Devaneios de um mundo paralelo ou “A Vida como Deveria Ser”

Marcial CortezSetembro 27, 20216min0

Devaneios de um mundo paralelo ou “A Vida como Deveria Ser”

Marcial CortezSetembro 27, 20216min0
Num mundo paralelo, a pandemia acabou, o público voltou aos estádios e o futebol feminino é a principal categoria do desporto rei em terras canarinhas. Viaje conosco nessa jornada de fantasia e realidade...

Mundo paralelo, Brasil, setembro de 2021.

Saio de casa com a camisa do Palmeiras rumo à Neoquímica Arena, o estádio do rival Corinthians. Hoje tem rodada dupla, na abertura o jogo do masculino e na seqüência a grande atração da noite, a final do Brasileirão Feminino Neoenergia 2021!

Com o fim da pandemia e a vacinação em dia, posso caminhar livremente pelas ruas e utilizo máscara somente se eu estiver com sintomas respiratórios, o que não é o caso hoje. Saio tranquilo e pego o metrô para o estádio. Quando chega o vagão do comboio, encontro com vários torcedores corintianos. Não há motivo para medo, afinal vivemos em um país civilizado e a escolha de uma equipa não justifica nenhuma cena de violência. Entro no comboio e converso com meus rivais sobre os jogos de hoje, as escalações e palpites sobre os resultados:

— E então, quem ganha? – pergunto eu aos meus rivais.

— Corinthians, lógico. Hoje é dia de Vic Albuquerque, vai ter até gol de bicicleta, você vai ver – responde um deles animadamente, enquanto me oferece uma água com gás.

— E no masculino? – insisto na conversa.

— Ah, nem sei. Não acompanho o futebol dos meninos. – ele me responde.

Nesse país paralelo, o futebol feminino é a principal categoria do desporto-rei. Meninas com 2, 3 anos de idade já ganham de seus pais uma bola de futebol e são incentivadas a dar seus primeiros toques na esfera. O país é pentacampeão mundial de futebol e tem uma das seleções mais fortes do mundo. O Corinthians é a equipa que domina o cenário, é a base da seleção, e chegou à final com muitas chances de garantir o tricampeonato brasileiro.

Devaneio Parte I – a chegada ao estádio

Arena Neoqu[
Arena Neoquímica lotada. Foto: Reprodução SCCP on line
O comboio chega à estação final e de longe já é possivel ver a imponente Neoquímica Arena, um dos estádios que foram construídos para a Copa da Fifa e é um dos mais modernos do mundo. Meu ingresso tem um QR code que  comprova a minha vacinação (sem isso não é ṕossivel entrar) e designa meu local no estádio.

Entro na arena e já começo a me dar bem. Ao meu lado, torcedores do Palmeiras conversam animados, enquanto nas fileiras de cima e de baixo a predominância é corintiana. Ou seja, é como se estivéssemos em um sanduíche, em que os palmeirenses são o recheio e os corintianos os pães. O assunto da conversa com os amigos alviverdes não poderia ser outro: a falta que Bia Zaneratto, principal jogadora do Verdão na competição, iria fazer nessa final. Bia ficou de fora porque o empréstimo junto a um clube chinês venceu e os dirigentes do outro lado do mundo não prorrogaram o contrato.

Entre os corintianos, o clima é de festa. O Timão ganhara o jogo da primeira mão, e um simples empate garante o título da época, o terceiro na vida do Alvinegro. A diretoria até criou uma camisa nova para esta partida, uma camisola de cor roxa, em alusão à paixão dos adeptos pelo clube, que utilizam muito a expressão “eu sou corintiano roxo”.

O Sol é forte e a cerveja tá gelada. Corintianos batucam músicas de incentivo ao time, e cada comboio que chega à estação traz mais milhares de torcedores para a noite de festa. A Arena começa a encher e o barulho dos cantos aumenta. A torcida do Corinthians ocupa 2/3 da Arena, enquanto algumas camisas verdes aqui e acolá (incluindo a minha) despontam no meio das arquibancadas. Os adeptos palmeirenses são poucos, mas são barulhentos.

O jogo de abertura é um dérbi masculino. O Palmeiras vem de uma seqüência de bons resultados contra o rival, mas mesmo assim os poucos adeptos que acompanham o futebol masculino estão chateados com o técnico português Abel Ferreira, duramente criticado a cada alteração que efetua no time. Particularmente, acho as críticas exageradas, mas enfim…

Por outro lado, o Corinthians vem com um técnico novo e as recentes contratações mudaram o jeito do time jogar. A torcida está contente. Começa o jogo e os torcedores ainda chegam pelos comboios lotados. Muitos não viram o primeiro gol do Timão, marcado pelo recém contratado Roger Guedes. “É a Lei do Ex”, diz um palmeirense triste ao meu lado.

Roger Guedes fez os dois gols do dérbi. Foto: Danilo Fernandes / Estadão Conteúdo

O Verdão empatou no final do primeiro tempo, quando ainda chegavam os últimos torcedores para a grande final. No segundo tempo, o mesmo Roger Guedes cravou o segundo gol e a vitória do Timão no masculino. Os torcedores palmeirenses ficaram apreensivos, mas ainda assim acreditavam numa virada do time feminino e a salvação do fim de semana.

O jogo do masculino acabou e o relvado foi molhado pelos irrigadores, enquanto eu fui até o bar para pedir uma cerveja e uns petiscos, enquanto conversava com corintianos e palmeirenses a respeito das expectativas da partida principal.

E chega a hora da Grande Final…

Ao voltar para meu lugar, as equipas já se enfileiravam para o Hino Nacional. Chegou a hora da grande decisão.

O Palmeiras começou muito bem. Pressionou o Timão em seu campo de defesa e por pouco não marcou o gol que empataria o resultado no placar agregado. Porém, o futebol tem os seus mistérios. Num contra ataque, a defesa Agustina falhou e Adriana, craque corintiana, não perdoou. Driblou a goleira alviverde e cruzou na pequena área, onde a própria Agustina acabou mandando a bola para as redes. Gol contra e Timão 1-0.

Daí pra frente, o que se viu foi um “branco” na equipa do Palmeiras. O Corinthians dominou o jogo e aos 40 min do primeiro tempo já estava 3-0 para o Alvinegro, com direito até a gol de biciclieta da Vic Albuquerque, como previra o torcedor do comboio. Os palmeirenses estavam desesperados. O estádio estava em festa. Corintianos de todas as idades estavam a cantar e a festejar o resultado parcial, mas praticamente irreversível naquele momento.

Vic Albuquerque marca de bicicleta o terceiro gol do Corinthians na final do Brasileirão Feminino Neoenergia 2021. Foto: Reprodução Sportv

Chega o segundo tempo e o equilíbrio volta a reinar. O Palmeiras acertou a marcação e voltou a criar perigo na área corintiana. Tanto fez que conseguiu marcar um gol, com um tiro de fora da área feito por Camilinha. Festa alviverde, mas já era tarde demais. O Timão administrou o resultado até o apito final e garantiu o tricampeonato brasileiro.

A mim, só restou cumprimentar os corintianos, parabenizá-los pela conquista e sair do estádio rumo à estação, para voltar pra casa. Com a certeza de que no ano que vem, o Dérbi terá um tempero a mais, pois o encontro vai ser em busca da Glória Eterna, a Libertadores Feminina 2022.


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