Copa do Brasil, 32 anos de idade e cada dia mais jovem
O clássico nacional entre Palmeiras e Grêmio irá encerrar a época de 2020 no Brasil com o desfecho da 32a Copa do Brasil, o campeonato mais democrático do país.
Segundo campeonato mais importante da nação, a Copa do Brasil garante ao campeão uma vaga na cobiçada fase de grupos da Taça Libertadores. Nesta edição, apenas o Grêmio está de olho nesta vaga, pois o Palmeiras já garantiu sua participação ao conquistar “La Copa” em 2020 e, se o Grêmio não ganhar, terá que se garantir nos jogos eliminatórios pré fase de grupos, chamada erroneamente em terras tupiniquins de “pré-Libertadores”.
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Além do título e da vaga na principal competição do continente, a Copa do Brasil também oferece um polpudo prêmio em dinheiro, mais alto até que o prêmio do Brasileirão. Enquanto o principal torneio do país oferece ao campeão algo em torno de cinco milhões de euros (33 milhões de reais), a Copa do Brasil tem um prêmio de oito milhões de euros (54 milhões de reais). Como se tudo isso não bastasse, a CB também soma pontos no ranking de clubes da CBF, atualmente liderado pelo Palmeiras.
Mas como surgiu a Copa do Brasil nas terras canarinhas? Vamos conhecer um pouco da história deste simpático torneio, que conseguiu o incrível feito de ter sempre a mesma fórmula de disputa, apenas com pequenos ajustes entre uma edição e outra.
O início
Brasil, 1989. O país se preparava para voltar a eleger diretamente o Presidente da República, após um longo período de ditadura militar. Na TV, a estreia do programa “Domingão do Faustão” numa época em que não havia TV a cabo nem internet colocava milhares de famílias em frente aos tubos televisivos para acompanhar quadros variados de pranks, video cacetadas, mulheres seminuas e cantores consagrados misturados a outros de qualidade duvidosa.
No futebol, os principais clubes tentavam se organizar no intuito de moralizar o futebol brasileiro. O Campeonato Brasileiro definhava em qualidade, a CBF tentava reatar o relacionamento com o recém criado “Clube dos Treze”, que não aceitava mais um Brasileirão inchado e desmoralizado.
Três anos antes, em 1986, o Brasileirão chegou a ter inacreditáveis 80 equipas a disputar o título. Isso fez com que o “Clube dos Treze” rompesse com a CBF e organizasse seu próprio campeonato em 1987. Em 1988, CBF e Clube dos Treze entraram em acordo e o Brasileirão teve “apenas” 24 equipas a disputar a Taça.
Mas isso despertou a ira das federações e a CBF estava pressionada. De um lado, o Clube dos Treze não aceitava mais o inchaço no campeonato. De outro, as federações estaduais reclamavam que suas equipas não teriam mais representatividade no cenário nacional e que o Clube dos Treze queria elitizar o futebol e iria acabar com o desporto rei no país.
E por incrível que pareça, a CBF acertou em cheio ao criar a “Copa do Brasil”, um campeonato paralelo ao Brasileirão, com a participação de todas as federações, em sistema de jogos eliminatórios de duas mãos em todas as fases. E como na época o Brasil tinha apenas duas vagas na Libertadores, decidiu-se que uma vaga seria do Campeão Brasileiro e outra seria do Campeão da Copa do Brasil.
A decisão agradou ao Clube dos Treze, às federações estaduais e, principalmente, aos adeptos. A Copa do Brasil foi um sucesso desde o início. Disputada por 32 equipas em jogos eliminatórios de duas mãos, trouxe uma novidade: a regra do gol qualificado, que durou até o ano de 2017. Na época atual, felizmente não se utiliza mais esta regra. O primeiro campeão do certame foi o Grêmio, que venceu o Sport nas finais.
A consolidação
Nos anos seguintes, a Copa do Brasil manteve a mesma fórmula, mas com alguns ajustes. O número de participantes aumentou consideravelmente, apesar dos critérios de classificação seguirem a mesma lógica – a posição nos Estaduais é o principal parâmetro a definir a participação de um clube no torneio. A edição atual teve 91 equipas participantes.
Mas mesmo mantendo a fórmula de jogos eliminatórios, algumas mudanças ocorreram ao longo do tempo. Por exemplo, a eliminação nas primeiras fases agora ocorre em jogo único, realizado na casa da “menor” equipa. Outra regra que mudou foi o número de golos na primeira partida: a depender da fase, se uma equipa “grande” vencer uma “pequena” na casa do pequeno por mais de dois golos, a classificação é direta e não há jogo de segunda mão.
Nos anos de 2001 a 2012, as equipas que disputavam a Libertadores não jogavam a CB, por problemas de calendário. Isso fez com que o campeonato perdesse força e interesse, além de permitir que equipas de menor expressão conquistassem o título. Santo André e Paulista de Jundiaí se beneficiaram desse regulamento quando conquistaram seus títulos em 2004 e 2005, respectivamente. Também por esse motivo, os adeptos do São Paulo justificam o fato do Tricolor nunca ter ganho a CB, por não ter disputado o certame durante os anos em que conquistaram suas glórias eternas no início do século XXI.
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A solução para “reviver” a CB foi recolocar no certame as principais equipas, que desde 2013 entram somente nas oitavas de final. Nada mais justo pra quem investiu e conseguiu atingir posição suficiente pra disputar a Liberta. Porém, nem tudo está certo com relação à Copa do Brasil. Nas atuais edições, as oitavas de final são formadas por cinco equipas que participam desde o início do torneio, e mais 11 equipas que entram direto, a saber:
- As equipas que disputam a Libertadores
- Os melhores classificados no Brasileirão
- O campeão da Copa Nordeste
- O campeão da Copa Verde
- O campeão da Série B
A Copa Nordeste e a Copa Verde são torneios regionais que envolvem equipas das regiões norte, nordeste e centro-oeste. Assim, nada mais justo que essas equipas entrem nas oitavas pra decidir a CB. Porém, o campeão da Série B entrar direto nas fases decisivas é um verdadeiro absurdo. Ora, o campeão da Série B já levou a vantagem de subir pra Série A no ano seguinte, então não podemos premiá-lo além disso. Não dá pra colocar no mesmo cesto o campeão da Libertadores e o campeão da Série B. Outro absurdo é o sorteio livre das oitavas de final, como ocorreu essa época. Até 2019, o sorteio das oitavas tinha potes separados entre as equipas da Libertadores e os demais, o que garantiu jogos melhores e mais equilibrados. Esses critérios precisam ser revistos com urgência.
Desta maneira, entre erros e acertos, chegamos à 32a final. O Cruzeiro é o maior campeão, com seis títulos, seguido pelo Grêmio, que busca a sexta Taça. O Palmeiras briga pelo tetracampeonato, o que o deixaria na condição de melhor equipa paulista a vencer a CB. E o São Paulo continua sonhando com sua primeira Taça, ao lado de Botafogo e Coritiba, outros dois campeões brasileiros que nunca conquistaram a CB.
Que vença o melhor…