Tá na Placar
Os diários desportivos no Brasil não tiveram (ou têm) o protagonismo na imprensa como em Portugal com “A Bola”, “O Jogo” e “Record”. No Rio de Janeiro, o “Jornal dos Sports” marcou época, enquanto que em São Paulo, “A Gazeta Esportiva” influenciou gerações. Mais recentemente, o diário “Lance!” fez bastante sucesso. Em linhas gerais, estes periódicos foram grandes escolas para o jornalismo desportivo e das suas redacções surgiram grandes referências. Mas, no Brasil, nada se compara ao sucesso da revista “Placar”.
Criada no início de 1970 pelo “Grupo Abril”, a revista propunha maior profissionalização do futebol do Brasil. Influenciou bastante para o desenvolvimento de um campeonato nacional, o que aconteceu em 1971. De periodicidade semanal e circulação nacional, tratava da modalidade em todo o país e ganhou bastante força ao acompanhar o êxito da Canarinha no Mundial FIFA do México, ao mesmo tempo que o atual “Brasileirão” consolidava-se como o principal torneio de futebol nacional.
Bastante influente, a “Placar” publicou em 1982 uma investigação sobre a manipulação de resultados na “Loteria Esportiva” (espécie de “Totobola”), que acabou com a credibilidade deste tipo de aposta. Eram muito comuns os “tabelões” dos diversos campeonatos estaduais do Brasil e os internacionais. Em dezembro os miúdos corriam às bancas e agências para adquirirem o “Almanaque do Futebol do Brasil”, com fotos oficiais de todos os campeões estaduais e o vencedor nacional daquele ano. O quarto deste colunista, por exemplo, era repleto deles. A grande festa de premiação dos futebolistas brasileiros da temporada era promovida pela “Placar”, sob o nome de “Bola de Prata”. O prémio existe até hoje, realizado em conjunto com os canal de televisão por assinatura ESPN.
Nos anos 1990 passou a ter uma nova linguagem para aproximar-se de um novo público, sob o lema: “Futebol, Sexo e Rock’n Roll”. Anos mais tarde, a fim de se adequar às mudanças nos hábitos dos leitores e no crescimento da internet, a revista volta ao formato original e lançada semanalmente. Isso dura poucos anos. Volta a circulação mensal com um conteúdo atemporal, profundo e exclusivo, uma vez que com actualmente, com as redes sociais e a internet, muitas informações são efémeras e superficiais.
Com tudo isso, falar da “Placar” é vincular-se à história da modalidade no Brasil, e de um grande serviço que ela prestou a unir o país em tempos que muito pouco se conhecia do futebol como era jogado em diversas partes do território brasileiro. Com o desenvolvimento das comunicações, a proposta original da revista perdeu força, mas hoje em dia o papel que ela é capaz de fazer é outro: pensar o desporto-rei a fim de crescê-lo e desenvolvê-lo.