Onde é que anda o Flop: Nelson Benítez, El Chino que se estampou no Dragão

Francisco IsaacFevereiro 22, 20187min0

Onde é que anda o Flop: Nelson Benítez, El Chino que se estampou no Dragão

Francisco IsaacFevereiro 22, 20187min0
Na busca incessante por novos valores na América do Sul, o FC Porto contratou alguns dos laterais mais curiosos de sempre: hoje falamos de Nelson Benítez

Vítima: Nelson Benítez; Idade: 24 (na altura que chegou ao FC Porto); Posição: Lateral-esquerdo; Data: 2008/2009; Origem: Argentina, Lanús; Culposo do crime: Aly Cissokho, Jesualdo Ferreira e Jorge Fucile; Queixa da vítima: falsas expectativas, atirado para o banco de suplentes e nunca teve uma oportunidade para se mostrar.

Depois desta intro mais policial, em que já apresentámos alguns dados sobre outro dos Flop’s do século XXI do FC Porto, ficamos a perceber que o número de argentinos a embater com velocidade contra o Estádio do Dragão foi alto. Nelson Benítez, lateral-esquerdo formado nas escolas do Lanús (uma das mais emblemáticas), chegou ao Porto rotulado de solução, mas acabou pro ser mais um que caiu nas malhas do flopismo português.

E porquê? Jesualdo Ferreira nunca foi muito fã de laterais raçudos e físicos, preferia os jogadores que adicionavam nas alas uma certa inteligência tanto com a bola nos pés ou sem ela. Benítez, ao jeito de Mareque, nunca passou de um lateral ao bom estilo da escola argentina: rápido, físico, agressivo, intenso mas pouco dotado na hora de pensar ou de saber em que ponto do campo se devia colocar para suprimir alguma compensação defensiva necessária para evitar calafrios.

Como Mareque, Benítez iria “atirar” ao lado e vai acabar por arcar com as consequências do seu futebol… suplente e, a certa altura, não convocado. Mas vamos aos antecedentes do argentino só para nos percebermos o porquê da aposta da SAD do FC Porto neste lateral.

LANÚS CIDADE DE LA RAZA

Como dissemos, Nelson Benítez foi formado nas escolas do Lanús, clube que lhe deu as primeiras oportunidades na primeira divisão de futebol da Argentina. O lateral-esquerdo, que chegou em 2002 À equipa principal com apenas 18 anos de idade, foi emprestado ao Talleres e Gimnasia de Jujuy, equipas que andavam na segunda (Primera B) e primeira divisão respectivamente. A experiência acumulada permitiu-lhe regressar ao Lanús e ser campeão pela formação dos arredores de Buenos Aires.

No Torneio de Abertura, Benitez somou 9 jogos, com um golo marcado, ficando na memória as incursões que fazia pelo lado esquerdo, com uma potência física de elevada qualidade, não virando a cara no duelo directo com os seus opositores. Bem ao estilo dos atletas que singram na Argentina, mas que depois vão ter grandes dificuldades em campeonatos que se exige outra postura, mentalidade e visão.

Ao todo, Benítez somou perto dos 40 jogos pelo Lanús, afirmando-se como uma solução de recurso de boa qualidade. Recurso? Sim, já que Benitez dividia a titularidade com Maximiliano Velázquez, outro argentino que acabou por jogar mais 8 jogos que o seu colega. Isto é, Benítez nunca foi um titular assumido e por isso ainda estava mais longe do que Lucas Mareque quando este chegou ao Dragão.

NO HAY MAREQUE PERO HAY BENITEZ

No Verão de 2008, o FC Porto de Jesualdo Ferreira foi ao mercado reforçar-se com alguns nomes que ficariam na história do clube: Hulk, Aly Cissokho (só assina em Janeiro de 2009), Fredy Guarín, Mariano González, Cristian Sapunaru, Rolando e Cristian Rodriguez. No meio destes nomes caiu Nelson Benítez, que vinha tentar substituir Marek Cech/Lucas Mareque/Ezequias (sendo que todos estes tiveram competição com Fucile, que era na sua génese um lateral direito).

Na temporada toda, Benítez só actuou em 13 jogos, um dos quais foi numa derrota muito pesada em Londres frente ao Arsenal por 4-0. Benítez nesse encontro foi dos piores atletas dos azuis-e-brancos em campo, errando passes, falhando marcações, apresentando uma terrível e imperceptível cultura de jogo táctico que facilitou a vida a Theo Walcott. A vida de Benítez não foi fácil na Invicta, já que Jesualdo Ferreira perdeu a “paciência” para educar tacticamente um jogador que era mais “selvagem” que a maioria dos seus colegas.

A estadia de Benítez no clube foi curta e, apesar de ter conquistado um Campeonato e uma Taça de Portugal, pois entrou num ritmo de empréstimos logo na temporada seguinte. Começou pelo Leixões SC, um passo ao lado da sua “casa-mãe”, bafejado como um dos melhores reforços do plantel dos Bébes. Todavia, o argentino nunca conseguiu se impor em Matosinhos e saiu em Dezembro de 2009, 4 meses após ter chegado.

A Liga NOS não estava interessada num lateral como Benítez, que auferia um salário alto para a maioria dos clubes que participavam no campeonato, com os seus erros de principiante a nível da táctica ou marcação. A fisicalidade pura e dura não era suficiente para convencer os plantéis europeus a concorrerem pelo argentino. O que fazer? Regressar a casa para servir um dos arqui-rivais do Lanús, o San Lorenzo.

Derrota por 4-0 com o Arsenal


ARGENTINA: ENTRE DESCIDAS E SUBIDAS

Ao serviço deste gigante de Buenos Aires, Benítez voltou a jogar com mais frequência, completando 14 jogos e 2 golos durante o Torneo Final. Numa palavra, Nelson Benítez convenceu. Rápido, esforçado, cheio de garra e dedicado, El Chino voltou a ganhar ganas de se afirmar no futebol. Infelizmente, a história de Benítez e o San Lorenzo terminou mal… como? Nessa primeira metade do campeonato, os Santos terminaram no 15º posto, muito longe do topo, algo que perturbou a estabilidade do plantel.

Esse mau desempenho acabou com Miguel Angel Russo na rua e o San Lorenzo sem treinador. No meio deste caos houve um técnico que aceitou o desafio: Diego Simeone. O Cholo procurava outro futebol para Los Santos que não o factor físico e de só ganas, atirando Benítez para o banco de suplentes. As lesões na coxa não ajudaram em nada o lateral, que nunca se apresentou na melhor das formas em 2010.

Regressado ao FC Porto, Nelson Benítez acordou uma rescisão de contrato e foi à sua vida, que passou por voltar, novamente, ao campeonato argentino, não ao serviço do Lanús, não ao serviço do San Lorenzo mas sim do Independiente. Não foi feliz nessa etapa, que durou entre 2011 e 2013, aceitando nesse último ano um convite de um clube que o ajudou a lançar no nível mais alto do futebol da Argentina: Talleres.

Ao serviço do maior clube de Córdoba, jogou mais mas não os salvou da descida de divisão (para 3ª) no final desse campeonato. Benítez nunca conseguiu ser um titular assumido, transitando entre o 11 e o banco de suplentes. A frescura física não era a mesma e as falhas técnicas começavam a ser um problema sério para um jogador que não apresentava grandes argumentos no papel de liderança ou táctico.

Nos últimos anos Nelson Benítez esteve no Olímpia (Paraguai), Talleres (mais feliz nesta 3ª passagem, já que conseguiram a subida da 3ª para a 1ª em 3 anos), Rafaela e, agora, no Mitre (estão na 2ª divisão). Não é de forma alguma o mesmo portento físico que chegou ao FC Porto, mas ainda apresenta a mesma garra, raça e espírito de combate.

Fica na memória um lateral altamente musculado mas pouco criativo, estupendamente agressivo mas sem qualidade técnica para singrar no futebol europeu. No Lanús conviveu com Valeri (outro Flop dos azuis-e-brancos), no FC Porto quase que se cruzou com Lucas Mareque e pouco mais há para lembrar do trintão que joga actualmente no Mitre.


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