Por que Neymar Júnior não é unanimidade no Brasil?
São Paulo, janeiro de 2008. Na Copinha, o Santos escala um miúdo de apenas 15 anos. É a estreia de Neymar, um dos jogadores que se tornaria alguns anos depois o mais amado e ao mesmo tempo odiado pela torcida brasileira.
Dono de técnica refinadíssima, o miúdo logo foi alçado ao time principal e sua qualidade futebolística chamou a atenção do futebol europeu. No Santos, onde jogou de 2009 a 2013, ajudou na conquista de três Paulistas, uma Copa do Brasil e uma Libertadores. Em seguida, numa das maiores transações financeiras do futebol mundial, foi para o Barcelona jogar ao lado de Messi. E alguns anos depois, por iniciativa própria, Neymar trocou a Espanha pela França, onde atua no Paris St German desde 2017.
Na Seleção, o “menino Ney” estreou em 2010, em partida contra os Estados Unidos, na qual marcou seu primeiro gol com a camisa canarinha. De lá para cá, Neymar se tornou o segundo maior artilheiro do Brasil, apenas dois gols atrás de Pelé. Neymar já ultrapassou nomes de peso, como Zico, Rivaldo, Romário e Ronaldo Fenômeno.
Com um currículo desses, seria fácil afirmar que o craque é um dos maiores ídolos do país e muito querido por todos, certo? A resposta não é tão simples assim. Ao longo de sua carreira, Neymar protagonizou muitas polêmicas, dentro e fora do campo. Por essas e outras, grande parte da torcida brasileira torce o nariz quando ouve seu nome. Neymar divide opiniões entre a claque e há quem diga que a Seleção ficará melhor sem sua presença. A recente contusão que o tirou da primeira fase do Mundial de Futebol do Qatar 2022 chegou a ser comemorada por parte da torcida. A pergunta é – por que isso acontece?
Polêmicas e mais polêmicas
A resposta não é simples, mas também não é complexa. Ao mesmo tempo em que cria jogadas geniais dentro do relvado, fora das quatro linhas Neymar acumula situações problemáticas. A primeira delas foi no relvado mesmo, num jogo entre Santos e Atlético GO. O treinador do Santos, Dorival Júnior, discutiu de modo ríspido com Neymar e René Simões, treinador do adversário, disse à imprensa que um menino não poderia falar assim com seu técnico. Ele usou a frase “estamos a criar um monstro, e algo precisa ser feito”. A repercussão foi muito grande, mas era só o começo…
A segunda polêmica foi nos bastidores: a transferência de Neymar para o Barcelona por muitos anos foi motivo de investigação por parte das autoridades financeiras. A transferência ocorreu em 2013, mas o caso só encerrou-se neste ano, quando a Promotoria Espanhola retirou as acusações de fraude. Apesar da inocência no caso, as investigações causaram imenso desgaste na imagem do atleta.
Outras polêmicas sempre permearam a vida do craque. Seu namoro com a atriz e modelo Bruna Marquezine, que teve várias idas e vindas, também contribuiu para seu desgaste junto à claque canarinha. Muitos ficaram ao lado da atriz após o rompimento e à verdadeira “batalha” que eles travam nas redes sociais, tomando lados opostos com relação a temas variados, como eliminações no programa televisivo Big Brother Brasil e preferências políticas nas últimas eleições.
Ainda com relação à vida pessoal, mais duas polêmicas envolvem a conturbada carreira de Neymar Júnior. Uma denúncia de estupro em 2019, na qual uma modelo acusava o jogador de forçá-la a ter relações sexuais, foi arquivada pela Polícia Civil de São Paulo. Mais uma vez, a inocência do craque não impediu o desgaste que a situação causou. Outro caso foi a acusação de assédio sexual por parte de uma funcionária de uma multinacional de equipamentos esportivos. A repercussão negativa encerrou prematuramente o contrato do jogador com a empresa, que ia até 2030.
Pra piorar a imagem do atleta, em 2019 ele se afastou dos gramados por uma contusão no tornozelo. Apesar disso, apareceu em várias imagens do Carnaval brasileiro, tanto em Salvador como no Rio de Janeiro. E em dezembro de 2020, em plena pandemia e com orientações das autoridades de saúde para evitar aglomerações, Neymar promoveu uma festa para 500 convidados em Mangaratiba, no litoral carioca.
Nas quatro linhas, mais problemas
Dentro do campo, o desgaste de sua imagem continua. Em 2010, no início de sua carreira, chamou o árbitro Sandro Meira Ricci de “ladrão” com todas as letras. Dez anos depois, já a atuar pelo PSG, xingou novamente um árbitro ao levar um cartão amarelo.
Na Copa de 2018, Neymar ganhou fama de “cai-cai”. Por ser muito atacado pelos adversários, o craque sofreu muitas faltas e muitas delas o levaram ao relvado. Os árbitros não consideraram estas entradas como faltosas e deixaram o jogo correr. Por conta disso, a fama se espalhou não só no Brasil mas no mundo todo. Suas quedas viraram memes e chacotas.
Como se tudo isso não bastasse, Neymar também agrediu um torcedor quando estava a receber a medalha de vice-campeão da Copa da França em 2019. Na partida em que o PSG venceu o Dijon por 8-0, Neymar impediu que Cavani marcasse o quarto gol de penálti e conquistasse o simbólico título de maior goleador da história da equipa francesa.
A “cereja do bolo” do ranço contra Neymar foi a sua preferência política nas últimas eleições presidenciais no Brasil. Como se sabe, o país está polarizado e Neymar posicionou-se claramente a favor de um dos candidatos. Com isso, a metade do país que elegeu o novo presidente automaticamente colocou-se contra ele. Isso inclui torcedores, imprensa, ex-jogadores e público em geral. É notória a má vontade de alguns jornalistas com relação a Neymar por conta de suas posições políticas.
O alento que vem de fora do Brasil
Por outro lado, fora do país, a impressão é de que todos amam Neymar. As crianças francesas e japonesas o adoram, e nos EUA ele está presente no famoso museu de cera Madame Tussauds. Na Copa de 2018, o artista brasileiro Marcos Marin fez uma estátua de seu rosto com três metros de altura. A obra ficou em exposição no Hotel George V, em Paris.
Indiferente ou não a tudo isso, o craque Neymar ainda busca dois objetivos em sua carreira – ganhar a Champions League com a camisa do time francês, e ser campeão do mundo com a camisa canarinha. Futebol pra isso ele tem de sobra, e não é exagero afirmar que dentro das quatro linhas Neymar já superou nomes bem consagrados do futebol brasileiro.
Voe, Neymar. Foque na bola e traga o Mundial pra nós. E deixe as críticas para os ressentidos. O Brasil agradece.