De Bilbao com amor: o Athletic de Valverde na LaLiga

Bruno DiasOutubro 30, 20226min0

De Bilbao com amor: o Athletic de Valverde na LaLiga

Bruno DiasOutubro 30, 20226min0
No País Basco, Ernesto Valverde volta a realizar um excelente trabalho no futebol espanhol, desta vez ao leme de um histórico da LaLiga.

Quando pensamos em equipas icónicas na LaLiga, não há como fugir ao Athletic Bilbao. Os bascos, fundados em 1898, são uma presença incontornável na principal competição do futebol espanhol, e para além da sua longevidade entre a elite, caracterizam-se pela energia pura e tradicional com que continuam a encarar o desporto.

No principal clube do País Basco, apenas actuam jogadores nascidos e/ou com fortes ligações à região, numa prova cabal de como o futebol, a cultura e a história mantêm uma conexão inseparável e inquebrável. Essa mesma história, de resto, mostra-nos que o Athletic sempre foi capaz de representar dignamente as suas gentes, os seus adeptos, mesmo com as limitações que uma restrição regional deste género naturalmente impõe à competitividade do clube no futebol moderno.

Após o término da temporada 2021/22, houve troca de treinador no San Mamés, a casa habitual dos “leones“. Marcelino Toral abandonou o cargo após a realização de eleições no clube, ele que falhou a qualificação para as competições europeias mesmo na recta final do campeonato, terminando na posição, com 55 pontos. Para o seu lugar, chegou uma cara bem conhecida.

Aos 58 anos, Ernesto Valverde aceitou assumir o lugar de treinador do Athletic pela terceira vez na sua carreira. O técnico espanhol, que começou o seu percurso como treinador em Bilbao (em 2003), traz consigo comprovada experiência e competência a este nível, e as suas equipas pautam-se frequentemente pela estabilidade e pela coesão em todos os momentos do jogo.

Na apresentação, foi de imediato ambicioso e claro: o objectivo é devolver o Athletic aos palcos europeus, e isso implica superar a temporada transacta. Para tal, e como já é apanágio do clube, a aposta recaiu na manutenção dos seus principais jogadores e num único regresso: Ander Herrera deixou Paris e o PSG para regressar ao clube onde se lançou para a alta-roda do futebol europeu.

Com um plantel talentoso e com margem de progressão, Valverde tem agora a oportunidade de continuar a escrever páginas bonitas na história da sua relação com o Athletic.

(Foto: athletic-club.eus)

 

O futebol do Athletic

Valverde dispõe normalmente as suas equipas num 4x2x3x1, sistema que lhe permite manter o equilíbrio e a capacidade de adaptação em todas as fases do jogo.

Na baliza, Unai Simón é dono e senhor das redes, não só do clube basco como também da selecção espanhola. Aos 25 anos, assume-se como uma presença dominante entre as redes e no 1×1. O salto para os grandes clubes europeus deverá estar no seu horizonte mas, enquanto isso não acontece, vai deixando a sua marca nos relvados da LaLiga.

À sua frente, Iñigo Martínez comanda as operações no quarteto defensivo. Cotado de forma consensual como um dos melhores centrais do campeonato, Iñigo garante segurança e solidez nos duelos individuais e nas batalhas aéreas, e é também o primeiro protagonista da construção basca devido à sua visão de jogo e capacidade no passe, tanto curto como mais longo. A seu lado, Yeray Álvarez complementa-o e completa uma linha defensiva que conta ainda, normalmente, com o lateral Óscar de Marcos pela direita e com o experiente defesa Yuri Berchiche pela esquerda.

No meio-campo, um duplo-pivot habitualmente composto por Mikel Vesga (num papel mais defensivo e posicional) e Oihan Sancet (recuado no terreno por Valverde e de características mais ofensivas) sustenta os quatro elementos mais atacantes e tem como objectivo primordial assegurar que a equipa não se desequilibra quando perde a bola. É de notar aqui que este equilíbrio é especialmente difícil de atingir neste modelo de jogo de Valverde, que foi capaz de pegar nas bases do trabalho que havia sido feito por Marcelino e procurou implementar uma pressão mais alta e arrojada, que força a linha média a subir no terreno para se aproximar dos avançados no momento da reacção à perda, tornando esta intenção de roubar a bola no meio-campo adversário numa ideia mais compacta, colectiva e sustentável.

Mas é no ataque que está o grande potencial desta equipa, assente em dois pilares familiares (literalmente!) do clube. Nico Williams e Iñaki Williams são já as principais figuras dos “leones e deles depende, em grande parte, a produção ofensiva do Athletic.

Nico, o irmão mais novo (mas, discutivelmente, o mais talentoso), parte normalmente da direita para encarar os adversários directos no 1×1 e criar desequilíbrios, seja através da iniciativa individual, seja na forma como assiste os seus companheiros e, especificamente, o seu irmão mais velho.

Iñaki, já numa fase mais adiantada da sua carreira, estabilizou posicionalmente na zona central do ataque e transformou-se progressivamente num avançado completo e bastante capaz em várias acções do jogo. Sagaz na forma como se movimenta na área contrária, oferece soluções na ligação entre os sectores mais recuados e o ataque e mantém-se como uma ameaça fortíssima nos momentos de transição ofensiva, altura em que a sua velocidade estonteante marca a diferença.

Por fim, à esquerda, Álex Berenguer é um extremo menos criativo mas vertical, com chegada à área e com múltiplos recursos na finalização. Um trio de perfis distintos mas que “casam” bem entre si, bem suportados ainda pelos históricos Iker Muniain ou Raúl Garcia, elementos veteranos na competição e que normalmente ocupam a posição atrás do avançado, acrescentando diversas outras valências ao futebol dos bascos.

Recursos variados e de grande valor para competir “olhos nos olhos” contra qualquer oponente.

(Foto: espn.com)

Actualmente na luta pela qualificação para as competições europeias, o Athletic é um clube romântico, de culto, vindo de outros tempos. A par de Real Madrid e Barcelona, é um dos três clubes que nunca desceu na LaLiga. E agora, luta por manter o estatuto de único clube umbilicalmente ligado às suas raízes, onde o regionalismo ainda vive de forma pujante.


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