de Quique Setién. Nos últimos quinze anos, desde que Guardiola assumiu o comando, a única coisa pior do que este registo é Ronald Koeman (58%)».

A queda exibicional é drástica, sem conseguir retirar o melhor de cada jogador. Elogiamos pela aposta em Lamine Yamal ou Marc Guiu, embora isso faça parte do ADN Barça (há mais jogadores que devem subir em breve, principalmente se a luta pelo título deixar de ser um objetivo), mas há que criticar Xavi por não conseguir retirar o melhor dos seus jogadores. Há dois casos interessantes: Gundogan e João Félix. O médio alemão foi um protagonista para Pep Guardiola no Manchester City, mas em Barcelona está a ser “normal” e não o destaque, com os adeptos ambicionavam. O português é inconstante e pouco esforçado no ponto defensivo, mas o técnico não o consegue mudar, quando essa deveria ser uma das suas tarefas. O Relevo abordou precisamente o tema João Félix, que causa discórdia entre Laporta/Deco e o timoneiro:

«Em desacordo com Diego Simeone no Atlético, o jogador emite o seu brilho em rajadas. E há muitos aspetos do jogo que Xavi e a sua equipa técnica pretendem e que ele ainda não assimilou, como a pressão após a derrota e a forma como interpreta a posição de extremo esquerdo e o seu perfil. Isto levou Xavi a intervir e a “castigá-lo”, logo após ter declarado “inaceitável” a primeira parte contra o Almeria: João foi uma das vítimas ao intervalo. A perspetiva é diferente para Laporta e Deco, que acreditam que o talento do viseense tem de ser visto em campo e que ele tem todas as condições para ser um dos jogadores mais decisivos da equipa. “Cancelo e Félix estão a jogar a um nível elevado desde que chegaram. O clube poderá mantê-los durante as próximas épocas”, declarou Laporta a 9 de dezembro, duas semanas antes da ira de Xavi. Deco, por seu lado, foi mais frio e comentou que não era altura de falar sobre o assunto porque a prioridade era ganhar jogos».

João Félix está a ter uma carreira intermitente, mas Xavi não insiste na sua aposta. O craque português brilha num jogo, mas no seguinte volta para o banco, o que acaba por afetar a moral de qualquer um (então no caso de João Félix a situação agrava-se, que mostra não ter o psicológico mais forte do mundo).

Estamos em janeiro e o Barcelona perdeu a Supertaça Espanhola, mas ainda está presente na Copa del Rey (encontro frente ao Unionistas de Salamanca na próxima quinta-feira) e nos oitavos de final da Champions League (duelo marcado com o Napoli). Na La Liga, o Girona está a oito pontos, com um jogo a mais (o Real Madrid está a sete, mas com o mesmo número de partidas), ocupando o Barça a quarta posição da tabela. Porém, é fácil de antever que os catalães não vão ganhar nada. Não irá chegar mais nenhum reforço e o futebol do Barcelona não é estável e tem vindo a piorar. Quando o técnico adversário tem qualidade, Xavi tem poucas hipóteses. Carlo Ancelotti mostrou precisamente isso na Arábia Saudita:

«O Real Madrid venceu a Supertaça de Espanha na Arábia Saudita. É um resultado miserável para Xavi e para o Barcelona, que terá agora de fazer um sério exame de consciência. Jude Bellingham conquistou o seu primeiro troféu como jogador do Real Madrid. O jogo deveria ter sido renhido, mas foi muito diferente, numa partida que deixa Xavi agarrado ao seu lugar como treinador do Barcelona. Vinícius foi a estrela do espetáculo com três golos na primeira parte. Os defesas do Barça, nomeadamente Ronald Araújo, vão ter pesadelos nas próximas semanas», escreveu o Daily Mail logo a seguir ao desafio.

O Barcelona terá mesmo que refletir o futuro da sua equipa técnica. No entanto, creio que seja errado Xavi sair a meio da temporada. Não há no mercado um treinador livre com o ADN que os catalães necessitem, além de que 2023/24 não está perdido, na teoria. Porém, caso o que falta corra mal, Joan Laporta deverá ter que apostar num novo nome. Rafa Márquez agrada e obedece à norma de ser da confiança do presidente. Ainda assim, essa norma deixa de fazer sentido depois de se concluir que Xavi falhou. É necessário alguém mais preparado e com experiência. Roberto De Zerbi, Míchel ou Javier García Pimienta parecem ser os candidatos que encaixam melhor, apostando na formação e deixando sair alguns elementos sair, devido à questão salarial.

Xavi está longe de ser Guardiola, algo que Laporta acho que o antigo médio seria. Pode vir a ser um bom treinador, mas terá que ter margem para falhar, tomar decisões erradas. No Barcelona não existe esse tempo. Ou acertas, ou sais e Xavi está cada vez mais perto da porta dos fundos.


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