Libertadores chega à reta final com tradição e peso na camisola
Boca Juniors, Palmeiras, River Plate e Santos somam 14 títulos na Libertadores. Na primeira semana do ano que se aproxima, os quatro irão lutar em busca da “glória eterna”, como a própria Conmebol batizou o certame. Quem vai ganhar o caneco? Conseguirá o Palmeiras se livrar do estigma deixado pelo Boca ao longo da História? E o Santos, retornará aos tempos áureos em que mandava na América? Os argentinos irão fazer valer a tradição de carrascos das equipas brasileiras?
A Copa Libertadores da América iniciou em 1960. A Taça de 2020, que terminará em janeiro de 2021, será a 61a edição do Torneio. Ao longo de sua história, já viu verdadeiros impérios surgirem e desmoronarem, como o Independiente de Avellaneda (ARG), que é o maior campeão do certame, com sete títulos conquistados, o último deles no longínquo ano de 1984. Depois disso, a equipa desapareceu para o futebol sul-americano.
Na cola do Independiente, o Boca Juniors segue como um implacável bicho papão da Liberta, o apelido carinhoso do campeonato. A equipe do coração de Maradona segue no encalço do “El Rojo”, com seis títulos. O Boca busca, portanto, a hegemonia do futebol sul-americano.
Assista ao Podcast Ginga Canarinha
Por outro lado o River Plate, maior rival do Boca Juniors, tem quatro conquistas na competição. Apesar disso, possui hoje o time mais forte e com o treinador mais longevo entre os quatro semifinalistas. O River está há seis anos sob o comando da mesma pessoa, o argentino Marcelo Gallardo, apelidado de “El Muñeco”. Nos tempos de jogador, ele atuou como meio campista no próprio River Plate, onde conquistou três (dois como técnico e um como jogador) dos quatro títulos da equipa.
O Santos chegou às semifinais da “Glória Eterna” com um time desacreditado. Dez entre dez brasileiros (com exceção dos adeptos santistas) apostavam no Grêmio no confronto das quartas de final. A equipa do técnico Cuca literalmente ignorou o time gaúcho, ao aplicar-lhe uma sonora goleada por 4 a 1 no jogo decisivo. Como dizemos por aqui, o Santos “corre por fora” nessa briga.
Já o Palmeiras vem pelo quinto ano consecutivo tentar seu segundo título. Com um início de ano turbulento, apesar da conquista do título paulista, o Verdão passou por troca de técnico e muita desavença com seus adeptos. Mesmo com todo esse cenário, a equipa paulista chega com força nas competições que disputa, pois além da Liberta o alviverde está a brigar pelos títulos brasileiro e da Copa do Brasil.
Como se tudo isso não bastasse, há outra questão subliminar a empolgar os adeptos do bom futebol: a rivalidade entre Brasil e Argentina. Como os chaveamentos dispuseram os confrontos entre Santos X Boca Jrs e Palmeiras X River Plate, podemos ter uma final, que será em jogo único no Maracanã, entre equipas brasileiras, entre um brasileiro e um argentino, ou mesmo um confronto argentino em terras canarinhas.
Siga a página do Fairplay no Facebook
O retrospecto é altamente favorável aos “hermanos”: em 23 partidas válidas pelas semifinais ou finais da Liberta, os argentinos somam 13 vitórias (considerando a soma das duas mãos e/ou vitória nos pênaltis) contra apenas 10 dos brasileiros. Se considerarmos as equipas envolvidas nesta semifinal com outras equipas que não estão nessa briga, o cenário se equilibra: oito vitórias argentinas contra sete brasileiras.
Mas ao considerarmos os confrontos somente entre as equipas que estão a disputar essa semifinal, o resultado é ainda mais desproporcional: são quatro triunfos argentinos contra apenas duas vitórias brasileiras. E destas quatro vitórias argentinas, três são derrotas do Palmeiras para o Boca Juniors: em 2000, 2001 e 2018 – o Palmeiras nunca venceu o Boca nestas disputas. Tenho uma ligeira impressão que os palmeirenses irão torcer pelo Santos do outro lado da chave.
O confronto entre Santos e Boca é bem mais equilibrado: foram duas partidas, uma vitória pra cada lado. A semifinal, portanto, será o tira-teima entre estas duas equipas. Entre Boca e River Plate, duas vitórias do River Plate. As duas bem recentes, com o River sob o comando de El Muñeco. Palmeiras x Santos nunca se enfrentaram em jogos decisivos por este certame.
Mas afinal, qual destes é o “time de chegada”?
Os números novamente mostram que os argentinos crescem mais que os brasileiros na hora da decisão, e o Boca Juniors é o favoritíssimo nesse quesito. Em 14 semifinais disputadas, os bosteros chegaram a 11 finais que lhes renderam seis Taças, um espantoso aproveitamento de 43%.
O Santos vem na sequência com números um pouco abaixo do Boca mas com aproveitamento melhor que o River. Há que se considerar que os números do Peixe tem um viés importante, porque a Liberta iniciou em 1960, em plena “Era Pelé”, o que puxa para cima os números do alvinegro da Vila: o Santos chegou a nove semifinais, quatro finais e três títulos (dois deles com Pelé no auge da carreira). O aproveitamento do Santos é de 33%.
O River segue com números bem parecidos. Os gallinas chegaram a 13 semifinais, sete finais e quatro títulos, com aproveitamento de 31%. Ao contrário do rival brasileiro, o alvirrubro argentino conquistou estes números nos últimos dois anos, uma Copa em 2018 e um vice campeonato em 2019.
Quem decepciona é o Palmeiras. Com um aproveitamento bem mais baixo, 14%, o Verdão chegou em sete semifinais, quatro finais e conquistou apenas uma Taça, em 1999. Curiosamente, na semifinal daquele ano enfrentou o mesmo River Plate, cujo meio campista era nada mais nada menos que “El Mañeco”, o atual técnico do River. O Verdão impôs seu jogo e passou fácil ao ganhar por 3 a 0 no jogo derradeiro, com uma exibição de gala do meia Alex.
Palpites?
Sim, não vou fugir à regra, mas antes de mais nada, vamos deixar claro uma coisa: palpite é uma coisa, torcida é outra. Meu palpite é que o Boca ganha do Santos e fatura essa Liberta, porque vai pegar o Verdão na final. Minha torcida é que o Santos incorpore a alma de Pelé e tire o Boca da competição. O Palmeiras vai fazer valer o retrospecto favorável contra o River Plate, e a final brasileira no Maracanã entrará para a história com uma vitória do alviverde, a trazer a “Glória Máxima” para a rua Palestra Itália.