Análise ao novo paradigma da rivalidade nas Astúrias pt.2

Ricardo LopesJaneiro 5, 20237min0

Análise ao novo paradigma da rivalidade nas Astúrias pt.2

Ricardo LopesJaneiro 5, 20237min0
O Sp. Gijón e o Real Oviedo estão a ser alvo de um investimento de larga escala, mas o que se sabe dos investidores destes clubes das Astúrias?

Depois na parte 1 termos olhado para o como se deu a aquisição do Sp. Gijón e Real Oviedo pelos grupos Pachuca e Orlegi, é altura de perceber em que situação estão na temporada actual destes emblemas das Astúrias e que objectivos estão delineados para o futuro. 

Para 2022/23, o Grupo Pachuca não alterou a política de contratações, mantendo a qualidade da equipa e ideia de um projeto a longo prazo. Optou-se por escolher um elemento com vários anos de experiência na segunda divisão para ser o técnico. Jon Pérez Bolo tornou-se num histórico do SD Ponferradina, equipa do Bierzo que já contou com José Gomes durante esta temporada. Aparentava ser o homem ideal para um projeto a longo prazo que levasse a uma possível subida de divisão. A equipa montada tem qualidade, pelo menos para a luta pelos 10 primeiros lugares contando com Montoro, Tarín, Braat, Lucas Ahijado, Sangalli, Koba Lein Rama, Marcelo Flores, Borja Bastón ou Sergi Enrich. Não são nomes que associem o clube a uma luta pela permanência.

Bolo falhou com estrondo, deixando a equipa em Outubro, com somente 2 vitórias em 11 jogos. O diretor desportivo Tito, saiu com ele, sendo sucedido por Roberto Suárez, secretário técnico. É certo que maus começos podem ter resultados desastrosos, no entanto sendo este campeonato um dos mais equilibrados do Mundo, com uma boa substituição de técnico, a distância para o topo era (e é) recuperável. Álvaro Cervera, histórico do Cádiz CF foi o escolhido, tendo subido o nível da equipa, baseada nos seus princípios- contra-ataque, pouco espaço ao adversário próximo da baliza e segurança defensiva. A equipa não marca muito, mas sofre ainda menos, o que permite a Cervera ter 6 vitórias em 11 jogos, estando a 5 pontos do play-off, em 13º lugar.

Já o Grupo Orlegi deu a oportunidade de Abelardo se manter à frente do cargo para 2022/23, uma decisão com sentido já que é um histórico do clube, como jogador e como treinador. Além disso, é muito acarinhado pelos adeptos, podendo o seu despedimento fazê-los “torcer o nariz”. Tendo presente a ideia de que não existe o objetivo de subida (para já), a equipa de Gijón tem bons elementos, muitos deles oriundos da formação: Izquierdoz, Gragera, Guille Rosas, Pedro Diaz, Otero, Cristo ou Djuka. Não sendo superior à do rival (estão as duas mais ou menos ao mesmo nível- a luta pelo top 10, quiçá uma surpresa por algo mais), mostra melhor qualidade a lançar jogadores, o que poderá significar um menor investimento no plantel no futuro.

A Academia do clube sempre fora conhecida por lançar produtos de qualidade, não é uma novidade que o Grupo Orlegi irá trazer. Há jogadores inclusivamente com qualidade para atuar em algum “Grande” do futebol português. Guille Rosas é superior a qualquer lateral direito do FC Porto e Djuka um enorme suplente em Alvalade, pelo seu passado nas últimas temporadas (este ano tem estado um pouco abaixo). Abelardo conta com 8 vitórias em 23 jogos, estando no 14º lugar, com os mesmos pontos do rival.

O balanço de transferências é positivo para os dois lados: 2,35 milhões de euros para o Sporting de Gijón, 300 mil euros para o Real Oviedo. Existem jogadores mexicanos nas duas equipas. Pelo lado azul Daniel Aceves (emprestado pelo Pachuca) e Marcelo Flores (emprestado pelo Arsenal). Pelos vermelhos e brancos joga Jordan Castillo, cedido pelo Santos Laguna). A presença de jogadores desta nacionalidade parece algo óbvio, com o objetivo de os desenvolver e integrar no futebol europeu. Se já pertencerem ao grupo, tanto melhor. O intercâmbio inverso também existe, sendo Jorge Meré a maior menção. Depois de passar pelo FC Koln, o jogador formado em Gijón atua pelo Mazatlán FC, por empréstimo do CF América.

O 1º Dérbi Asturiano com lideranças mexicanas

Existia uma certa expectativa para este jogo (realizado a 17 de Dezembro). Não estando as equipas a realizar um campeonato maravilhoso, era curioso analisar como seria o primeiro confronto em território espanhol entre os novos donos. Taticamente a partida não apresentou grandes novidades. O Oviedo com o seu 4x4x2 tão clássico de Cervera e o 4x2x3x1 de Abelardo a marcar o Sporting de Gijón. Mesmo com a partida a ser realizada no Carlos Tartiere, foram os visitantes que tomaram a iniciativa a maioria do tempo, porém sem grandes ocasiões. Não foi um jogo fantástico de assistir. Ainda assim, Cervera com a sua segurança defensiva conseguiu travar o rival e dominar, a espaços, o jogo. A partida foi resolvida pelo capitão Borja Bastón, da marca da grande penalidade, após Koba Lein ter sido derrubado por Izquierdoz. Não é de admirar que se considere este resultado injusto, no entanto foram os da capital que levaram a melhor. Uma vitória contra o maior rival será sempre um grande reforço de confiança para qualquer equipa, no entanto no duelo empresarial esta tem igualmente importância.

Pachuca vs Orlegi – rivalidade antiga

Não é de hoje que estes grupos se enfrentam. Além de possuírem equipas que atuam na Liga Mexicana, existem diligências noutras áreas. Irarragorri e Martínez disputaram em 2017 os direitos de transmissão dos jogos da Seleção Mexicana. Em 2020 novamente tomaram partidos diferentes quando se discutiu a ideia de terminar com as despromoções no campeonato mexicano. A violência nos jogos entre equipas dos dois grupos tornou-se uma marca, com equipas a chegarem às finais de Apertura e Clausura, acirrando esta disputa. No Apertura de 2021 e no Clausura de 2022, o Atlas impôs-se ao Leon e ao Pachuca, mostrando alguma vantagem nos pertencentes ao Grupo Orlegi.

Neste momento as equipas detidas pelos grupos são:

Grupo Pachuca

o Real Oviedo (Espanha;
o Atlético Atenas (Uruguai);
o Léon (México);
o Pachuca (México);
o Coyotes de Tlaxcala (México);
o Everton de Viña del Mar (Chile).

Grupo Orlegi

o Sporting de Gijón (Espanha)
o Atlas (México)
o Santos Laguna (México.

Um futebol dividido em grupos

Cada vez mais assistimos à presença de grupos empresariais no mundo do futebol, que juntam clubes de todos os lados do mundo. Os mais falados são o Grupo City e o Red Bull, ainda que existam muitos outros. O Orlegi e o Pachuca entraram no futebol espanhol, com projetos conscientes e objetivos claros.

Não houve uma entrada repentina de capital para transferências, mas existe a ideia de quererem resultados no futuro, o que traz segurança aos adeptos, que já assistiram a muitos encerramentos de equipas devido à entrada de empresários inconscientes em suas SAD’s. Ao ver a profundidade dos projetos (do lado dos da capital com o envolvimento da cidade, do lado dos da cidade costeira com a criação de um grupo com ideias parecidas com as trabalhadas por Ralf Rangnick, na sua época de RB), deverá existir muita expectativa sobre o que acontecerá futuramente.

A questão que se deixa é a seguinte: será que se uma delas conseguir a subida, a outra fará all-in? Já percebemos que estes dois grupos são rivais e protagonistas do futebol do seu país, algo que será altamente complexo de atingir no futebol espanhol. No entanto não deixa de ser positiva a crença e aposta no futebol asturiano, região tão rica do nosso país vizinho.

Foto de Destaque da La Voz de Asturias


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