Palmeiras conquista o Paulista em batalha histórica contra indicada para cardíacos
No último sábado, o Palmeiras conquistou seu vigésimo terceiro título paulista, num dérbi histórico contra indicado para cardíacos. O clássico contou com a inusitada marcação correta de um pênalti no último segundo dos acréscimos do jogo, que levou a decisão para a disputa de pênaltis. Mas vamos contar a história de um jeito diferente…
A frequência cardíaca (FC) de um indivíduo adulto, em condições normais de repouso, gira em torno de 60 a 100 batimentos por minuto (bpm), a depender das características e condições físicas de cada um. O clássico que decidiu o Campeonato Paulista 2020 foi um jogo de duas mãos. Na primeira delas, um jogo modorrento e sem emoção não alterou a FC de nenhum adepto de nenhum dos dois clubes. Mas o jogo da segunda mão… foi pra travar o eletrocardiograma e deixar o cardiologista desesperado.
No primeiro tempo de jogo, algumas poucas chances a favor do Palmeiras não foram suficientes para criar arritmias em palmeirenses ou corintianos. Mas já no início da segunda etapa, aos 3 minutos de jogo (ou aos 48, para os europeus), Luiz Adriano subiu mais que o zagueiro e colocou o Palmeiras em vantagem, numa cabeçada perfeita. Palmeiras 1 x 0 Corinthians. A taquicardia começou…
Nos minutos seguintes, o Palmeiras encurralou o Corinthians em seu campo de defesa e criou mais duas oportunidades claras de gol. A sensação era de um boxeador abatido por um golpe forte, que poderia facilmente ser derrubado com uma sequência. Mas não foi o que aconteceu. O Alvinegro soube se defender e segurou o ímpeto palmeirense. A taquicardia diminuiu mas se manteve em alta enquanto o jogo seguia com amplo domínio Alviverde.
Quando o crepúsculo do jogo já se anunciava, o jogador Gustavo Scarpa perdeu duas excelentes oportunidades para garantir o título ao Verdão. Na primeira delas, num contra ataque em que o Corinthians estava sem goleiro, pois Cássio tinha ido para a área do Palmeiras para tentar um gol após cobrança de escanteio, Scarpa tocou pra ninguém, quando poderia claramente tentar o chute ao gol enquanto Cássio ainda corria para voltar à meta. Na segunda oportunidade, a poucos segundos do final da partida, não soube segurar a posse de bola por alguns momentos, deixar o relógio correr e garantir a vitória. O técnico Vanderlei Luxemburgo deu uma sonora bronca no jogador pelo erro.
E o Palmeiras pagou por ele. No derradeiro ataque do Corinthians em desespero, faltando apenas um segundo para o final da partida, o atacante Jô foi derrubado pelo zagueiro Gustavo Gomes. Era o último lance do jogo, e o árbitro marcou corretamente uma penalidade máxima para o Corinthians.
Foi nessa hora que os eletrocardiogramas de palmeirenses e corintianos definitivamente saíram do prumo. A FC subiu pra mais de 200 bpm em milhões de corações que acompanhavam a final. Jô bateu rasteiro e fez o gol. O guarda redes Weverton chegou a tocar na bola, mas não conseguiu impedir o empate corintiano. Não dava tempo pra mais nada. A decisão do título no maior clássico do Brasil foi para os pênaltis.
Patrick de Paula, o novo heroi palmeirense
Ao empatar nas condições em que empatou, dez entre dez corintianos apostavam no Timão como campeão. Aos palmeirenses, restou controlar o coração e tentar se recompor psicologicamente após sentir o título escorrer pelos dedos no último segundo da partida.
Nas cobranças de pênaltis, o Corinthians bateu primeiro. Michel Macedo bateu e o goleiro Weverton pegou. A FC e a esperança palmeirense voltaram a subir. Mas na sequência, o palmeirense Bruno Henrique bateu e Cássio defendeu. Tudo igual novamente. O segundo a bater, Danilo Avelar, colocou o Corinthians na frente. Em seguida, Raphael Veiga empatou para o Palmeiras. Logo depois, Cantillo chutou e a estrela olímpica do guarda redes Weverton brilhou novamente. Gustavo Scarpa fez o gol e colocou o Palmeiras em vantagem. O corintiano Sidclei empatou mais uma vez a disputa, e Lucas Lima também garantiu a vantagem para o Palmeiras. Jô bateu o último penalti para o Corinthians e empatou de novo. Sobrou para o garoto Patrick de Paula, 20 anos, bater o último pênalti que poderia decidir o jogo.
E ele decidiu. Uma cobrança bem feita, a meia altura do canto esquerdo do goleiro Cássio, Patrick de Paula (os adeptos do Palmeiras já o chamam de “Patrick Pogba”) garantiu o título ao Palmeiras e tirou um peso enorme da equipe alviverde, que perdera o título em casa dois anos antes, para o mesmo Corinthians e também na disputa de pênaltis, num jogo extremamente polêmico que contou com interferência externa na anulação de uma penalidade.
Patrick de Paula veio para a base do Palmeiras a partir de um torneio de futebol amador famoso no Brasil, chamado “Taça das Favelas”. Seu futebol brilhante rapidamente o levou à equipe principal, de acordo com a estratégia implantada pelo técnico Vanderlei Luxemburgo, que quer mesclar os garotos com jogadores mais experientes para montar equipas vencedoras.
Vanderlei Luxemburgo, o recordista
Com o título conquistado ontem, Vanderlei Luxemburgo obteve dois recordes: é o treinador com mais títulos paulistas no currículo, com nove taças conquistadas. Destas nove, cinco foram com a equipe alviverde, seu outro recorde. Todos os últimos cinco títulos paulistas do Verdão foram sob o comando de Luxa: 93, 94, 96, 08 e 20. A última conquista paulista do Palmeiras sem Luxemburgo foi no longínquo ano de 1976! Por essas e por outras, o “Pofexô” (apelido carinhoso de Luxa) é idolatrado nas alamedas alviverdes.
Os campeões fizeram muita festa com o treinador, que também é bastante querido pelos guerreiros do Verdão. A tradicional água gelada e o ato de jogar o treinador pro ar foi seguido à risca durante a festa do título. Os batimentos cardíacos se acalmaram, os memes invadiram as redes e a História foi desenhada mais uma vez. A campanha do Palmeiras foi irreparável: foram 8 vitórias, 6 empates e apenas duas derrotas, com o melhor ataque e a melhor defesa do certame. Parabéns ao Palmeiras, Campeão Paulista de 2020
Em tempo: destaque negativo para a festa da torcida, que invadiu as ruas na noite de São Paulo, sem respeitar as regras de segurança e isolamento social, no dia em que o Brasil atingiu a infeliz marca de cem mil óbitos pela Covid19.